Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Alta na inflação de agosto afetou mais população de baixa renda, aponta Ipea

    Pesquisa prevê alta de 0,91% na inflação das faixas de renda baixa e muito baixa em agosto, puxada por aumentos nos preços dos alimentos

    Mylena Guedes*da CNN no Rio de Janeiro

    As famílias com renda mensal domiciliar até R$1.808,79 sofreram maior impacto no bolso devido à alta dos preços da alimentação. Em agosto, a inflação das faixas de renda baixa e muito baixa teve alta de 0,91%.

    Já as famílias mais ricas, com renda superior a R$17.764,49, tiveram uma variação mais amena, de 0,78%, impactada pelo grupo de transportes. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (15) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado à estrutura do Ministério da Economia.

    Apesar da queda do preço de alguns produtos importantes, como arroz (2,1%) e o feijão (1,7%), as famílias com renda baixa sofreram aumento do valor de proteínas animais, especialmente o frango (4,5%).

    Já para os mais ricos, mesmo com a queda de 10,7% no valor das passagens aéreas, a alta foi puxada por reajustes de 4,7% do etanol combinados com a alta nos preços dos automóveis novos, de 1,8%, e dos serviços de aluguel de veículos, de 6,6%.

    A pesquisadora do Ipea, Maria Andreia Parente Lameiras, explica o motivo dos impactos serem diferentes para cada grupo, apesar dos produtos terem a mesma variação para todos.

    “Tudo depende da sua cesta de consumo. Apesar de todos os itens terem a mesma variação para todas as faixas de renda, o peso muda conforme o salário mensal. Para as famílias mais pobres, por exemplo, o peso dos alimentos é muito grande, pois praticamente toda a renda é voltada para comida. A inflação na alimentação também afeta os ricos, mas eles têm uma cesta mais completa, ou seja, conseguem usar o dinheiro para mais coisas, como carro e viagens”, diz Lameiras.

    A economista e professora do Ibmec, Vivian Almeida, ressalta o prejuízo significativo na vida dos mais pobres, que necessitam fazer substituições nas compras para poder comer diante da mudança no cenário inflacionário.

    “A inflação altera diretamente a vida de todos, mas claro, dos mais pobres. A alimentação é uma parte significativa e, por isso, as pessoas precisam muitas vezes fazer o que chamamos de compressão de renda e substituir a proteína das alimentações. Um exemplo clássico é a troca do frango pela salsinha, em uma tentativa de seguir comendo proteína. Isso é péssimo para o bem-estar, a alimentação ruim pode causar danos à saúde, como problemas cardiovasculares e obesidade”, ressalta.

    A professora acredita que os gestores podem tomar medidas para tentar controlar a alta inflação do país.

    “Hoje a inflação é impactada por efeitos externos, como o clima, a crise hídrica, que vai transbordando para todos os ramos, o câmbio desvalorizado. O real está em baixa por conta da pandemia, mas também pela instabilidade política. Temos que perceber se vamos conseguir controlar esses efeitos para perceber uma redução nesses potenciais da inflação. As notícias não são das melhores, inspiram cuidados”, afirma Vivian Almeida.

    O estudo da inflação por faixa de renda tem como base o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

    Com menor intensidade, o aumento de 1,1% da energia elétrica, de 2,7% do gás encanado e de 2,4% do gás de botijão fizeram com que a habitação fosse responsável pela terceira maior contribuição à inflação de agosto para todas as faixas de renda.

    No acumulado em 12 meses, apesar da forte alta inflacionária, a taxa de 10,63% para as famílias de renda muito baixa segue em patamar acima da observada na faixa de renda alta, de 8%. Para as famílias pobres, a alta reflete as variações de 16,6% dos alimentos no domicílio, de 21,1% da energia elétrica, de 31,7% do gás de botijão e de 5,6% dos medicamentos.

    Enquanto isso, para as famílias ricas, além dos reajustes de 41,3% dos combustíveis, de 30,2% das passagens aéreas e de 12,4% dos aparelhos eletroeletrônicos, a recente recuperação dos preços dos serviços de recreação, que avançou 5,3% em agosto, explica grande parte da aceleração inflacionária.

    Comparação com 2020

    Na comparação com o mesmo período do ano passado, os dados apontam que o diferencial entre as taxas foi maior para famílias de renda mais alta. De maneira geral, as deflações em 2020 de 4,4% das mensalidades escolares e de 0,44% dos serviços de recreação são fatores que explicam o melhor desempenho dessa faixa no ano anterior.

    “É perceptível que que quando há alta inflação nos planos de saúde e planos escolares, o impacto é bem maior nas famílias ricas. Isso porque a maioria das pessoas de baixa renda estudam em colégios públicos ou tem bolsa. É a mesma coisa quando há aumento no preço do transporte urbano, que impacta muito mais as famílias pobres, já que pessoas de classe alta consumam usar o próprio carro”, diz a pesquisadora Maria Lameiras.

    No caso das famílias de renda mais baixa, a inflação mais amena em 2020 é consequência das deflações de alguns subgrupos de alimentos, como hortaliças (4,8%) e ovos (1,1%), dos itens de vestuário (0,78%), mas também dos reajustes menos intensos da energia elétrica (0,27%) e do gás de botijão (0,52%).

    *Sob supervisão de Stéfano Salles

    Tópicos