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    Dentro do olho de um furacão a 300 metros de altitude

    O caçador de furacões Nick Underwood conta detalhes sobre sua experiência no furacão Elsa

    A tempestade tropical Elsa, vista da International Space Station, da Nasa, em 4 de julho de 2021
    A tempestade tropical Elsa, vista da International Space Station, da Nasa, em 4 de julho de 2021 Foto: Megan McArthur

    Por Jennifer Gray, Meteorologista da CNN

    Uma semana atrás, o caçador de furacões Nick Underwood estava sentado na parte traseira de uma aeronave Gulfstream 4 chamada Gonzo, voando ao redor da tempestade tropical Elsa, que se esticava sobre o Caribe.

    “Três, dois, um, solte a sonda”, ele ouviu o diretor de voo dizer: “Sonda solta”, respondeu Underwood, ao lançar um dispositivo de coleta de dados, a dropsonda, da aeronave. Depois de 20-30 segundos, ele soube que o lançamento foi um sucesso, pois os dados sobre a tempestade apareceram na tela do seu computador.

    Números de temperatura, pressão, umidade, velocidade e direção do vento começaram a chegar da dropsonda. Então, segundos depois, o instrumento caiu no oceano.

    É essa informação que foi enviada ao Centro Nacional de Furacões (NHC) dos EUA, que então informou ao resto do mundo que Elsa ainda era uma tempestade tropical, em vias de impactar os Estados Unidos.

    Foi a primeira missão de Underwood na temporada de furacões de 2021, mas ele não é um novato. Como um dos caçadores de furacões da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (conhecida pela sigla NOAA), ele tem assento na primeira fila para seguir algumas das tempestades mais ferozes do mundo.

    “Voar no meio de um furacão é como estar em uma montanha-russa de madeira rodando em um lava-rápido”, comparou Underwood. “Há muita vibração, agitação da esquerda para a direita, mas também há vento, chuva e granizo e tudo o mais batendo nas janelas enquanto você está voando entre as faixas de nuvens e trovoadas e através da parede do olho do furacão, que segue seu caminho”, detalhou.

    Ser um caçador de furacões não é para os fracos. Eles executam missões de oito horas dentro e ao redor da tempestade e continuam fazendo isso diariamente por seis dias até que a ameaça acabe. “Passei por algumas das maiores tempestades nos últimos anos. É sempre emocionante e algo que gosto de fazer, que é importante para muitas pessoas, então levo isso tão a sério quanto posso”, disse.

    O especialista voou dentro do furacão Irma em 2017. Foi seu primeiro voo como membro da tripulação. E logo em um furacão de categoria 5.

    “Seguimos para Barbados e voamos algumas missões enquanto a [tempestade] Irma ainda estava se formando sobre o Atlântico”, lembrou.

    “E então a Irma subiu de categoria, para uma tempestade de categoria 5, e lá estava eu. Já trabalhava há um ano, mas essa foi minha primeira grande tempestade como membro formal da tripulação. Houve alguma tensão, mas eu passei muito bem”, contou. Underwood disse que estar no centro da tempestade durante o furacão Matthew em 2016 foi o que realmente o atraiu para esse trabalho.

    “Foi o meu primeiro voo para dentro de um furacão e fui como observador. Eu não estava 100% preparado para o que estava prestes a passar”, confessou. “Nas primeiras duas horas eu estava bem e nas seis seguintespassei muito mal, não estava me divertindo muito, mas lembro-me de que uma vez o sol nasceu e ainda estávamos fazendo passagens pelo olho da tempestade. Eu olhei para cima, superando o fato de estar passando mal, e pensei, ‘uau! Isso é incrível’”.

