Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Fundação Gates escolhe e financia três projetos da Fiocruz sobre Covid-19

    Com 440 concorrentes, pesquisas do Rio e da Bahia estão entre as 10 selecionadas pela iniciativa

    Rayane Rocha*, da CNN, no Rio de Janeiro

    Três projetos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram escolhidos, entre 440 grupos de pesquisa do mundo inteiro, para serem financiados pelo Grand Challenges Icoda Covid-19 Data Science.

    A iniciativa da Fundação Bill & Melinda Gates, voltada para estudos de dados em saúde relacionados ao coronavírus, vai destinar US$ 100 mil durante um ano a esses trabalhos. No Brasil, o valor corresponde a R$ 515 mil.

    Com o dinheiro, o pesquisador Fernando Bozza, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), vai desenvolver o programa iniciado no começo da pandemia, no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro.

    Responsável pelo projeto “Efetividade da vacinação de Covid-19 no Brasil utilizando dados móveis”, ele vai se debruçar sobre a vacinação em massa na comunidade. Além disso, também vai analisar as informações do aplicativo de testagem “Dados do Bem”, que seleciona moradores para a realização de testes gratuitos.

    No último fim de semana, a Maré começou a vacinar toda a população adulta. Estima-se que a região, que tem cerca de 140 mil habitantes, aplicou 33.774 primeiras doses da AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, em moradores do conjunto de 17 comunidades.

    Ao todo, o projeto liderado por Fernando conta com 15 profissionais. Mais do que os estudiosos da fundação, a equipe também é composta por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e da Universidade de São Paulo (USP).

    “É um grupo bem diverso do ponto de vista de formações. Tem médicos epidemiologistas, engenheiros da computação e cientistas de dados. Essa diversidade de especializações é um dos pontos fortes do nosso grupo”, avalia o coordenador da pesquisa.

    Os outros dois projetos de pesquisa são “Avaliação dos efeitos das desigualdades sociais na pandemia de Covid-19 em um país de média e baixa renda”, comandado por Maria Yury Ichihara, e “Avaliação rotineira de infecções, prevenção e controle de Sars-Cov-2 em populações desiguais”, que tem à frente Juliane Fonseca.

    Os dois estudos são coordenados por pesquisadoras do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia).

    “Estamos super-felizes. Não só por essa possibilidade de responder perguntas ligadas à efetividade, uma das grandes questões do momento, mas também por criar uma comunidade de análise de dados voltados para a saúde. Vamos aprofundar essa área, que é uma das áreas do futuro”, comemora Bozza.

    “Vamos poder criar bases para novas políticas de saúde pública, baseadas em ciência e em dados”, acrescenta.

    Em 2022, um desses grupos será selecionado para um financiamento ainda maior, no valor de US$ 1 milhão de dólares (aproximadamente R$ 5,12 milhões). O projeto mais inovador e que apresentar os melhores dados ganha o novo prêmio.

    Efetividade da vacina 

    Para Bozza, o ponto-chave da pesquisa é que a efetividade da vacina não se restringe à disponibilidade do imunizante. O pesquisador explica que, mais do que ter as doses em mãos, é necessária toda uma logística para a imunização em massa.

    “Os Estados Unidos e outros países do primeiro mundo, por exemplo, têm vacinas sobrando, mas não são capazes de vacinar toda a população”, compara.

    Com base nisto, o pesquisador pretende contribuir com a análise das estatísticas de uma parcela da população pouco incluída pelo sistema público de saúde.

    “Hoje, ainda se sabe muito pouco sobre a dinâmica de transmissão dentro das favelas. Ao longo da pandemia, ficou muito claro que essas populações mais vulneráveis foram muito afetadas e que têm mais chances de mortes”, pondera.

    O pesquisador afirma que os frutos do estudo serão positivos porque deixarão resultados mesmo depois da pandemia.

    “A ciência e o estado não olham essas populações com a atenção necessária. O aprofundamento desse olhar sobre essas pessoas traz uma série de desdobramentos futuros em relação às ações que podem ser feitas dentro das periferias e das favelas”, assegura.

    *Sob supervisão de Stéfano Salles.

    Tópicos