Colapso de mina em Maceió: Defesa Civil registra novo tremor de terra na cidade
Sismo de magnitude 0,89 foi registrado na madrugada deste sábado (2); prefeito da capital alagoana classificou a situação no município como "a maior tragédia urbana do mundo"
Um novo tremor de terra de magnitude 0,89 foi registrado a cerca de 300 metros de profundidade em Maceió, na madrugada deste sábado (2), de acordo com a Defesa Civil da capital alagoana. A cidade segue em alerta para o risco iminente de colapso na Mina 18, operada pela Braskem, e localizada no bairro Mutange.
Conforme explicou o órgão, o deslocamento vertical acumulado da mina é de 1,56 cm e a velocidade vertical é de 0,7 cm por hora, apresentando um movimento de 13 cm nas últimas 24 horas. A Defesa Civil reitera a recomendação para que a população não transite na área desocupada.
Em entrevista à CNN na sexta-feira (1º), o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), classificou a situação na cidade como “a maior tragédia urbana do mundo”. Ainda na sexta, o governo federal reconheceu estado de emergência na cidade.
Alertas da Defesa Civil
Ao longo da semana, moradores do bairro Mutange receberam alertas da Defesa Civil por SMS informando para que deixassem a região e procurassem local seguro.
Pelas redes sociais, o governo de Alagoas publicou um guia com medidas de segurança para a população seguir “agora e depois do colapso”.
De acordo com a prefeitura, as ações emergenciais incluem o acolhimento facultativo de pessoas em áreas de risco, que serão abrigadas em escolas municipais, além da entrega de kits dormitórios, de higiene e de limpeza pessoal, além de cestas básicas e água.
A administração municipal acrescenta que faz monitoramento da situação em tempo real e que “se necessário for”, poderá ampliar as áreas consideradas como de risco iminente.
O que causou o afundamento do solo?
De acordo com a prefeitura, a “instabilidade do solo foi provocada pela atividade de mineração da Braskem em 35 minas na região”.
A gestão municipal informa que “até 2019, a empresa fazia extração inadequada de sal-gema”. Esse material é utilizado pela indústria química para fabricação de soda cáustica e PVC.
Segundo o governo de Alagoas, cinco abalos sísmicos foram registrados na região somente neste mês de novembro. O desabamento da mina pode ocasionar a formação de grandes crateras na região, além de provocar um efeito cascata em outras minas.
O prefeito JHC atribui à Braskem a responsabilidade pela situação. “A empresa Braskem começou a operar em Maceió na década de 1970. De lá pra cá, essa exploração predatória continuou de forma agressiva. Faltou fiscalização por parte dos órgãos competentes de maneira mais contundente.”
Segundo JHC, “a municipalidade não tem competência direta sobre autorizações e fiscalizações da atividade da Braskem e, por isso, o município também acaba sendo vítima de toda essa tragédia”. “Agora precisamos agir diariamente para poder mitigar todos os danos.”
O governador Paulo Dantas (MDB) também fez, em entrevista à CNN, críticas à conduta da Braskem.
Veja o que diz a Braskem:
Leia a íntegra da nota da empresa publicada na sexta-feira (1º):
“A Braskem continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange, tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências. Referido monitoramento, com equipamentos de última geração, foi implementado para garantir a detecção de qualquer movimentação no solo da região e viabilizar o acompanhamento pelas autoridades e a adoção de medidas preventivas, como as que estão sendo adotadas no presente momento.
Os dados atuais de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e que essa acomodação poderá se desenvolver de duas maneiras: um cenário é o de acomodação gradual até a estabilização; o segundo é o de uma possível acomodação abrupta. Todos os dados colhidos estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades, com quem a Braskem vem trabalhando em estreita colaboração.
A área de serviço da Braskem nas proximidades da mina 18 está isolada desde a tarde de terça-feira. Ademais, a região onde está localizada referida mina (área de resguardo) já está totalmente desocupada desde 2020.
Desde a noite da quarta-feira, a empresa também está apoiando a realocação emergencial dos moradores de 23 imóveis que ainda resistiam em permanecer na área de desocupação determinada pela Defesa Civil em 2020. Essa realocação emergencial foi determinada judicialmente na tarde da quarta-feira e está sendo coordenada pela Defesa Civil. Até o momento, 22 desses imóveis já foram desocupados e os trabalhos prosseguem. A realocação preventiva de toda a área de risco foi iniciada em dezembro de 2019 e 99,3% dos imóveis já estão desocupados (dados de 31 de outubro de 2023).
Situação das cavidades
A extração de sal-gema em Maceió foi totalmente encerrada em maio de 2019, e a Braskem vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Esse plano registra 70% de avanço nas ações, e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2025.
Das 35 cavidades, 9 receberam a recomendação de preenchimento com areia. Destas, 5 tiveram o preenchimento concluído, em outras 3 os trabalhos estão em andamento e 1 já está pressurizada, indicando não ser mais necessário o preenchimento com areia.
Além dessas, em outras 5 cavidades foi confirmado o status de autopreenchimento.
As demais 21 cavidades estão sendo tamponadas e/ou monitoradas, sendo que em 7 delas o trabalho já foi concluído. As atividades para preenchimento da cavidade 18 estavam em andamento e foram suspensas preventivamente devido à movimentação atípica no solo.
Todo o trabalho segue prazos pactuados no âmbito do plano de fechamento, que é regularmente reavaliado com a ANM.”
(Publicado por Lucas Schroeder, com informações de Bruno Laforé, Fábio Munhoz, Agência Brasil e Estadão Conteúdo)