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    Com craque no gol, seleção feminina do Chile estreia sem promessa de medalha

    Jogadoras sul-americanas carregam para a Olimpíada de Tóquio a efervescência política que marcou o país nos últimos anos

    Leandro Iamin, colaboração para a CNN

    Quando entrar em campo às 4h30 (horário de Brasília) desta quarta-feira (21), em Sapporo, para enfrentar a Inglaterra, a seleção do Chile de futebol feminino terá em campo uma parte ativa da sua história política mais recente.

    A nova Constituição do país, que aniquilou a letra então vigente que datava da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), tem inédita participação de 50% de mulheres, e recebeu particular atenção de jogadoras de futebol.

    Iona Rothfeld, jogadora, cientista política e presidente da Associação Nacional de Jogadoras de Futebol Feminino do Chile (ANJUFF), se tornou o maior símbolo desse movimento, mas há vozes ativas inclusive no elenco chileno que estreia em Tóquio.

    “A democracia chilena viola, tortura e mata seus cidadãos”. Foi assim que a seleção do Chile se manifestou, com uma faixa, em 9 de novembro de 2019, ao entrar em campo para um amistoso contra a Austrália, enquanto o país fervia com o povo na rua pedindo nova Constituinte e sofrendo com investidas violentas da polícia.

    O time masculino, cuja geração atual mudou a história do jogo no país por seus êxitos esportivos, optou por cancelar seu jogo, enquanto o elenco feminino topou correr até o risco de ser punido pela Fifa (Federação Internacional de Futebol), que não permite esse tipo de manifestação. Quem segurava a faixa era a atacante Fernanda Pinilla, que está em Tóquio.

    Pinilla, de 27 anos, jogadora da Universidad de Chile, poderia ser doutora em física. Congelou seu curso para seguir carreira de jogadora. Feminista e lésbica, foi filiada ao partido Convergência Social, mas se tornou uma voz poderosa para múltiplas pautas sociais a partir de sua atividade espontânea de rua e do uso de sua visibilidade profissional para este fim.

    Assim, ela ajudou na associação deste grupo de atletas ao momento que o Chile viveu. A zagueira Daniela Pardo, que também está na Olimpíada, foi outra voz bastante ativa em tempos de constituinte. Nem Pinilla nem Pardo são craques como Arturo Vidal e Alexis Sánchez, mas igualmente mexeram de maneira definitiva com a profissão que praticam.

    O Chile ficou fora da segunda fase da Copa do Mundo de 2019 após uma dramática partida contra a Tailândia (vitória por 2 a 0). Faltou um gol de saldo para a vaga chegar, o que parecia bem possível dada a fragilidade do adversário, e as lágrimas após o apito final marcaram a campanha.

    Aquele sentimento de frustração foi seguido de recebimento caloroso no país e fortaleceu as bases de relação entre quem joga e quem assiste. Não por acaso foram apoiadas 5 meses depois, no episódio da faixa contra o governo chileno.

    O temperamento desta geração de jogadores chilenas não se manifesta só em derrotas e em lutas políticas. Su Helen Galaz, zagueira que fez parte da seleção que foi à Copa em 2019, não está em Tóquio. Ela recusou a convocação que recebeu para o pré-olímpico – alegou motivos pessoais  que podem ser traduzidos em problemas com a equipe técnica da seleção.

    Destaque no gol

    Christiane Endler, de 30 anos, é a goleira da seleção chilena – e uma referência mundial na posição. O técnico de La Roja é José Letelier, “O Polvo”, ex-goleiro do Colo-Colo, campeão da Copa Libertadores pelo clube em 1991. Curiosamente, apenas um mês separa a conquista de Letelier e o nascimento de Endler.

    Endler, que jogou duas vezes pelo Colo-Colo em seu país, brilha há uma década no exterior, e acaba de fazer um movimento incomum: trocou o PSG, onde trabalhou por quatro anos, pelo Lyon, o maior rival local na modalidade. Transação polêmica de um personagem pouco bombástico.

    Com 1,83m, “Tiane” Endler exerce liderança esportiva. Não é enfática como algumas de suas colegas em questões políticas, mas foi uma das que lamentou publicamente a decisão de Su Helen Galaz de recusar a seleção. Não pela Justiça ou não do motivo em si, mas por falta de reservas à altura. Endler, certamente a referência técnica de uma seleção sem craques, prefere atuar socialmente financiando escolinhas de futebol.

    Entre temporadas vividas nos Estados Unidos e na França, passou, em 2014, uma temporada na Inglaterra, rival desta quarta-feira, onde defendeu o Chelsea. Naquela época, foi eleita em seu país uma das 100 personalidades jovens mais influentes. Já era a goleira que hoje, sete anos depois, o mundo conhece e a Olimpíada verá ao vivo pela primeira vez.

    Japão e Canadá completam o grupo e se enfrentam logo após a estreia de chilenas e inglesas.

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