Combates se intensificam no Afeganistão e Talibã ameaça tomar a primeira capital
Vários distritos da cidade de Lashkar Gah e rodovias já estão sob controle do grupo; militares afegãos alegam confrontos com mortos e feridos na região
Os combates intensos entre o Talibã e as forças do governo afegão continuam na capital da província de Helmand, a cidade de Lashkar Gah. Agora, no entanto, o Talibã controla vários distritos da cidade, segundo jornalistas locais contatados pela CNN.
Os militares afegãos reforçaram sua presença na cidade neste sábado (31), trazendo forças especiais, de acordo com uma postagem do 215 Corps, uma unidade do exército afegão. Segundo eles, o exército fez ataques aéreos contra posições do Talibã na localidade.
A cidade de Lashkar Gah fica em rotas estratégicas, incluindo a rodovia entre Kandahar e Herat e importantes áreas agrícolas ao sul da cidade. O Talibã há muito tem uma forte presença na província de Helmand, inclusive ao redor da capital, mas não ocupa nenhuma parte da capital desde 2001.
Se Lashkar Gah cair nas mãos do Talibã, será a primeira das 34 capitais provinciais do Afeganistão a ser perdida pelo governo. Mas vários outras capitais estão cercadas pelo Talibã, que também controla várias das principais rodovias do Afeganistão.
O Talibã acusou um “inimigo mercenário” de matar civis em um ataque aéreo no sétimo distrito de Lashkar Gah, uma área que tem enfrentado confrontos pesados. O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, informou pelas redes sociais que “muitas casas foram destruídas e as pessoas sofreram grandes perdas financeiras”. Não havia como confirmar a afirmação do Talibã sobre o suposto “inimigo mercenário”.
Um jornalista que está na cidade disse à CNN neste domingo (1º) que os confrontos continuavam no primeiro e no sétimo distritos e que o Talibã havia conquistado o nono distrito. Ele disse que as forças do governo agora controlam apenas um distrito da região.
Os militares afegãos alegam combates pesados ??em Lashkar Gah. A unidade do exército local informou neste sábado (31) que 51 talibãs foram mortos e 40 outros feridos em operações nos arredores da cidade.
Em seu último boletim, o Ministério da Defesa afegão relatou combates em 13 províncias e diz que 254 talibãs foram mortos no dia anterior.
AFG defense & security forces continued the clearing Ops & responded to enemy’s attacks in different parts of #Lashkargah in past 24 hrs; As a result of the Ops & airstrike, 51 #Taliban terrorists including 2 of their commanders killed & 49 others wounded. #GuardiansOfSouthWest pic.twitter.com/uAILD9rEVd
— Maiwand 215th Corps (@215Corps) July 31, 2021
Forças especiais em Herat
A província de Herat, localizada a noroeste do Afeganistão, passou por combates intensos. O Ministério da Defesa tuitou neste domingo (1º): “Centenas de forças especiais chegaram à província de Herat. Essas forças vão aumentar as operações ofensivas e suprimir o Talibã em Herat. A situação de segurança na província vai melhorar em breve.”
Em um aparente reconhecimento da gravidade da situação em Herat, o Ministério do Interior disse que o vice-ministro da pasta, general Abdul Rahman Rahman, havia chegado ao local com forças especiais da polícia.
Vídeos deste sábado indicam que o Talibã agora controla a estrada que liga a capital – também chamada de Herat – ao aeroporto. Um jornalista local disse à CNN neste domingo que o Talibã controla grande parte do distrito de Goazara, perto do aeroporto. O aeroporto em si continua nas mãos do governo.
EUA se retiram e Talibã entra em ação
Depois de quase 20 anos no Afeganistão, os militares dos EUA, sob a direção do presidente Joe Biden, estão nos estágios finais de retirada das tropas do país, encerrando a guerra mais longa da América.
O Pentágono disse que cerca de 95% das tropas americanas partiram e o Talibã expandiu rapidamente sua presença para grandes áreas do país.
A velocidade com que as forças de segurança afegãs perderam o controle para o Talibã chocou muitos e gerou temores de que a capital, Cabul, possa ser a próxima a cair. Todas as forças estrangeiras devem deixar o Afeganistão até o dia 31 de agosto.
De acordo com o Long War Journal, uma organização sem fins lucrativos dos EUA que rastreia o controle do território no Afeganistão, o Talibã agora controla 13 dos 16 distritos na província de Herat. A maior parte de seus ganhos ocorreu no mês de julho.
Em todo o país, o Talibã controla 223 distritos, com 116 contestados e o governo segurando 68, de acordo com o Long War Journal, cujos cálculos correspondem às estimativas da CNN. O relatório afirma que 17 das 34 capitais provinciais estão diretamente ameaçadas pelo Talibã.
A vasta maioria dos ganhos do Talibã ocorreu desde o início da redução das forças dos EUA em maio, após o anúncio do presidente Biden de que todas as forças de combate dos EUA deixariam o Afeganistão no final de agosto.
Bill Roggio, que edita o Long War Journal, disse que “a retirada dos meios aéreos dos EUA, que forneceram mais de 80% do poder de combate para combater o Talibã, e contratados civis para fornecer manutenção, junto com o desgaste do combate, colocou uma enorme pressão sobre a Força Aérea Afegã.”
A piora da situação de segurança em todo o Afeganistão, após a retirada das tropas estrangeiras e avanços do Talibã, forçou cerca de 294 mil pessoas a deixarem suas casas desde janeiro, informou a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 21 de julho, elevando o total de deslocados internos para mais de 3,5 milhões. Só no mês de junho, 77 mil pessoas foram deslocadas, disse o ACNUR.
Relatório da ONU
A ONU alertou em um novo relatório, emitido na última segunda-feira (26), que as baixas de civis no Afeganistão na primeira metade de 2021 atingiram “níveis recordes”, incluindo “um aumento particularmente acentuado em mortes e feridos desde maio, quando as forças militares internacionais começaram sua retirada e os combates foram intensificados.”
A Missão de Assistência da ONU no Afeganistão (UNAMA) documentou 5.183 vítimas civis (1.659 mortos e 3.524 feridos) desde o início de 2021 – um aumento de 47% em comparação com o mesmo período em 2020.
“Sem uma redução significativa da violência, o Afeganistão está a caminho de 2021 para testemunhar o maior número de vítimas civis documentadas em um único ano desde o início dos registros da UNAMA” em 2009, disse a ONU.
(Este texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)