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    CIA alertou que havia civis segundos antes de míssil dos EUA matar 10 em Cabul

    Ataque com drone atingiu veículo que os militares norte-americanos acreditavam pertencer a um integrante do Estado Islâmico-K

    Katie Bo LillisZachary CohenNatasha Bertrandda CNN

    Logo depois que os militares americanos lançaram um míssil para deter um Corolla branco que acreditavam ser uma ameaça iminente às tropas americanas que lideravam a evacuação no aeroporto de Cabul, a CIA emitiu um alerta urgente: prováveis civis na área, incluindo possivelmente crianças dentro do veículo, de acordo com três fontes familiarizadas com a situação.

    Era tarde demais. O aviso dado em 29 de agosto veio segundos antes de o míssil atingir o carro, matando dez civis, incluindo sete crianças.

    Nas semanas seguintes, os militares insistiram que foi um ataque justificado a um alvo terrorista confirmado, reconhecendo que alguns civis podiam ter sido mortos.

    Mas, na sexta-feira (17), após semanas de cobertura da imprensa questionando a legitimidade do ataque, os militares reconheceram que ninguém no carro era afiliado ao Estado Islâmico-K.

    “Foi um erro”, disse, sem rodeios, o general Frank McKenzie, o principal general do Comando Central dos Estados Unidos, no Pentágono.

    Não está claro se os militares informaram aos órgãos de inteligência dos país que decidiram puxar o gatilho, dado que a situação estava evoluindo rapidamente. Ataques como esse, em que os comandantes em campo têm autorização para agir sem consultar a cadeia de comando, são chamados de “dinâmicos” pelos militares.

    Em alguns casos, os militares podem pedir à inteligência que designe seus drones e outros equipamentos para vigiar um determinado carro ou local.

    A comunidade de inteligência iria, então, compartilhar esses dados sobre os alvos com o Departamento de Defesa em tempo real, mas cabe ao comandante da força terrestre militar a decisão final de realizar ou não o ataque.

    Algumas fontes dizem que a falta de comunicação reforça uma decisão urgente para o governo do presidente Joe Biden, que precisa definir como serão os futuros ataques no Afeganistão sem tropas dos EUA no local: a missão deverá pertencer ao Departamento de Defesa ou à CIA?

    A CIA se recusou a comentar o episódio. O Comando Central dos EUA não respondeu ao pedido de comentários da CNN.

    Duas instituições

    Oficiais de inteligência e militares concordam unanimemente: sem as tropas dos EUA no solo, identificar o alvo correto e fazer ataques bem-sucedidos contra alvos legítimos do Estado Islâmico-K ou da Al Qaeda no Afeganistão será infinitamente mais difícil.

    Tentar dividir a missão entre duas organizações, de acordo com alguns funcionários, pode fazer com que a grave tragédia em Cabul aconteça com muito mais frequência.

    “Se eles incumbiram a agência de olhar para o alvo em busca de orientações do que fazer, eles deveriam ter a capacidade de obter essas informações e decidir se fariam o ataque”, disse Mick Mulroy, um ex-oficial da CIA e oficial do Pentágono.

    “Se não havia como saber que estavam prestes a fazer um lançamento, há realmente algo errado ali “, disse. Mulroy informou que não tinha conhecimento da informação.

    Funcionários e ex-funcionários também apontam que as vítimas civis foram uma realidade recorrente da missão dos Estados Unidos no Afeganistão. “É um resumo muito bom de toda a guerra de 20 anos”, disse uma autoridade dos EUA, referindo-se ao ataque de 29 de agosto.

    Os órgão de inteligência e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos trabalharam juntos por anos para executar ataques de contraterrorismo no Afeganistão – parte de um esforço de longa data para ampliar o controle e a transparência em torno das mortes de civis.

    Mas o fluxo de informações às vezes cai em um vácuo entre as instituições, já que a CIA e o Departamento de Defesa operam sob padrões diferentes para a execução de ataques dessa natureza.

    Alguns ex-oficiais de inteligência vão além, alegando que os ataques de drones da CIA matam muito menos civis do que os militares.

    Os números da agência, porém, não são públicos, e grupos externos que rastreiam as baixas causadas por ataques de drones dizem que os militares dos EUA subestimam o número de mortes colaterais com frequência, dificultando uma comparação precisa.

    Construindo um ataque

    Por oito horas em 29 de agosto, oficiais de inteligência rastrearam os movimentos de Zemari Ahmadi, um trabalhador de longa data de um grupo de ajuda dos EUA, com base em uma suposta conexão com o Estado Islâmico-K: Ahmadi teve uma breve interação com pessoas em um local que os militares acreditavam ser um esconderijo do grupo islâmico.

    Essa pista frágil levou os comandantes a fazerem uma interpretação equivocada dos movimentos de Ahmadi ao longo de um dia relativamente normal.

    Eles o viram colocar jarros de água na parte de trás do carro para levar para casa e acreditaram que eram explosivos.

    O que os militares insistiram que foi uma grande explosão depois que o míssil atingiu o carro – um indicativo de que havia explosivos no porta-malas –, era, provavelmente, um tanque de propano localizado atrás do veículo estacionado.

    Os comandantes não sabiam a identidade de Ahmadi quando começaram a rastrear seus movimentos.

    “Agora sabemos que não havia conexão entre Ahmadi e o Isis-K, que suas atividades naquele dia eram completamente inofensivas e em nada relacionadas com a ameaça iminente que acreditávamos enfrentar, e que Ahmadi foi uma vítima tão inocente quanto os outros que morreram tragicamente “, disse o secretário de Defesa, Lloyd Austin, em um comunicado.

    Nas semanas após o ataque, líderes militares de alto escalão defenderam o ataque e as estratégias em que se baseou. O general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, disse aos repórteres que a ação foi “justa”.

    O Pentágono insistiu que a grande explosão secundária só poderia ter sido causada por explosivos no porta-malas do carro, e que foi essa explosão a causa do alto número de vítimas civis.

    Quase tudo o que defenderam, porém, acabou se revelando falso depois.

    McKenzie negou, na sexta-feira, a ideia de que a missão foi um “fracasso total e absoluto”.

    “Este ataque em particular foi certamente um erro terrível e lamentamos por isso; também deixei bem claro que assumimos toda a responsabilidade por ele. Mas estávamos realizando uma série de operações complexas destinadas a nos defender”, afirmou.

    “Então, embora eu concorde, esse ataque foi uma exceção aos nossos padrões; eu não qualificaria toda a operação nesses termos.”

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