Ao som de Gilberto Gil, médico sobrevivente de ataque no Rio participa de homenagem
Cerimônia na Faculdade de Medicina da USP recebeu Daniel Proença e familiares dos outros três ortopedistas mortos em quiosque no início de outubr
O médico Daniel Proença, sobrevivente do ataque que matou três ortopedistas no Rio de Janeiro, fez uma primeira aparição pública nesta sexta-feira (1º), durante uma homenagem da Faculdade de Medicina da USP ao grupo. A cerimônia, em São Paulo, teve como tema a paz, contou com apresentação do cantor e compositor Gilberto Gil.
“Eu sou muito consciente dessa dimensão trágica da vida, mas também sempre esperando que as coisas possam ser melhores”, disse Gil à CNN antes da apresentação.
Muito emocionado, Daniel, ainda em tratamento após ser baleado no ataque, recebeu o carinho de colegas de profissão. Ele pediu para não ser abordado pela imprensa.
“Os profissionais da saúde são aqueles que vão receber as pessoas atingidas (pela violência). Nesse caso, nós que somos a linha de frente que fomos atingidos. A gente não pode banalizar a violência. Temos que nos posicionar”, disse a diretora da Faculdade de Medicina da USP, Eloisa Bonfa.
O crime
O ataque aconteceu no dia 05 de outubro, na orla da Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. Doutor Proença estava com Marcos de Andrade Corsato, Perseu Ribeiro Almeida e Diego Ralf de Souza Bomfim, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), quando foram atacados por criminosos armados que desceram de um carro atirando contra o grupo.
O grupo estava no Rio para participar de um congresso na área. À noite, atravessaram a rua do hotel em que estavam hospedados para uma confraternização. Foi quando o ataque aconteceu.
“Uma tragédia. Esse ato hoje é um ato de respeito. De respeito aos profissionais que estão em outra dimensão e em respeito aos familiares deles. Um ato para chamar a atenção a paz, contra a violência”, disse o cardiologista Roberto Kalil.
Amigos e colegas de profissão lembraram de bons momentos ao lado dos ortopedistas.
Todos os profissionais passaram em algum momento da carreira pela Faculdade de Medicina da USP.
“Um deles, o professor Corsato, é parte do dia a dia do Hospital das Clínicas. Ele formou muita gente, com uma história muito linda aqui”, lembrou à cardiologista Ludmilla Hajjar.
As investigações
A investigação da Polícia Civil indicou que um dos profissionais foi confundido com o filho de um miliciano. Em entrevista à CNN, a deputada Sâmia Bomfim, que chegou a se afastar das funções parlamentares, voltou a falar em negligência por parte do estado do Rio de Janeiro.
“O inquérito não foi concluído. É pública a linha de investigação adotada, mas a gente identifica muitas negligências, muitas falhas, principalmente por conta do estado do Rio de Janeiro. Como as famílias foram comunicadas, pela imprensa. Não foi feito comunicado direto pela polícia ou hospital. O sumiço das coisas do meu irmão ou mesmo dificuldade de acesso ao inquérito, que só foi conseguido mediante pedido na Justiça. São violências sequenciais”, desabafou Bomfim.
Apesar do sofrimento, a irmã do ortopedista Diego Bomfim se disse agradecida pelo ato desta sexta-feira (01).
“Acho que o ato de hoje é de acolhimento para nossa família, a gente se sentiu muito protegido, mas também um recado para a sociedade para a gente poder enfrentar o crime organizado e as milícias, que fazem muitas as vítimas”, disse.