‘Imunizar indiscriminadamente com 3ª dose é um equívoco’, diz infectologista
Jamal Suleiman defende que dose extra seja avaliada somente depois que toda população mundial estiver vacinada contra Covid-19
A vacinação contra a Covid-19 avança de maneira desigual em todo o mundo. Enquanto alguns países já terminaram de vacinar sua população, outros ainda enfrentam problemas de escassez de doses.
Para o infectologista do Instituto Emílio Ribas Jamal Suleiman, esta disparidade diminui a chance de controle da pandemia. Ele acredita que antes de se discutir uma terceira dose em nações ricas, é necessário que países menos desenvolvidos consigam vacinar sua população por inteiro.
“É interessante lembrar que a distribuição de vacinas não é equitativa pelo mundo. Isso nos dificulta. A África não tem a disponibilidade de vacinas como têm alguns países da Europa, Oriente Médio ou mesmo da América. E, nesse cenário, a gente precisa ter vacinas para todos, independente da marca. Todas elas têm efetividade, mas elas precisam ser acessíveis não para uma nação específica, mas para a humanidade.”
Suleiman explica que ainda não há uma resposta científica que comprove a necessidade de um “booster” de vacina contra a Covid-19. “Na minha percepção, na minha visão, de quem trabalha com saúde pública, esse momento de imunizar indiscriminadamente com a terceira dose é um equívoco porque não faz sentido.”
O infectologista acrescenta que o mundo só terá controle da pandemia quando reduzir a chance de surgimento de novas variantes.
Ele faz um paralelo com o início da pandemia, quando o coronavírus foi descoberto, em 2019, em Wuhan, na China, mas que em poucos meses, no começo de 2020, o vírus já estava presente no planeta inteiro. “Se eu protejo uma população de uma nação mais desenvolvida e deixo as menos desenvolvidas sem, obviamente a circulação de pessoas nestes dois ambientes vai ocorrer, e se eu tiver a emergência de uma variante, essas variantes vão ser postas aí e vão ter uma capacidade maior de infectividade e podem ter uma capacidade maior de mortalidade. Não adianta só a mim a vacina, vacina não é um ato individual, é um ato de comunidade. Aqui a comunidade é o planeta Terra”, conclui.
Na opinião do médico, somente após imunização de toda a humanidade, caberá uma discussão sobre “boosters” ou terceira dose para segmentos específicos da população.