Filantropos e educadores apontam caminhos para redução da desigualdade no Brasil
O Fórum de Economia CNN – Os Desafios de um Brasil Essencial recebeu a fundação Tide Setubal, Banco Maré, Primo Rico e Favelado Investidor para um debate sobre a desigualdade social
A desigualdade social é um dos maiores problemas do Brasil. Ela pode ser vista na educação, na saúde, na habitação, no transporte e no acesso à informação. Com a pandemia de Covid-19, a situação se agravou.
Por isto, a desigualdade foi tema de debate do Fórum de Economia CNN – Os Desafios de um Brasil Essencial. Comandada por Fernando Nakagawa, diretor do CNN Brasil Business, a conversa passou por assuntos como educação, empreendedorismo e filantropia.
Para Neca Setubal, da Fundação Tide Setubal, o debate de como reduzir a desigualdade social começa com “cada um de nós, como cidadãos, tendo responsabilidade social”. É neste contexto de sua vida que entra a filantropia.
“Todo conjunto de atores da sociedade pode fazer diferença para termos um país mais igual, digno e com periferias sendo mais produtivas”, disse Neca.
Amanda Magalhães, líder de Gestão do Banco Maré, defendeu que dar acesso a oportunidades é o primeiro passo para combater as desigualdades no Brasil. “Por isso, nos preocupamos em possibilitar o acesso a serviços financeiros básicos”, afirmou.
Além de ajudar a reduzir a população desbancarizada – superior a 34 milhões de brasileiros –, o Banco Maré também atua para levar informação a pessoas que não tiveram acesso à educação financeira.
Foi com esse tipo de informação que Murilo Duarte virou o Favelado Investidor. Ele criou um canal de educação financeira para ajudar a diminuir a pobreza no Brasil. Com seu conteúdo, já alcançou mais de meio milhão de seguidores no Instagram.
“A informação reduz disparidades”, disse Murilo. “Quando tive conhecimento, a minha vida foi se transformando. Devo pegar o conhecimento que tenho e compartilhar com o público de periferia”.
Já Thiago Nigro, do canal Primo Rico, outro produtor de conteúdo, afirmou que trabalha para “melhorar o aspecto de vida de todas as classes”. Ele disse que há muito incentivo para consumir e pouquíssimo para que as pessoas poupem seus recursos. O incentivo de Nigro vai para quem quer seguir a segunda opção.
Educação é o caminho, mas precisa evoluir
Para Murilo Duarte, o ensino tradicional não evoluiu. “O que minha vó aprendeu na escola eu aprendi quando estudei”. Ele disse que o mundo evoluiu e demanda outras habilidades dos alunos que não são adquiridas nos ensinos fundamental e médio.
Uma educação defasada traz consequências no mercado de trabalho e aumenta a desigualdade social, segundo os participantes. “Quando alguém da favela vai empreender existem várias burocracias. Ele não sabe pagar impostos, fica impossibilitado de crescer e contratar pessoas. Quando pode contratar alguém não acha pessoas qualificadas”, afirmou Duarte.
Com todos esses problemas para enfrentar, é natural que o desânimo apareça entre os jovens, algo que Amanda Magalhães, do Banco Maré, percebeu entre seus clientes. “A dificuldade para conseguir oportunidades de estudo e renda gera desânimo. Temos uma grande massa de jovens querendo suporte, mas ele não chega”.
Mesmo diante de todos os problemas, uma mudança estrutural no sistema de ensino brasileiro parece longe de acontecer. Ao não mudar, as escolas do país atrasam o desenvolvimento dos alunos e não preparam os jovens para o futuro, disse Thiago Nigro.
“Nosso sistema de ensino não prepara o aluno para o que virá na economia, mas para o presente, em mundo que evolui cada vez mais rapidamente”, afirmou Nigro. Para ele, cursos livres e educação gratuita de conteúdos gerados em redes sociais são um dos caminhos para redução da desigualdade na educação.
Outro problema que assusta no ensino brasileiro é a evasão escolar, que se agravou com a pandemia de Covid-19. A prefeitura do Rio de Janeiro chegou a buscar os estudantes em suas casas para tentar reduzir o número de alunos que abandonam o colégio.
“Já sabemos quais são os maiores problemas. Precisamos de equidade. Para quem precisa mais, eu dar mais”, afirmou Neca Setúbal.
Para ela, o Brasil pode se inspirar em modelos como Canadá e Finlândia, mas, para resolver a situação, é importante adequar as soluções à realidade brasileira. Os desafios são ainda maiores em um país de proporções continentais, com cenários completamente diferentes entre as regiões.
“Vamos enfrentar nossas desigualdades de acordo com as especificidades do país”, disse.