    Nick Underwood
    O ‘caçador de furacões’ da NOAA, Nick Underwood, segura um dropsonde – que coleta dados em torno da tempestade
    Foto: Mike Mascaro

    “Uma vez que você está no olho [da tempestade], é aí que começa a verdadeira caçada”, disse Underwood. “A gente manobra para descobrir onde os ventos de nosso nível de voo chegam a zero, porque é nesse ponto que está o verdadeiro centro de pressão.”

    À medida que a tripulação sai do olho, ela atinge a parede do olho, que é a parte mais forte da tempestade.

    “Ela não se chama parede à toa. Você passa de um dia agradável e ensolarado de volta para o pior tempo em que pode se encontrar”, contou. Surpreendentemente, são algumas das tempestades menores que causam mais tensão que as maiores.

    A aeronave leva de 12 a 15 pessoas a bordo. Todos têm funções especiais e fazem com que o processo funcione perfeitamente.

    “O diretor de voo olha constantemente para os radares que temos a bordo e tenta escolher as melhores partes do furacão para passarmos, as partes que não vão nos destruir”, explicou.

    Underwood também sobrevoou os furacões Dorian, Harvey e até Maria, pouco que este atingisse a costa de Porto Rico. Foi um momento comovente para ele, pois ele estava na aeronave olhando os dados e percebendo naquele momento que a tempestade causaria um impacto direto no solo. “Lembro-me de Maria como esse peso muito pesado, porque agente olhava os dados e esperava que o furacão mudasse de direção em algum lugar. Daí fomos percebendo que isso simplesmente não iria acontecer e então, é claro, Porto Rico foi devastado”.

    “Cada tempestade é diferente e você certamente as respeita como tal. Tudo o que podemos fazer é reunir as informações e usá-las para melhor alertar as pessoas sobre o que está vindo em sua direção”.

    Underwood não leva seu trabalho na brincadeira. Ele sabe que quanto melhor ele e a tripulação se saírem na tempestade, mais precisa será a previsão e melhor será o aviso que as pessoas receberão do que está por vir.

    Enquanto a Tempestade Tropical Elsa atravessava o Mar do Caribe, a astronauta da NASA Megan McArthur compartilhou esta imagem tirada de seu ponto de vista a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS).

    Ela escreveu: “Tempestade Tropical Elsa a partir da @Space_Station hoje. Fiquem seguros, todos”. Elsa chegou à terra firmena quarta-feira, 7 de julho, ao longo da grande curva da Flórida.

     furacão Florença
    Olhando no olho do furacão Florença, em 2018
    Foto: Nick Underwood/NOAA

    Clima em foco

    Partes de Nova York City e Nova Jersey tiveram problemas na quinta-feira (7) da semana passada, quando 5 a 10 centímetros de chuva caíram em um curto período e inundaram ruas, estações de metrô e bairros inteiros. Isso aconteceu um pouco antes da tempestade tropical Elsa se mover pela área e trazer ainda mais chuva.

    A mesma área estava mais uma vez sob ameaça de enchente no início da semana, conforme mais chuvas e fortes tempestades chegam ao nordeste dos EUA. Cidades como Nova York e Boston podem acumular de 3 a 10 centímetros de chuva.

    Perspectiva de clima tropical

    Os trópicos devem permanecer muito quietos esta semana. Nenhuma atividade tropical é esperada para os próximos cinco dias, de acordo com o Centro Nacional de Furacões.

    “Existem algumas áreas como o Golfo do México e ao redor das ilhas caribenhas que são favoráveis ao desenvolvimento [de tempestades], mas a maioria delas está passando por fortes ventos de cisalhamento ou ar seco”, disse o meteorologista Dave Hennen da CNN.”Nenhum de nossos modelos de computador confiáveis está apresentando desenvolvimento esta semana”.

    O ar seco manterá as chances de desenvolvimento de tempestades baixas. Obviamente, as previsões sempre podem mudar, portanto, mantenha-se atualizado durante a semana. A temporada de furacões normalmente atinge o pico por voltade 10 de setembro e vai até 30 de novembro.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês aqui.)