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    Busca por certificações salta após chegada de investidores no mercado financeiro

    Associações certificadoras sentiram aumento substancial na busca pelos títulos nos últimos anos

    Matheus Pradodo CNN Brasil Business São Paulo

    O número de investidores na B3 se multiplicou nos últimos anos“. Esta é provavelmente a frase mais falada durante conversas sobre o mercado financeiro, que em 2016 tinha 500 mil investidores e que passou para mais de 3,9 milhões em setembro de 2021.

    Mas outros temas essenciais para o desenvolvimento do mercado ao redor da bolsa discutem-se em menor intensidade. O papel e a eficiência do regulador, o nível de preparo dos novos investidores e se há profissionais para acompanhar esta nova demanda.

    A resposta para a terceira pergunta, inclusive, é não. Até em Wall Street, o mercado mais desenvolvido do mundo, houve falta de mão-de-obra de análise para bancos, assets e corretoras em 2021.

    “Como resultado, alguns banqueiros seniores foram forçados a arregaçar as mangas para trabalhar em processos de negociação que normalmente teriam sido relegados aos funcionários mais iniciantes, de acordo com membros do setor bancário”, escreveu o Business Insider em julho.

    Ao que tudo indica, a demanda não deve cessar tão cedo, como mostram as centenas de vagas anunciadas na internet. A assessoria de investimentos Acqua-Vero, por exemplo, tem cerca de 100 vagas em aberto.

    “Nós dobramos de tamanho a cada ano, trazendo novos clientes e absorvendo operações menores. Ao longo do tempo, fomos adicionando serviços”, diz Daniel Bonaldi, sócio da Acqua-Vero.

    Naturalmente, então, é preciso olhar como anda a certificação de novos profissionais para ocupar todo este espaço criado nos últimos anos. A começar pela obtenção dos certificados em si, já que há vários disponíveis. E os resultados são positivos.

    Boa parte das associações sentiram um aumento substancial na busca pelos títulos.

    Na Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que oferece os certificados CEA, CPA-10, CPA-20 e CGA e tem mais de 400 mil profissionais ativos, o volume de exames vem subindo desde 2016 e teve pico de mais de 16 mil provas realizadas apenas em julho de 2021.

    “Mesmo no ano passado, quando não pudemos fazer testes presenciais, cresceu a busca em todas as certificações”, diz Marcelo Billi, superintendente da área de certificação da Anbima.

    “Um outro movimento é de profissionais que já estão no mercado e agora estão buscando distinções, para ter mais possibilidades de carreira. Cresceu ainda a participação de estudantes nos exames.”

    Já a Ancord (Associação Nacional das Corretoras de Valores), que realiza o exame de certificação para agentes autônomos de investimentos, viu o número AAIs credenciados crescer de 10,9 mil em julho de 2020 para 15,7 mil em julho de 2021.

    A Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), que oferece o CFP, afirma que o contingente de planejadores certificados dobrou em cinco anos, e o número de exames anuais triplicou. Hoje o ensino técnico está se sobrepondo às graduações, em uma tendência mundial.

    “E isso só se torna possível por conta destas certificações, que dinamizam o processo”, afirma Osvaldo Cervi, diretor-executivo da Planejar.

    E finalmente a Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), que oferta o CNPI no país e teve cerca de 600 analistas credenciados durante anos, superou a barreira dos mil. Há ainda cem casas de análise com chancela da entidade.

    Desafios

    Com tanta gente querendo entrar no mercado, há expectativa de que pessoas com caminhos cada vez mais diversos busquem progredir no segmento, para além dos contabilistas, administradores, economistas e engenheiros que estamos acostumados a ver.

    Lucy Sousa, presidente da Apimec, não acha que este caminho é tão simples assim. “A régua é bem alta para pessoas com formações em outras áreas, porque os exames são duros. Precisa saber de contabilidade, valuation”, explica.

    Mas Billi argumenta, no entanto, que existe um esforço dos empregadores para tentar encontrar este perfil. “Ainda não mapeamos essa tendência nos exames, mas, conversando com RHs, vemos que existe um esforço para ter mais diversidade e inclusão em suas equipes.”

    Nessa linha, há pessoas cada vez mais jovens buscando as certificações. Dados da Ancord mostram que 13% dos AAIs certificados pela associação têm entre 18 e 25 anos, e 38% têm entre 26 e 35 anos.

    Educação

    A mudança em curso requer, entretanto, uma estrutura permanente de capacitação e reciclagem para os profissionais. “Vamos lançar um portal de educação em novembro. Entendemos que, com o tempo, a certificação vai ser uma commodity. É o pontapé inicial. A partir daí, o profissional tem um caminho longo para trilhar”, diz Cervi, da Planejar. “Ali, teremos parcerias com conteudistas e iremos construir trilhas de carreira.”

    Orlando Junior, gerente de Certificação e Credenciamento da Ancord, diz que a associação está trabalhando junto às assessorias de investimentos e corretoras para aprimorar cada vez mais as provas e implementar perguntas que tratem mais de questões práticas do dia a dia do AAI.

    Billi, da Anbima, sentencia: “Precisamos trazer pontos práticos para as certificações, e os profissionais vão ter papel cada vez mais estratégico no mercado.”

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