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    Hipertensão: mais de 700 milhões de pessoas não tratam a doença no mundo, diz OMS

    Nos últimos 30 anos, o número de pessoas vivendo com pressão alta dobrou em todo o planeta, chegando a cerca de 1,2 bilhão de hipertensos

    Lucas Rochada CNN , São Paulo

    Um amplo estudo global realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Imperial College de Londres revelou um retrato preocupante da pressão alta no mundo. Em cerca de 30 anos, o número de pessoas vivendo com hipertensão no planeta dobrou. Os índices mostram um salto de 650 milhões em 1990 para cerca de 1,2 bilhão de hipertensos em 2019 – deste total, cerca de 14% tem a pressão arterial controlada. Segundo a pesquisa, cerca de metade das pessoas não sabem que têm a doença e permanecem sem o tratamento adequado.

    O trabalho envolveu 1.021 estudos, de 184 países, e 104 milhões de participantes cobrindo o período de 1990 a 2019. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (24) no periódico The Lancet, uma das principais revistas científicas do mundo.

    A hipertensão é uma doença grave que provoca a morte de quase 400 pessoas no Brasil a cada dia, segundo estimativas do Ministério da Saúde. A pressão alta acontece quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9). A condição faz com que o coração tenha que exercer um esforço maior do que o normal para distribuir o sangue corretamente no corpo. O agravo não tem cura, mas o tratamento é essencial para a redução dos riscos e aumento da qualidade de vida dos pacientes.

    Consequências da falta de tratamento

    A hipertensão pode permanecer sem ser detectada durante anos, o que leva a uma grande lacuna no tratamento. Segundo o estudo, cerca de 580 milhões de pessoas com hipertensão (41% das mulheres e 51% dos homens) desconheciam a condição porque nunca foram diagnosticadas. A análise também revelou que mais da metade das pessoas (53% das mulheres e 62% dos homens) com hipertensão, um um total de 720 milhões de indivíduos, não estavam recebendo o tratamento adequado.

    O cardiologista Helio Castello, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, explica que os sintomas podem passar despercebidos, porque parte das pessoas que têm hipertensão também sofrem com outras questões que afetam a saúde como obesidade, diabetes, tabagismo e os impactos do envelhecimento.

    “Somada a essa elevação da pressão, muitas vezes a pessoa tem alguns fatores como a obesidade, o fumo, a diabetes. Então ela tem sintomas, como cansaço, dificuldade para realizar atividades ou inchaço nas pernas, mas acha que são normais”, explica Helio.

    O cardiologista Dante Senra destaca que os sinais da hipertensão costumam aparecer somente quando a pressão sobe muito. Os principais sintomas são dores no peito, dor de cabeça, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaçada e sangramento nasal.

    Segundo o cardiologista Helio Castello, a hipertensão aumenta significativamente o risco de outras doenças cardíacas, além de impactos cerebrais e renais. “A hipertensão aumenta o risco de infarto, de acidente vascular cerebral (AVC), de insuficiência renal, de perda da visão e do desenvolvimento de aneurismas, entre outras complicações”, disse.

    Apesar de ser uma das principais causas de morte e doenças em todo o mundo, a hipertensão pode ser facilmente diagnosticada por meio da medição da pressão arterial. O procedimento, que pode ser realizado em casa ou em unidades básicas de saúde (UBSs), deve ser feito pelo menos uma vez ao ano por pessoas acima de 20 anos. Para indivíduos com histórico da doença na família, a pressão deve ser medida duas vezes ao ano.

    O tratamento é eficaz e conta com uma ampla disponibilidade de medicamentos, de acesso gratuito no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que também oferece diagnóstico e acompanhamento. Os especialistas ressaltam que somente o médico poderá determinar o melhor método para cada paciente e que nem sempre a terapia é feita com a utilização de medicamentos.

    “É imprescindível a adoção de um estilo de vida mais saudável, como mudança de hábitos alimentares, redução do consumo de sal, atividade física regular, não fumar, consumo de álcool com moderação”, afirmou Dante.

    Com base nos resultados do estudo, a OMS sugere um acompanhamento mensal após o início ou mudança nos medicamentos anti-hipertensivos até que os pacientes atinjam a estabilização. Para pacientes com a pressão arterial sob controle, a OMS orienta um acompanhamento a cada 3 ou 6 meses.

    “Muitas pessoas negligenciam o tratamento da hipertensão, considerando que sempre tiveram pressão alta e que está tudo bem. A doença ocasiona consequências futuras”, complementa Juliana Gil de Moraes, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

    A pressão alta faz parte da lista de comorbidades incluídas na vacinação contra a Covid-19. Segundo um estudo publicado no periódico científico The BMJ, a pressão alta pode reduzir a expectativa de vida em mais de cinco anos.

    Fatores de risco

    Segundo o cardiologista Helio Castello, o fator hereditário é responsável pela maior parte dos casos de hipertensão. “Quem tem pessoas próximas, como pais e irmãos, com pressão alta tem uma chance maior de desenvolver hipertensão mais precocemente”, diz.

    Além da questão hereditária, o comportamento é um dos principais fatores relacionados ao desenvolvimento da pressão alta. Hábitos como consumo exagerado de sal, alimentação desbalanceada e sedentarismo contribuem para o desenvolvimento e agravamento da doença.

    Segundo o cardiologista, também são fatores de risco para a pressão alta o tabagismo, a obesidade, o consumo de álcool, níveis elevados de colesterol, além de estresse e consumo de medicamentos, como corticoides e anti-inflamatórios.

    Renda x hipertensão

    O estudo publicado na Lancet revela uma mudança na carga da doença em relação aos países. Enquanto a taxa de hipertensão diminuiu nos países ricos, houve um aumento em muitos países de baixa ou média renda.

    Para o cardiologista Helio Castello, as alterações no cenário epidemiológico estão associadas principalmente à inclusão, nos países de média e baixa renda, de hábitos comuns dos países desenvolvidos. “As pessoas colocaram na sua rotina coisas que vieram, muitas vezes, de países desenvolvidos. O fast food, por exemplo, começou nos países mais desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos. Tanto o Brasil como outros países acabaram assumindo isso e deixando de usar a alimentação mais saudável”, afirma Helio.

    Segundo o especialista, o aumento na implementação de mecanismos tecnológicos, como escadas rolantes, esteiras e elevadores, também tende reduzir o esforço físico nas atividades diárias. “Tudo isso é ótimo, mas fez com que as pessoas fizessem menos atividades físicas, menos caminhadas. Hoje, as pessoas andam mais de ônibus ou carro para percorrer pequenas distâncias”, complementa.

    Países como Canadá, Peru e Suíça tiveram uma das prevalências de hipertensão mais baixas do mundo em 2019, enquanto algumas das taxas mais altas foram observadas na República Dominicana, Jamaica e Paraguai para mulheres e Hungria, Paraguai e Polônia para homens.

    Com informações de Leonardo Lopes, da CNN.

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