Reduzir o consumo de energia passa por doer no bolso, diz pesquisadora
Para Virginia Parente, professora da USP, será inevitável haver novos aumentos na conta de luz para forçar redução da demanda e evitar crise maior
Os órgão responsáveis pelo controle e acompanhamento do setor energético do Brasil estão alertas à gravidade da atual crise hídrica por que passa o país e não devem poupar esforços no sentido de evitar que a situação causada pelos baixos níveis dos reservatórios se agrave ainda mais – e isso deve incluir, também, ainda mais aumentos na conta de luz, além dos que já foram feitos.
É o que afirma a economista Virginia Parente, professora do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).
“Eu acredito que a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] vai lançar mão de tudo que for possível para reduzir a demanda de energia, e, entre as coisas que reduz a demanda, adequa o consumo e sinaliza para o consumidor não gastar é doer no bolso, infezlimente”, disse Parente, em entrevista à CNN.
A Aneel, agência responsável pela regulação do setor, confirmou na sexta (30) que as contas de luz continuarão pagando a bandeira vermelha 2, a mais cara, ao longo de agosto.
As bandeiras adicionam uma tarifa extra à conta a cada mês e são acionadas conforme a necessidade de gerar energia complementar no sistema, principalmente nos períodos mais secos.
No início do mês, o valor da bandeira vermelha 2 já tinha sido reajustado em 52% pela Aneel, passando de R$ 6,24 adicionais para R$ 9,49 a cada 100 quilowatt-hora (kWh). E agência discute, ainda, a possibilidade de aumentar esse valor ainda mais, em resposta à gravidade da crise.
Os reservatórios das principais hidrelétricas do país estão nos menores níveis em duas décadas, em meio há um cenários em que os níveis de chuva já vêm ficando menores desde o início dos anos de 2010.
De acordo com Parente, outras medidas para combater as restrições na geração de energia passam também por buscar mais eficiência na indústria, que têm muitos processos intensivos em energia elétrica, e por ampliar a capacidade instalada, mas nenhuma delas é imediata.
Ela explica que construir mais usinas para energia reserva a ser acionada em tempos de crise, como termelétricas, significa também ampliar um sistema que é custoso de ser mantido. É por esta razão que, de acordo com a pesquisadora, a necessidade de forçar a redução do consumo é inevitável – seja de consumidores residenciais, comerciais e industriais.
“Nos já fizemos muito desde 2001 até agora (…) Nossos reservatórios são plurianuais, a ideia é aguentar alguns anos seguidos de pouca chuva, mas isso [menores níveis de chuva] já tem acontecido há algum tempo”, disse.
(*Publicado por Juliana Elias)