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    No ar há um ano, painel Covid em favelas do Rio tem mais mortes que 166 países

    Serviço é mantido por rede de ONGs, associações de moradores e movimentos sociais

    Stéfano Salles, , da CNN, no Rio de Janeiro 

    No ar há um ano, o Painel Unificador das Favelas Covid-19 registrou desde o início da pandemia 5.855 mortes provocadas pela doença. O mapeamento inclui 330 comunidades e esse total de óbitos somados é superior ao número registrado em 166 países, quando comparado com registros da Universidade Johns Hopkins (EUA), que faz levantamentos diários em escala mundial. Ao longo deste período, foram registrados 77.246 casos confirmados da doença. 

    E esses números podem ser ainda maiores, porque a iniciativa é formada por Organizações Não Governamentais (ONGs), associações de moradores e voluntários e, envolvendo 50 organizações que cobrem 67,5% dos domicílios de comunidades da capital. Se parte importante da cidade está fora do levantamento, mesmo na área coberta há déficit por conta do que a rede aponta como dificuldade de acesso dos moradores de comunidade à rede de saúde. 

    Diretora executiva da Rede de Comunidades Catalisadoras (ComCat), responsável pelo painel, Theresa Williamson destaca que o painel é concentrado no Grande Rio, com ênfase na capital, que abriga 330 comunidades monitoradas. Entre elas, as maiores. O ranking de casos confirmados é liderado pelo Complexo da Maré, na Zona Norte, com 6.269 casos. Também neste local foi registrado o maior número de mortes: 292. A Rocinha, na Zona Sul, tem o segundo maior número de casos: 3.406. No entanto, o segundo lugar em número de óbitos é do Complexo Fazenda Coqueiro, no município de Itaguaí: 210.

    “Há muita subnotificação, porque as favelas são ainda mais vulneráveis à doença e, no entanto, não receberam nenhum tipo de planejamento especial para enfrentamento da pandemia em tempo real. Testagem em massa só houve na Maré. Assim, no geral, embora sejam mais vulneráveis, as favelas tiveram mais dificuldade de acesso aos serviços do que o asfalto. O que temos é um serviço feito pela comunidade, que poderia ser feito pelo próprio estado”, afirma. 

    O Painel Unificador das Favelas Covid-19 surgiu porque os dados oficiais dos municípios – principalmente, da capital do estado – não separam os dados de casos confirmados e mortes por comunidades, mas por bairros oficiais. Desde o início da pandemia, a Prefeitura do Rio tem prometido divulgar os números de casos e óbitos também por favela, o que ainda não aconteceu. 

    “Com dados públicos, poderiam ter sido feitos trabalhos imediatos, os surtos locais teriam sido percebidos, e os momentos de intervenção seriam aproveitados. Poderíamos ter prevenido mais, como sociedade, e estruturado melhor as favelas. O painel não aponta para si, mas para a omissão do estado”, conclui Thereza Williamson. 

    Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não retornou os contatos até o momento.