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    “Plano de reabertura do Rio segue parâmetros inadequados”, aponta Croda

    Pesquisador entende que bases usadas pelo município têm referências diferentes da realidade brasileira

    Stéfano Salles, da CNN, no Rio de Janeiro

     Ex-chefe do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde durante a gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta, o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Júlio Croda, criticou o plano de flexibilização em três etapas, apresentado pela prefeitura do Rio de Janeiro. Para ele, as medidas são fruto de um erro de avaliação, que buscou referências inadequadas para a cidade. 

    O programa prevê que, se todas as metas de vacinação do município forem atingidas e os índices se mantiverem estáveis, a partir de 15 de novembro o uso de máscaras de proteção oficial só será obrigatório em unidades de saúde e no transporte público. Até lá, o município também pretende liberar, nas mesmas condições, 100% da capacidade de público nos estádios, para pessoas com esquema vacinal completo. 

    “O benchmarking levou em conta países desenvolvidos, o que não é a situação do nosso, e que vacinaram majoritariamente com Pfizer e AstraZeneca. Essa não é a realidade do Rio, que vacinou mais com Coronavac e AstraZeneca, um perfil mais parecido com o do Chile. Mais com dose um que dose dois. Fora que essas referências não previam a circulação da variante Delta. Nesses países, tudo está sendo revisto. E a Delta está batendo quase 50% de circulação no Rio de Janeiro”, avalia. 

    Na quarta-feira, a Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde, do estado, estimou em 45% presença da variante Delta nos casos de Covid-19 em andamento na capital, por base em proporção de amostras analisadas. A projeção foi confirmada pelo município. No estado, a projeção é de 26%. O Ministério da Saúde confirma 101 casos sequenciados da linhagem originária da Índia na cidade. 

    Embora entenda que o plano de flexibilização do município possa melhorar, Croda entende que a lógica municipal de flexibilização não faz sentido. 

    “É uma cidade muito grande, cercada de outras bastante populosas, nas quais tudo converge para a capital, e isso se repete no sistema de saúde. As cidades vizinhas têm realidades muito diferentes. O ideal é que houvesse uma coordenação central mas, como sabemos que isso não haverá, no mínimo, deveria ser estadual”, conclui Croda.

    Durante a semana, o secretário municipal de Saúde Daniel Soranz admitiu não ter consultado o Comitê Científico do município sobre o plano de reabertura. O órgão é consultivo, formado por especialistas e por profissionais das estruturas governamentais de saúde, técnicos e pesquisadores. 

    Procurada para responder aos pontos citados por Júlio Croda, a Secretaria Municipal de Saúde informou que os temas serão citados nesta sexta-feira (6), durante a apresentação semanal do Boletim Epidemiológico. 

    Detalhamento do plano de flexibilização

    No plano divulgado pelo município, todas as medidas restritivas seguem em vigor até o dia dois de setembro. Na data, se forem alcançadas as metas de vacinar 77% da população com a primeira dose e 45% com a segunda, serão liberados eventos em ambientes abertos, com uso obrigatório de máscaras e álcool em gel. Também será permitida a presença de 50% da capacidade de público nos estádios, para pessoas com esquema vacinal completo. O mesmo valeria para boates, casas de show e festas em locais fechados. 

    A programação prevê ainda que, em 17 de outubro, com 79% da população com a primeira dose aplicada e 65% tendo recebido a segunda, os estádios sejam abertos para 100% da capacidade de público, assim como as casas noturnas. 

    Na última fase, estimada para 15 de novembro, com 80% da população com a primeira dose e 75% tendo recebido a segunda, o uso de máscara deixaria de ser obrigatório, salvo em unidades de saúde e no transporte público. Também seria suspensas as medidas de distanciamento social. 

    Desde o anúncio, no entanto, o secretário municipal de Saúde Daniel Soranz e o prefeito Eduardo Paes (PSD) têm destacado que as datas são projeções, que dependem de condições favoráveis para que sejam seguidas, e que o município não terá dificuldades em mudar de planos, caso a situação se agrave.

    De acordo com o Painel Rio Covid-19, mantido pelo município, o Rio já aplicou a primeira dose em 62,5% da população, e a segunda em 28%. Os dois totais incluem também as pessoas que receberam imunizante de dose única.

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