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    Aumento de gasto, ruído político e EUA mais fortes seguram dólar acima de R$ 5

    Com aumento de risco fiscal, economistas veem menos chances de o dólar voltar a se estabilizar na casa dos R$ 4 tão cedo

    Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Depois de quase bater os R$ 5,90 em um conturbado mês de março, o dólar engatou uma trajetória rápida de queda em relação ao real nos meses seguintes. 

    A moeda até chegou a ensaiar uma temporada abaixo dos R$ 5 em junho, numa das pouquíssimas vezes em que voltou para a casa dos R$ 4 desde que a pandemia chegou oficialmente ao Brasil, há um ano e meio. 

    Por trás do alívio, estava, principalmente, o aumento da taxa Selic que o Banco Central (BC) voltou a promover a partir de março, depois de os juros básicos do país terem passado os piores meses da pandemia em apenas 2% ao ano. 

    Juros muito baixos em países emergentes como o Brasil, que são mais instáveis, são um espantalho de capital estrangeiro, já que a renda fixa passa a render muito pouco e os investidores vão embora para portos mais atraentes. 

    A Selic hoje já está de volta aos 5,25% e deve subir até os 7% ou 8% ainda neste ano, o que, para o câmbio, seria uma ótima notícia. As exportações, impulsionadas pelos altos preços dos minérios e de produtos agrícolas no mercado internacional, também continuam batendo recordes e ajudando na tarefa de trazer mais dólares para o Brasil. 

    Ainda assim, a passagem do câmbio pelos R$ 4,90 durou menos de duas semanas e a cotação logo voltou a subir. Nesta segunda-feira (9), o dólar fechou valendo R$ 5,24

    Os economistas ainda acham que a moeda têm fôlego para cair para menos disso nos próximos meses, mas a expectativa que se chegou a ter de que ela poderia finalmente se acomodar de volta abaixo dos R$ 5 perdeu força tão rápido quanto o real

    “A expectativa antes era que o dólar caminhasse para os R$ 4,50 em 2022, com a taxa de juros subindo”, disse o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. 

    “Agora ninguém sabe. Com a atual situação, ficou mais difícil prever qualquer coisa, mas é mais provável uma cotação mais próxima de R$ 5”, disse ele, mencionando ruídos políticos como o gasto de energia em torno da discussão do voto impresso e também as rusgas entre o presidente Jair Bolsonaro e o Judiciário

    Volta do risco fiscal 

    Também voltou a nublar o horizonte do mercado financeiro a volta da ameaça de piora dos gastos e da dívida pública, com um aumento de despesas no horizonte por conta da promessa do presidente Jair Bolsonaro de fazer uma versão ampliada do Bolsa Família, ao mesmo tempo em que apareceu uma conta bilionária em precatórios a serem pagos no ano que vem

    O “meteoro de gastos”, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou a bomba dos precatórios, obrigou o governo a se desdobrar para achar uma solução que caiba nos recursos disponíveis, preserve o teto de gastos e não alimente as acusações de calote ou pedalada fiscal ao governo federal

    “Esse debate de curtíssimo prazo, de como vai ser financiado o novo programa social, como os precatórios vão ser parcelados e como ficará o limite disponível do teto de gastos, deixa muitas incertezas”, disse Arthur Mota, economista do banco BTG Pactual Digital. “E quando o mercado lida com incertezas, ele impõe um prêmio de risco sobre diversas variáveis, e uma delas é o câmbio.” 

    O BTG revisou sua projeção para o câmbio ao fim de 2021 nesta segunda-feira, de uma expectativa de R$ 4,90 no mês passado para R$ 5 agora. “É importante notar que ainda é um cenário de apreciação [do real frente ao dólar] em relação ao câmbio de agora”, explica Mota, “mas ela deve ser menor do que o esperado antes”. 

    EUA e dólar mais fortes no mundo 

    Além das instabilidades domésticas, Mota lembra que há importantes peças se mexendo também no tabuleiro internacional, e que também mudam a tendência do dólar no Brasil. 

    É o caso do forte ritmo de retomada da economia norte-americana, que está levando uma tendência de valorização do dólar em relação a uma série de moedas.

    O Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, também deve começar em breve a retirar os superestímulos financeiros despejados sobre o mercado financeiro do país durante a pandemia, o que também deve trabalhar para enxugar a enxurrada de capitais que foram investidos em países emergentes. 

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