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    Cativeiro do Hamas em Gaza é “roleta-russa”, diz refém israelense libertada

    Sharon Alony-Cunio sobreviveu 52 dias como refém com as duas filhas de 3 anos

    Eli BerlzonMichal Yaakov Itzhakida Reuters

    A israelense Sharon Alony-Cunio sobreviveu 52 dias como refém na Faixa de Gaza com suas duas filhas pequenas antes de ser libertada. Mas ela ainda teme pela vida do marido, que ainda está em cativeiro no território palestino.

    Agora que voltou para casa com as filhas gêmeas de 3 anos, Julie e Emma, ela pede que os 137 reféns restantes sejam soltos. “Cada minuto é crucial. As condições lá não são boas e os dias são intermináveis”, relatou ela à Reuters em sua primeira entrevista.

    “É uma roleta-russa. Você não sabe se amanhã de manhã eles o manterão vivo ou o matarão, só porque querem ou porque estão contra a parede”, pontuou Alony-Cunio, de 34 anos.

    Ela foi uma das 240 pessoas feitas reféns em 7 de outubro por combatentes armados do Hamas, que invadiram Israel e mataram cerca de 1.200 pessoas.

    Os combatentes que tomaram o kibutz onde Alony-Cunio morava, Nir Oz, que fica a pouco mais de um quilômetro e meio de Gaza, incendiaram sua casa e a levaram sob a mira de uma arma depois que ela saiu pela janela.

    Ela foi levada para o outro lado da fronteira com o marido, David, e uma de suas gêmeas, contou. Sua segunda filha foi mantida separadamente em Gaza por 10 dias antes de serem reunidos em cativeiro com outros 12 reféns em condições que ela disse serem difíceis, especialmente para crianças.

    “Todos deixaram de comer por elas [as meninas]. Você não sabe se à noite haverá um pita [pão], então de manhã você guarda um pouco para a noite. Tudo é muito calculado, um quarto de pita, metade de uma pita para guardar para a manhã seguinte”, relatou.

    Às vezes, eles eram alimentados com tâmaras e queijo e, em outros momentos, dividiam a carne, o arroz e as rações para seis pessoas entre os 12.

    Esperar para poder ir ao banheiro era um problema para as meninas, segundo a mãe, então elas tinham que usar uma pia e uma lixeira.

    “Às vezes, quando havia um corte de energia, eles nos deixavam abrir a porta, abriam a cortina e então nós sussurrávamos. Como é possível manter uma criança junta durante 12 horas apenas com sussurros?”, pontuou.

    O grupo de reféns em que estava foi mantido acima do solo e transferido algumas vezes, explicou, mas com as lembranças recentes e o fato de o marido ainda estar lá, Alony-Cunio relutou em dar mais detalhes sobre sua captura e o tempo em que foi refém.

    Mas uma das maiores dificuldades, segundo ela, foi simplesmente não saber o que estava sendo feito para tirá-los de lá.

    “Todos os dias havia choro, frustração e ansiedade. Quanto tempo íamos ficar lá? Será que eles se esqueceram de nós? Será que desistiram de nós?”, lembra.

    Em uma trégua de sete dias, mais de 100 reféns foram libertados. Os demais ainda estão incomunicáveis enquanto Israel bombardeia Gaza.

    Mais de 18 mil pessoas foram mortas em Gaza, de acordo com as autoridades de saúde locais, controladas pelo Hamas.

    Muitas famílias dos 137 reféns que ainda estão no território, cujos nomes e fotos em pôsteres estão espalhados pelas ruas de Israel, estão assustadas.

    “Minhas filhas estão destroçadas. Eu estou dividida sem a minha segunda metade, o amor da minha vida, o pai das minhas filhas que me perguntam todos os dias: onde está o papai?”, diz Alony-Cunio.

    David foi separado delas três dias antes de sua libertação, em 27 de novembro, antes do reinício dos combates. A prioridade máxima, segundo ela, deveria ser libertar os reféns restantes.

    “Estou apavorada com a possibilidade de receber más notícias de que ele não está mais vivo”, afirmou Alony-Cunio.

    “Não somos apenas nomes em um pôster. Somos seres humanos, de carne e osso. O pai de minhas filhas está lá, meu parceiro, e muitos outros pais, filhos, mães, irmãos.”, concluiu.

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