Diretor da CIA se reuniu com líder do Talibã em Cabul, dizem fontes
À CNN, duas autoridades norte-americanas confirmaram encontro de William Burns com Abdul Ghani Baradar – reunião de mais alto escalão desde que grupo assumiu controle do Afeganistão
O diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos, William Burns, encontrou-se pessoalmente com o principal líder do Talibã em Cabul na segunda-feira (23), de acordo com duas autoridades norte-americanas, enquanto os EUA continuam transportando seus cidadãos e aliados afegãos para fora do Afeganistão correndo contra o prazo final de 31 de agosto dado pelo grupo islâmico.
O governo Biden tem mantido contato regular com membros do Talibã ao longo do processo de saída do país, tanto no Afeganistão quanto em Doha, no Catar, onde o grupo mantém um escritório político.
Mas a reunião secreta, relatada primeiro nesta terça-feira (24) pelo jornal The Washington Post, entre Burns e o cofundador e vice-líder do Talibã Abdul Ghani Baradar é o encontro de mais alto escalão desde que o grupo assumiu o controle da capital afegã, informou um funcionário dos EUA à CNN.
A reunião também reforça a visão no governo norte-americano de que eles precisam de um entendimento mais claro sobre a posição do Talibã em várias questões enquanto o tempo avança até o prazo máximo de 31 de agosto para retirar as tropas do país, disse o funcionário.
Essa fonte afirmou à CNN que a reunião ocorreu por orientação do presidente dos EUA, Joe Biden, o que reflete a visão no governo de que Burns é o mais experiente e um dos diplomatas veteranos mais confiáveis a equipe de Biden.
Outro funcionário chamou a reunião de “uma troca de opiniões sobre o que precisa ser feito” até 31 de agosto.
A CIA se recusou a comentar sobre a reunião. A CNN entrou em contato com a Casa Branca para comentar o assunto, mas ainda não obteve resposta.
Corrida contra o relógio em Cabul
Os EUA retiraram do aeroporto de Cabul milhares de pessoas que fogem do país enquanto o Talibã retoma o controle. Embora Biden permaneça confiante de que o país concluirá sua missão até 31 de agosto, ele revelou no domingo (22) que as discussões estão em andamento sobre a possibilidade de estender o prazo, mas o Talibã sinalizou na segunda-feira que considera essa a data final.
“Os EUA devem aderir à remoção das tropas do Afeganistão até esta data. Caso contrário, será uma violação clara [do acordo]”, disse um porta-voz do Talibã à CNN sobre o prazo de 31 de agosto, acrescentando que, em caso de atraso, “nossa liderança assumirá decisão(ões) apropriada(s).”
O Talibã descreveu 31 de agosto como uma “linha vermelha” e ameaças de consequências se a Casa Branca adiar a saída dos EUA.
O governo Biden tem dependido do Talibã para cooperar com os esforços de retirada, e o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan disse na segunda-feira (23) que os EUA estão em negociações com o Talibã “diariamente” por meio de canais políticos e de segurança.
Depois que o Talibã retomou o controle de Cabul, Baradar, que chefia o comitê político do grupo, voltou ao Afeganistão na semana passada, após ficar fora do país por 20 anos.
Baradar e o então secretário de Estado no governo de Donald Trump, Mike Pompeo, estavam entre as testemunhas da assinatura de um acordo histórico pelos EUA e o Talibã no ano passado, que deu início à retirada das tropas americanas do Afeganistão – Trump e Baradar falaram por telefone logo após a assinatura do acordo.
Burns assumiu a agência de espionagem após décadas de experiência como diplomata americano no Departamento de Estado, inclusive no centro das negociações de paz no Oriente Médio.
Sandi Sidhu, Betsy Klein e Michael Callahan, da CNN, contribuíram para esta reportagem.
(Texto traduzido; leia o original em inglês)