Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Diretor do BC: Momento é crítico para saber como economia vai ficar no pós-Covid

    Para Bruno Serra, esse é um momento "perigoso" para a inflação, com setor de serviços voltando a funcionar em meio ainda a pressão de preços no setor de bens

    Eduardo Rodrigues e Fabrício de Castro, do Estadão Conteúdo

     

    O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, avaliou nesta segunda-feira (12) que este é momento talvez mais crítico para saber de fato como a economia vai funcionar no pós-pandemia. Para ele, esse é um momento “perigoso” para a inflação, com o setor de serviços voltando a funcionar em meio ainda a uma pressão de preços no setor de bens.

    “Certamente ainda não estamos no pós-pandemia, mas estamos caminhando para isso. Vamos ver como as economias irão se equilibrar daqui para frente”, afirmou, em videoconferência organizada pelo Santander.

     

    Serra lembrou que a pandemia de Covid-19 derrubou a demanda por serviços em 2020, enquanto os governos tomaram medidas para recompor a renda das populações em grande medida. “Um porcentual maior da renda das famílias passou a ser direcionado para consumo de bens, em termos globais. Quando você está impedido de consumir serviços, mesmo que se poupe uma parte desses recursos, o choque na demanda por bens é enorme. O consumo de bens subiu muito rápido”, explicou.

    Segundo o diretor, a grande questão será como será a dinâmica de preços na abertura da economia pós-pandemia. “Talvez os próximos meses sejam o momento mais difícil de condução da política monetária. Com retomada da economia, a renda disponível está dada. Com a retomada do consumo de serviços, é importante saber se demanda por bens vai desabar”, completou.

    Serra avaliou que inflação de bens pode demorar um pouco mais a cair em função da pressão de custos. “Ainda assim, a renda disponível não vai dar saltos adicionais daqui para frente. Se houver direcionamento de renda ao setor de serviços, a não ser que se consuma essa poupança acumulada muito rápido, provavelmente haverá redução de demanda em bens”, completou.

    Mercado de trabalho

    Bruno Serra disse que a instituição não vê uma medida que seja indiscutível sobre o hiato do mercado de trabalho e considerou isso um “problema grande”. Para o diretor, existe ainda uma dúvida enorme sobre a velocidade em que hiato do trabalho se fechará ao longo do tempo.

    “Temos incerteza de ambas as pesquisas (Caged e Pnad) sobre mercado de trabalho”, afirmou na videoconferência. “A sensação é de que o Caged é mais próximo da realidade econômica que a PNAD”, completou.

    Serra considerou ainda que a alimentação fora do domicílio é muito importante para a inflação subjacente e destacou que parece estar havendo alguma recomposição de preços nesse componente. “Isso estaria mais ligado ao fator alimentos do que ao setor de serviços em outros segmentos, que seguem muito baixos”, acrescentou.

    Horizonte de política monetária é 2022

    Questionado sobre a alta de preços administrados neste ano, sobretudo da energia elétrica, o diretor do BC disse que a instituição não avalia ainda que a inércia inflacionária de 2021 para 2022 seja um risco altista nem baixista para o próximo.

    “O horizonte relevante para a política monetária é 2022. Qualquer choque em 2021 será importante na medida em que ele aumente a inércia para 2022. A inércia vai estar na conta, se o aumento da inflação para 2021 for muito relevante, potencialmente alguma coisa pode extrapolar para 2022, mas isso seguirá o modelo (de projeção)”, respondeu.

    No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou pela terceira vez consecutiva a Selic em 0,75 ponto porcentual, para 4,25% ao ano. O colegiado passou a considerar apropriada a normalização da taxa de juros para o patamar neutro e indicou um novo ajuste de mesma magnitude ou ainda maior na Selic na próxima reunião.

    Bruno Serra enfatizou que a instituição está lutando para mostrar que está comprometida com o centro da meta de inflação para 2022. “Qualquer desancoragem das projeções preocupa. Vamos fazer o que for necessário para trazer inflação para o centro da meta no horizonte relevante. Não temos nenhum compromisso diferente, o compromisso é para acertar”, reafirmou.

    Serra admitiu que o BC pode cometer erros em suas decisões, mas lembrou que a instituição sempre usa a foto do momento para decidir sobre a política monetária e evolui conforme o cenário caminha. “O mercado é bem remunerado para fazer apostas para um lado ou outro. Mas isso não pauta as decisões do BC. A gente se pauta pelas projeções de inflação e balanços de risco. O que mercado precifica ou não faz pouca diferença para a gente, a não ser no caso das projeções de inflação, que olhamos com cuidado extremo”, completou.

    Serra evitou comentar a respeito de possibilidade de alta de 1,00 pp da Selic no próximo encontro.  “A projeções de inflação implícitas já se reduziram antes dessa última reunião do Copom, antes do Copom mencionar a possibilidade de redução mais tempestiva do estímulo”,  disse.