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    O que esperar do preço dos alimentos com onda de frio que causa geadas

    Alta nos preços deve ser acentuada, mas ainda é cedo para saber o tamanho do impacto na oferta, dizem especialistas

    Leonardo Guimarães, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Além da dificuldade para tomar banho, lavar a louça e esquentar o corpo, a passagem de uma massa de ar fria pelo Brasil deve impactar a economia. As geadas nas regiões Sul e Sudeste do país estão prejudicando culturas agrícolas importantes e devem impactar também o bolso do consumidor. 

    Em casos como este, a lei mais básica da economia – oferta e demanda – se manifesta concretamente. Com as geadas matando plantações e reduzindo a oferta, a tendência é que os preços subam à medida que a demanda se mantém estável. 

    Os preços, que já estão nas alturas, devem continuar subindo, mas ainda é cedo para dizer quanto. A inflação dos alimentos foi de alarmantes 14% no ano passado. Neste ano, a expectativa era de que a alta dos preços desacelerasse, mas o episódio frio de julho pode encarecer itens como milho, soja e café acima do esperado

    “Esperávamos que o preço dos alimentos subisse menos no segundo semestre, mas não que parasse de subir. Talvez o aumento ganhe fôlego no segundo semestre”, afirma Felippe Serigati, economista e pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).

    O especialista pondera, porém, que é muito cedo para mensurar o impacto do frio nas barracas de feiras livres e nos supermercados. “A onda de frio não acabou. Só teremos noção do impacto que ela deixará depois de 48 horas do fim das geadas”. 

    E a previsão não anima. Meteorologistas afirmam que o risco de geada só diminui a partir deste domingo (1º). 

    Outro problema pode agravar a situação: a geada negra. O fenômeno é a combinação de ar frio, vento e umidade baixa, e leva esse nome porque pode congelar a parte interna das plantas e matá-las. A vegetação fica queimada depois da ocorrência dessa categoria de geada. 

    Itens mais afetados 

    Segundo Serigati, é difícil prever quais culturas sentirão o maior impacto das geadas desta semana. Mas alguns itens estão na lista para serem observados de perto. 

    O milho é um dos que sofreram nos últimos 12 meses. As plantações foram prejudicadas por ataques da cigarrinha – uma praga comum dessa cultura –, depois pela seca e, agora, por causa das geadas. Nos últimos 12 meses os preços futuros do milho subiram de R$ 50 para R$ 100 por saca (60 kg).

    A cana-de-açúcar também deve sofrer impacto inflacionário por causa das geadas. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), esta foi a segunda cultura mais afetada pelas geadas dos dias 19 e 20 de julho, o que deve se repetir na nova onda de frio. A cana ficou atrás apenas do milho. 

    Outro item que pode subir de preço nas gôndulas é o café. Só em São Paulo, cerca de 20% da área de plantação do estado foi afetada, segundo a Faesp. A entidade disse, em comunicado, que “rendimento e qualidade dos grãos” deve ser menor nesta safra. 

    Os consumidores também podem esperar variação de preço na carne bovina. “O boi não gosta de grandes variações de temperatura. O frio pode afetar o rendimento da carcaça, que é a relação da quantidade de insumos que precisa ser fornecido para o animal que será transformado em alimento no abate”, explica Serigati.

    Com o preço para o produtor mais alto, espera-se, claro, um aumento também nos preços ao consumidor. 

    Efeito na inflação

    As quedas nas produções de milho, cana e outros itens geram um efeito cascata na economia brasileira. O milho é usado nas rações de bovinos, suínos e aves. O etanol que abastece carros e motos é feito a partir da cana. Ou seja, um aumento de preços puxa outros. 

    Pensando nessa bola de neve, a XP elevou sua estimativa de inflação para 2021 de 6,6% para 6,7%. 

    “Com diminuição da oferta, os preços tendem a subir e esse repasse costuma ser rápido. Apesar de já ter incorporado parcialmente esse impacto, a geada dessa semana pode se traduzir em inflação ainda mais alta no curto prazo”, afirma relatório assinado por Tatiana Nogueira, economista da XP.

    A previsão mais recente do mercado financeiro para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é de 6,56%, segundo o último Boletim Focus do Banco Central, divulgado na segunda-feira (26).

    Para justificar a expectativa mais pessimista para a inflação, Tatiana Nogueira ainda cita o problema da falta de chuvas, que atrapalhou – e muito – o agronegócio brasileiro neste ano. “A estiagem severa impactou fortemente preços de grãos, como soja e milho, cana-de-açúcar, café e cítricos. Além disso, as proteínas animais também têm os preços altos”, afirma a economista. 

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