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    Jornalista que entrevistou porta-voz do Talibã ao vivo deixou o Afeganistão

    Beheshta Arghand fez história em uma TV afegã, mas afirmou que só voltará ao país se o Talibã cumprir as promessas feitas sobre os direitos das mulheres

    Brian Stelterdo CNN Business , em Nova York

    No início deste mês, Beheshta Arghand fez história no Afeganistão.

    Arghand, uma mulher âncora da TOLO, uma rede de notícias afegã, entrevistou no ar um representante sênior do Talibã. A entrevista foi manchete em todo o mundo.

    Dois dias depois, Arghand fez história novamente, entrevistando Malala Yousafzai, a ativista que sobreviveu a uma tentativa de assassinato do Talibã. A TOLO descreveu a conversa como a primeira vez que Yousafzai foi entrevistada na TV afegã.

    Arghand estava com tudo, mas seu trabalho teve que ser pausado por um momento. Ela decidiu deixar o Afeganistão, citando os perigos que tantos jornalistas e afegãos comuns estão enfrentando.

    Arghand conversou com a CNN Business através do WhatsApp e relatou a experiência das duas últimas semanas.

    Em suma, ela declarou: “Deixei o país porque, como milhões de pessoas, eu temo o Talibã”.

    Saad Mohseni, o proprietário da TOLO, disse que o caso de Arghand é emblemático da situação no Afeganistão.

    “Quase todos os nossos repórteres e jornalistas conhecidos deixaram o país”, disse Mohseni à CNN. “Temos trabalhado como loucos para substituí-los por novas pessoas”.

    “Temos o duplo desafio de tirar as pessoas [porque elas se sentem inseguras] e manter a operação em andamento”, acrescentou ele.

    A âncora afegã Beheshta Arghand / Reprodução

    Arghand tem 24 anos de idade. Ela disse à CNN que decidiu tornar-se jornalista no nono ano, depois que um de seus professores a deixou vir para a frente da sala e ler as notícias “como se eu fosse a âncora da TV”, disse ela.

    Arghand estudou jornalismo na Universidade de Cabul por quatro anos. Ela trabalhou em várias agências de notícias e estações de rádio por curtos períodos de tempo, depois se juntou à TOLONews como apresentadora no início deste ano.

    “Trabalhei lá por um mês e 20 dias, depois veio o Talibã”, lembrou ela.

    Sua entrevista de 17 de agosto com o Talibã foi “a primeira vez na história do Afeganistão que um representante do Talibã apareceu ao vivo em um estúdio de TV sentado em frente a uma apresentadora”, disse Mohseni em uma coluna para o Washington Post, afirmando que o Talibã estava tentando “apresentar um rosto moderado para o mundo”.

    Arghand disse que a entrevista era difícil, mas que fez isso “pelas mulheres afegãs”.

    “Eu disse a mim mesmo: ‘Um de nós deve começar. Se ficarmos em nossas casas ou não formos aos nossos escritórios, elas dirão que as senhoras não querem trabalhar’, mas eu disse a mim mesmo, ‘Comece a trabalhar'”, disse Arghand. “E eu disse ao membro do Talibã: ‘Queremos nossos direitos’. Queremos trabalhar”. Queremos – devemos – estar na sociedade”. Este é o nosso direito”.

    A cada dia que passava, surgiram novos relatos de intimidação do Talibã, visando a mídia de notícias.

    Dois dias depois de entrevistar Yousafzai, Arghand procurou a ativista para obter ajuda. Na terça-feira, ela embarcou em um voo de evacuação da Força Aérea do Qatar junto com vários membros de sua família.

    Ela disse que esperava voltar: “Se o Talibã fizer o que eles disseram – o que eles prometeram – e a situação melhorar, e eu souber que estou a salvo e não existir ameaça contra mim, eu voltarei para meu país e trabalharei para meu país. Para o meu povo”.

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