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    Seleção feminina de futebol dá largada na última jornada olímpica de Formiga

    Com Marta e a recordista Formiga em campo, seleção encara uma China que também não conseguiu títulos no auge da sua melhor geração

    Leandro Iamin, colaboração para a CNN

    As semelhanças entre Brasil e China, seleções que se enfrentam nesta quarta-feira (21), às 5h, em Miyagi, não são aparentes em um primeiro momento. As duas equipes, porém, possuem uma trajetória semelhante em pelo menos um aspecto: a perseguição pelo lugar mais alto do pódio mundial ou olímpico. Tanto brasileiras quanto chinesas experimentaram derrotas nas duas finais mais importantes que possuem, viram a melhor geração envelhecer e já não são as favoritas que um dia foram. O duelo inaugural pode ser decisivo no sonho de ambas equipes de alcançar a fase final.

    O período entre 1996 e 1999 foi o melhor das Rosas de Aço, como são conhecidas as mulheres da seleção chinesa. A atacante Sun Wen, eleita simplesmente a jogadora do século XX pela Fifa (Federação Internacional de Futebol), foi o rosto e o nome de uma equipe que acabou com a medalha de prata olímpica em 96 e o segundo lugar na Copa do Mundo de 99, entre outras boas campanhas. Nas duas ocasiões, foram derrotadas pelos Estados Unidos. A trajetória é familiar ao time brasileiro, também finalista e derrotada em uma Copa (2007) e em duas Olimpíadas (2004 e 2008).

    Outra semelhança entre as partes é o sucesso continental. O Brasil tem 7 títulos da Copa América e as chinesas 8 Copas da Ásia. Sucesso regional que não se traduziu em medalhas de ouro nas mais nobres competições. Estas são as semelhanças, mas, mesmo nas diferenças, as histórias de brasileiras e chinesas se cruzam.

    Sem sequência

    A China aproveitou a sua excelente geração dos anos 90 para criar seu campeonato nacional. No entanto, duas décadas depois, embora a prática tenha crescido muito entre mulheres no país, a seleção chinesa não reflete tecnicamente esse esforço. As Rosas de Aço pararam nas oitavas, sem brilho algum, no Mundial de 2019. Quem domina hoje o futebol da região é o Japão, e o campeonato chinês, mesmo com boa estrutura física e econômica, precisa das jogadoras estrangeiras para alcançar um bom nível. É aí que entram as brasileiras.

     

    Bia Zaneratto é um exemplo. A camisa 16 do Brasil e 10 do Palmeiras foi eleita com larga vantagem a melhor jogadora da primeira fase do brasileiro de 2021, mas não deve jogar a fase final, pois pertence ao Xinjiyuan, de Wuhan, onde aconteceu o foco inicial da Covid-19. O futebol brasileiro só viu Bia ao vivo em decorrência deste empréstimo forçado pela pandemia, e é difícil acreditar em um investimento econômico que a tire do clube chinês. Outras atletas de seleção, como a zagueira Rafaelle, também passaram por isso.

    Em 2017, quando a atacante Cristiane deixou o PSG para jogar na China, se tornou, na época, a jogadora mais bem paga do planeta. A notícia serviu como prova do poder do jogo na China, mas tal fartura de recursos não foi transformada em liga de ponta mesmo com atletas renomadas, que costumam reclamar da pouca intensidade física e da baixa exigência técnica que a rotina de treinos e jogos causam por lá.

    Treino da seleção feminina no Japão. No destaque, Marta
    Treino da seleção feminina no Japão. No destaque, Marta
    Foto: Sam Robles/CBF

    2050

    O dinheiro abundante também não protegeu as Rosas de Aço de lidarem com situações precárias no processo pré-olímpico em meio a pandemia. Na campanha classificatória, o time chinês precisou treinar confinado em corredores de um hotel na Austrália que não oferecia condições adequadas. Nada que as atletas brasileiras já não tenham visto em algum momento da carreira.

    Quando Marta, Formiga e cia entrarem em campo em Miyagi para a estreia olímpica, terão pela frente adversárias que fazem parte de um processo de longo prazo – a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China prevê o país como potência no futebol em 2050. Entre semelhanças nos resultados esportivos, ao menos uma outra grande diferença marca o encontro: se a melhor jogadora do século passado não teve, ainda, uma sucessora à altura no time chinês, o Brasil ainda tem a chance de assistir a sua Rainha em ação. Talvez pela última vez em território olímpico.

    Marta está confirmada para a partida, com chuteira sem marca e foto promocional com o cabelo cobrindo o logotipo da fornecedora da CBF. Dois anos após a Copa do Mundo, as pautas de igualdade de gênero continuam urgentes, mas a própria Marta, um par de anos mais velha, já não é, nem pode ser, tão influente. Com a recordista Formiga atrás de si, atuando como volante e chegando a sua sétima e última olimpíada, Marta forma uma base histórica e referencial da qual Pia Sundhage precisa, paradoxalmente, se aproveitar e se defender. Pia, afinal, foi contratada para, entre outras coisas, renovar a seleção e pensar o Brasil a longo prazo. O resultado olímpico pode representar uma passagem ideal de bastão.

    A provável escalação brasileira é Bárbara; Poliana, Erika, Rafaelle e Tamires; Formiga, Andressinha, Marta; Debinha, Ludmila e Bia. O grupo de brasileiras e chinesas ainda tem a Holanda e a Zâmbia, respectivamente segunda e terceira adversárias do Brasil.

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