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    Pesca artesanal na poluída Guanabara atrai adeptos e preocupa especialistas

    Biólogo destaca altas chances de contaminação a partir do consumo do peixe recolhido na Baía de Guanabara, que passa por um processo de despoluição

    Bruna Carvalhoda CNN , no Rio de Janeiro

    Nem o lixo visível, o óleo e os peixes mortos desanimam os pescadores que adotaram a Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro, como um ponto para a pesca artesanal. Nas primeiras horas do dia, ou nos finais de tarde, não é difícil ver pequenos grupos de pescadores. Com linhas pequenas e baldes, eles retiraram animais variados da Baía de Guanabara.

    Salim dos Anjos vende biscoitos e bebidas na praça, mas entre uma venda e outra confere a linha de pesca. Das águas da Baía de Guanabara já tirou de corvina a arraia. Parte vendeu, parte foi pra mesa de casa. “Já pesquei uma piraúna aqui com quase 30 quilos. Tem muito peixe grande no fundo”, conta Salim.

    A poluição da Baía de Guanabara preocupa em parte esse pescador artesanal. Ele já pescou animais em que notou a presença de óleo no aparelho respiratório e decidiu não consumir.

    “Eu uso uma linha mais cumprida. Pego peixes que nadam mais ao fundo. Os que nadam na superfície acabam comendo muita besteira. Tainha mesmo eu não pego”, explica Salim.

    Poluição preocupa especialistas

    Para o biólogo Marcello Mello, o consumo de animais que vivem em locais como a Baía de Guanabara deve ser motivo de preocupação.

    “O risco não é só dividido entre os pescadores que estão no local, muitos pescadores comerciais pescam na baía e vendem para a população. A Baía de Guanabara tem um significativo grau de contaminação, recebe uma carga muito grande de esgoto doméstico e industrial de diversos municípios. Certamente existe a possibilidade do pescado estar contaminado, inclusive com metais pesados, como cádmio, chumbo, mercúrio e outros. Isso pode causar sérios problemas de saúde, desde de diarréia a problemas neurais futuros”, explicou Marcello.

    Segundo a nutricionista Crislaine das Graças de Almeida, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apesar dos inúmeros benefícios à saúde é provável que o consumo de peixes aumente significativamente a ingestão diária de contaminantes presentes na água, incluindo composto de metais pesados, como chumbo e o cromo que são considerados cancerígenos. O mercúrio, considerado um agente neurotóxico, também deve ser motivo de atenção.

    “Os metais pesados e poluentes orgânicos persistentes (POPs) se acumulam especificamente em tecidos ricos em gordura, como o tecido adiposo e o fígado dos peixes. Assim, o consumo de filés de peixe, ou seja, do tecido muscular, é provavelmente mais seguro em termos de evitar a exposição excessiva aos contaminantes, já que a concentração de POPs nesse tipo de tecido é menor”, explicou Crislaine.

    Em resposta à CNN, a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade afirma que tem atuado na despoluição da Baía por meio do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM).

    Além disso, o Inea instalou 15 ecobarreiras na foz dos principais rios que deságuam na Baía de Guanabara. O objetivo é reter os resíduos sólidos flutuantes impedindo-os que cheguem à baía. Segundo eles, nos últimos cinco anos, as ecobarreiras retiveram cerca de 19 mil toneladas de resíduos para destinação ambiental adequada.

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