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    Davati nomeou oficialmente reverendo para tratar de vacinas com governo

    Empresa justificou a indicação da Senah como sua interlocutora 'devido às dificuldades de atender as necessidades' do Ministério da Saúde

    Renata Agostinida CNN

     A Davati Medical Supply, que tentava fechar um negócio bilionário de venda de vacinas com o governo brasileiro, nomeou no início de março como sua representante oficial junto ao Ministério de Saúde uma entidade de Brasília dirigida por um líder religioso.

    De acordo com um ofício obtido pela CNN, a empresa justificou a indicação da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários) como sua interlocutora “devido às dificuldades de atender as necessidades” do Ministério da Saúde.

    O documento foi encaminhado por e-mail ao diretor do departamento de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Cruz, no dia 8 de março. Ele é assinado por Cristiano Alberto Carvalho, representante oficial da Davati no Brasil.

    “Devido às dificuldades de atender às necessidades deste Ministério quanto a vacina Sars- CoV2, a Davati Medical Suply, está nomeando o SENAH – Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, Sediado em Brasília DF para que seja nosso interlocutor de forma humanitária junto a este órgão”, diz o ofício. 

    “Solicitamos de Vossa senhoria, especial gentileza de confirmar que a Senah vem tratando desta aquisição com este Ministério e possui legitimidade no processo para que possamos encaminhar ao mesmo a documentação necessária”, finaliza Cristiano Carvalho no documento.

    Entidade é dirigida por reverendo

    A Senah, que tem sede em Brasília, é dirigida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula, líder religioso ligado à Igreja Batista. Foi ele quem abriu as portas do Ministério da Saúde para Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como vendedor da Davati e confirmou à CPI da Pandemia que recebeu oferta de propina enquanto tentava fechar negócio para a venda de vacinas da Astrazeneca.

    Em entrevista à CNN, Lauricio Cruz, que dirige o departamento de Imunização, afirmou que recebeu em audiência no Ministério da Saúde o reverendo Amilton de Paula e Dominghetti no dia 22 de fevereiro. 

    Amilton Gomes de Paula preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários
    Amilton Gomes de Paula preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários
    Foto: Facebook/Senah/Reprodução

    De acordo com Lauricio, no encontro, o religioso fez oferta para venda de 400 milhões de doses de Astrazeneca e foi orientado, então, a procurar a secretaria-executiva da pasta, comandada à época por Élcio Franco.

    À CPI da Pandemia, Luiz Paulo Dominghetti disse que recebeu cobrança de propina do então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, num jantar no dia 25 de fevereiro em Brasília.

    O e-mail enviado pela Davati nomeando o reverendo Amilton como seu interlocutor oficial junto ao Ministério da Saúde foi enviado 11 dias depois do encontro relatado por Dominghetti.

    No dia 9 de março, Lauricio Cruz respondeu ao e-mail com a nomeação da Senah. Ele confirmou que o reverendo Amilton de Paula esteve no ministério em reuniões tanto na Secretaria de Vigilância de Saúde, à qual o departamento de Imunização é subordinado, quanto no departamento de Logística. Lauricio diz que o assunto foi encaminhado à secretaria-executiva.

    Procurados, Amilton de Paula e a Senah não retornaram os contatos da reportagem. Cristiano Carvalho não quis comentar.

    A Davati afirmou, por meio de nota, que seus advogados no Brasil ainda estão analisando o caso. Disse ainda que “em relação à proposta de intermediação na venda de vacinas, consigna-se que não houve concretização de venda no país por não se ter recebido manifestação de interesse de compra por parte do Ministério da Saúde, pois nunca foi assinado nenhum documento”. 

    A companhia também afirmou que “estará à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos juridicamente necessários, certa de que não houve, de sua parte, qualquer procedimento indevido”.