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    Ter um bom ouvinte pode ser bom para a saúde do cérebro, diz estudo

    A socialização ajuda o cérebro a se tornar mais resistente aos impactos do avanço da idade e de doenças neurológicas, segundo pesquisa

    Kristen Rogers, da CNN

    Você pode contar com alguém para te ouvir quando precisa conversar? Se sim, seu cérebro pode ser mais resistente diante de quaisquer mudanças futuras relacionadas à idade ou doenças, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira (16) no Journal of the American Medical Association (JAMA).

    Entre os adultos mais velhos, estudos anteriores associaram um maior círculo social com níveis mais altos de função cognitiva do que seria esperado antes da morte, dado o número de sinais da doença de Alzheimer e distúrbios relacionados nos cérebros dos participantes analisados em autópsias, escreveram os autores do estudo atual.

    Função cognitiva refere-se à capacidade mental de uma pessoa para aprender, pensar, raciocinar, resolver problemas, tomar decisões, lembrar e prestar atenção.

    Outros estudos revelaram que adultos com esses sinais nem sempre desenvolvem demência mais tarde. Os especialistas chamaram de “resiliência cognitiva” essa habilidade misteriosa de permanecer cognitivamente ileso, apesar das mudanças no cérebro relacionadas à idade ou à doença.

    “Há muitas formas diferentes de apoio, que não são registradas de forma consistente em diferentes maneiras de avaliar o suporte social. E, muitas vezes, é porque tudo é colocado em uma pontuação agregada”, disse o principal autor do estudo, Joel Salinas, da Lulu P. e David J. Levidow, professor assistente de neurologia na Escola de Medicina Grossman, da Universidade de New York.

    “Quando olhamos como o apoio social parece promover uma saúde melhor em geral, seja física ou mental, sempre me perguntei o que há especificamente no apoio social?” ele adicionou. “É importante saber se existe uma forma específica de apoio social que pode melhorar nossa saúde, porque então isso ajuda a informar intervenções mais direcionadas”.

    Para responder a essa pergunta, os autores analisaram dados de 2.171 adultos com 45 anos ou mais, predominantemente brancos e que não tiveram demência ou acidente vascular cerebral (AVC). Os participantes relataram a disponibilidade de cinco tipos de suporte social em suas vidas a partir de cinco questões: Você pode contar com alguém para ouvi-lo quando precisar falar? Há alguém disponível para lhe dar bons conselhos sobre um problema? Existe alguém disponível para você que mostra amor e carinho? Você pode contar com alguém para oferecer apoio emocional? Por último, você tem tanto contato quanto gostaria com alguém de quem se sente próximo, alguém em quem pode confiar?

    Os autores avaliaram os sintomas depressivos e também o nível de escolaridade. Cerca de nove meses depois, os participantes foram submetidos a ressonâncias magnéticas cerebrais e testes neuropsicológicos que mediram as habilidades cognitivas.

    Socialização ajuda o cérebro
    Socialização é um importante fator de proteção e melhoria para a memória e a cognição, diz especialista
    Foto: Getty Images (Maskot)

    Para cada unidade de diminuição no volume cerebral, os participantes que estavam na casa dos 40 ou 50 anos e tinham baixa disponibilidade de ouvinte tinham uma idade cognitiva quatro anos mais velha do que os adultos com alta disponibilidade de ouvintes, descobriram os autores. Em contraste, entre adultos com alta disponibilidade de ouvintes, a mesma quantidade de declínio do volume cerebral foi associada a apenas 0,25 anos de envelhecimento cognitivo. Os autores não encontraram essas associações entre adultos com 65 anos ou mais.

    “A literatura sugere há décadas que a socialização é um importante fator de proteção e melhoria para a memória e a cognição”, disse Glen R. Finney, membro da Academia Americana de Neurologia, que não participou do estudo.

    O novo estudo “torna ainda mais importante garantir que as pessoas tenham uma forte rede de apoio com pessoas com quem possam interagir e que as ouvirão”, acrescentou Finney, professor de neurologia da Escola de Medicina Geisinger Commonwealth, na Pensilvânia, por e-mail. “Se não o fizerem, ou se houver uma redução nas opções para alguém ‘emprestar uma orelha’, isso pode ser um risco para a saúde do cérebro”.

    Ter um ouvinte disponível pode ajudar a fortalecer partes do cérebro que contribuem para manter a função cognitiva e minimizar qualquer dano relacionado à saúde ou à idade, disse Salinas – como hormônios do estresse ou doenças vasculares. “Isso pode ser mais influenciado em um estágio anterior”, disse Salinas. “Isso pode sugerir que quanto mais cedo em nossa vida procurarmos melhorar a disponibilidade do ouvinte, maior será a probabilidade de ter um impacto no futuro”.

    Embora a ligação entre a alta disponibilidade de ouvintes e a resiliência cognitiva tenha sido encontrada entre adultos com menos de 65 anos, os idosos ainda têm tempo para trazer essa forma de apoio social em suas vidas para ajudar na saúde do cérebro.

    “Na verdade, significa apenas que você provavelmente deve agir agora, e não mais tarde, para tentar obter o máximo de benefícios possível. Os benefícios de ter um bom ouvinte em sua vida vão muito além da saúde do cérebro”, disse ele. Mas o estudo ajuda a destacar os benefícios cognitivos, acrescentou Salinas, que podem ter um impacto profundo nas habilidades dos adultos de manter a independência, estar bem, interagir com seus entes queridos e fazer coisas que amam fazer todos os dias por muito mais tempo do que o contrário.

    Por que ter um bom ouvinte pode ser mais poderoso do que outras formas de suporte social é uma questão que ainda precisa ser esclarecida, disse Salinas – assim como as nuances sobre se alguém escuta ao telefone ou pessoalmente, com que frequência e por quanto tempo a pessoa ouve, e se apenas saber que alguém está ao seu lado é a chave.

    Ver “esse tipo de trabalho repetido em uma população mais ampla e diversa para garantir que os resultados se sustentem e sejam generalizáveis a todas as pessoas” também é importante, disse Finney.

    Texto traduzido, leia o original em inglês.

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