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    Cuba facilita a entrada de alimentos e medicamentos após protestos

    Medidas são vistas como pequenas concessões a demandas de manifestantes, mas há dúvidas se serão suficientes para evitar novos levantes

    Manifestantes protestam contra o governo cubano em Havana
    Manifestantes protestam contra o governo cubano em Havana Foto: REUTERS/Alexandre Meneghini

    Sarah Marsh e Nelson Acosta, da Reuters

    Cuba anunciou na quarta-feira (14) que estava levantando temporariamente as restrições sobre a quantidade de alimentos e medicamentos que os viajantes poderiam trazer para o país, uma aparente concessão às demandas dos manifestantes que foram às ruas no último fim de semana.

    Milhares de pessoas se uniram no domingo em uma onda de protestos em todo o país por falta de bens básicos, restrições às liberdades civis e ao tratamento pelo governo de um surto de infecções pela Covid-19, na agitação mais significativa das últimas décadas no país de governo comunista.

    O governo culpou os “contra-revolucionários” financiados pelos Estados Unidos, explorando as dificuldades causadas pelo embargo comercial americano de décadas e que foi apertado por Washington em meio à pandemia, empurrando a economia cubana para a beira do abismo.

    Vários países e as Nações Unidas exigiram que o governo cubano respeitasse o direito dos cidadãos de se expressarem. Outros, como o México, afirmaram que a melhor maneira de ajudar o povo cubano seria se os Estados Unidos aliviassem as sanções.

    Em Cuba, um número crescente de artistas de alto nível, da banda de salsa Los Van Van ao pianista de jazz Chucho Valdes, criticaram a forma como as autoridades lidaram com os protestos instando-as a ouvir os manifestantes em vez de combatê-los.

    As interrupções intermitentes da internet que os ativistas dizem ter sido projetadas para evitar mais distúrbios foram ligeiramente aliviadas na quarta-feira, embora o acesso às mídias sociais e aos serviços de mensagens tenha permanecido restrito.

    As autoridades culparam uma campanha nas mídias sociais liderada pela hashtag #SOSCuba, que possui apelos por ajuda humanitária, como estímulo dos protestos, dizendo que ela foi lançada por mercenários apoiados pelos EUA que procuravam desestabilizar o país comunista.

    Eles compararam a situação com uma operação apoiada pelos EUA para enviar ajuda à Venezuela em 2019, que terminou em um impasse violento na fronteira com a Colômbia.

    Ainda assim, uma das exigências da campanha era que o governo derrubasse as restrições alfandegárias sobre alimentos, medicamentos e produtos de higiene que estão faltando no país em meio a sua pior crise econômica desde a queda de sua antiga aliada, a União Soviética.

    O presidente cubano Miguel Diaz-Canel
    O presidente cubano Miguel Diaz-Canel faz declaração durante manifestações em Havana
    Foto: Yander Zamora/Anadolu Agency via Getty Images

    O primeiro-ministro Manuel Marrero disse, na quarta-feira, que o governo faria exatamente isso a partir da próxima segunda-feira, levantando as restrições até o final do ano. “Era uma exigência feita por muitos viajantes e era necessário tomar esta decisão”, afirmou em uma mesa redonda na televisão estatal, ao lado do presidente Miguel Diaz-Canel.

    Não ficou imediatamente claro quanta diferença a mudança faria, dado que há poucos vôos no momento para a ilha caribenha, que passa pelo seu pior surto de coronavírus desde o início da pandemia.

    Yoani Sanchez, uma jornalista cubana crítica ao governo que dirige o site de notícias 14ymedio, foi rápida em tweetar que tais concessões não seriam suficientes para apaziguar aqueles que haviam protestado no domingo. “Não queremos migalhas, queremos liberdade, e queremos agora”, escreveu. “As ruas falaram: nós não temos medo”.

    Os cubanos dizem ter sido frustrados por interrupções na internet móvel e acesso restrito às redes sociais e plataformas de mensagens desde domingo. “Há vários dias ninguém consegue se conectar”, disse Andrea Lopez, moradora de Havana. “Meu marido está no México e eu não consigo falar com ele”.

    Mais de 200 pessoas foram detidas durante ou após os protestos, de acordo com o grupo de direitos exilados Cubalex, e apenas um grupo foi libertado até agora.

    Diaz-Canel disse que havia três tipos de manifestantes: contra-revolucionários, criminosos e aqueles com frustrações legítimas. A televisão estatal mostrou imagens de uma multidão saqueando uma loja e outra atacando um carro policial vazio.

    Funcionários do Ministério do Interior afirmaram em um programa transmitido posteriormente que alguns dos detidos seriam perseguidos por crimes como incitação à violência, desprezo, roubo e danos a bens públicos, que acarretam longas penas de prisão.