Zelensky convida Trump para ir à Ucrânia e diz que ele não encerraria a guerra “por causa de Putin”
Zelensky questionou a afirmação do ex-presidente dos EUA de que poderia encerrar a guerra da Rússia contra a Ucrânia dentro de 24 horas se fosse reeleito no próximo ano
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidou o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump para visitar a Ucrânia, depois que Trump afirmou que poderia encerrar a guerra da Rússia contra a Ucrânia dentro de 24 horas se fosse reeleito no próximo ano.
Zelensky questionou a afirmação de Trump numa entrevista ao programa “Meet the Press” da NBC, que foi ao ar no domingo (5), e o convidou a visitar a Ucrânia para ver pessoalmente os efeitos da invasão russa.
“Se ele puder vir aqui, precisarei de 24 minutos – sim, 24 minutos… para explicar ao presidente Trump que ele não consegue resolver esta guerra. Ele não pode trazer a paz por causa de Putin”, disse Zelensky.
Zelensky também elogiou o presidente Joe Biden por visitar a Ucrânia no início deste ano, dizendo “Acho que ele entendeu alguns detalhes que você só pode entender estando aqui. Então convido o presidente Trump.”
Trump afirmou à CNN em maio que a guerra não teria acontecido se ele fosse presidente quando a invasão da Rússia começou, e que poderia resolver o conflito em um dia se fosse reeleito.
“Se eu for presidente, resolveria essa guerra em um dia, 24 horas”, disse Trump à CNN meses atrás. “Vou me encontrar com Putin. Vou me encontrar com Zelensky. Ambos têm pontos fracos e ambos têm pontos fortes. E dentro de 24 horas essa guerra estará resolvida.”
Os comentários de Zelensky foram feitos depois que o principal comandante da Ucrânia ter alertado na semana passada que a guerra tinha entrado num “impasse”, enquanto o presidente ucraniano luta para manter o apoio arduamente conquistado em um mundo distraído pela guerra no Oriente Médio e com os parlamentares dos EUA divididos sobre a possibilidade de continuar financiando a guerra da Ucrânia.
O chefe militar da Ucrânia, general Valery Zaluzhny, escreveu num longo ensaio para The Economist que “tal como na Primeira Guerra Mundial, atingimos o nível de tecnologia que nos colocou num impasse”.
Embora a Ucrânia tenha resistido à invasão russa durante mais de 20 meses, Zaluzhny escreveu que sem um enorme salto tecnológico para quebrar o impasse, “muito provavelmente não haverá um avanço profundo e bonito”.
Desde o início da contra-ofensiva, a Ucrânia conseguiu retomar apenas uma faixa de terra, quase mil quilômetros recuperados de defesas russas fortemente armadas.
A Rússia ainda ocupa quase um quinto da Ucrânia e, nas últimas semanas, lançou novas ofensivas no leste, em torno de Avdviika e Vuhledar, em Donetsk, e perto de Kupyansk, em Kharkiv.
Zaluzhny disse que o conflito entrou “no que nós, nas forças armadas, chamamos de guerra ‘posicional’ de combates estáticos e de atrito… em contraste com a guerra de ‘manobra’ de movimento e velocidade”. Ele alertou que isto beneficiará a Rússia, dando tempo para reconstruir o seu poder militar para novos ataques à Ucrânia.
Questionado pela NBC se concordava com o seu principal general, Zelensky disse que “a situação é difícil”, mas não acredita que a guerra tenha chegado a um “impasse”.
“Temos a iniciativa em nossas mãos. Você pode imaginar como é uma guerra em grande escala ou como são dois anos de uma guerra em grande escala. Todo mundo fica cansado. Até o ferro cansa. No entanto, tenho orgulho dos nossos guerreiros e do nosso povo, por serem fortes… O nosso povo tem um forte desejo de vencer”, disse ele.
Zelensky também destacou os sucessos da Ucrânia no Mar Negro e na Crimeia, a península anexada que é uma artéria vital para o reabastecimento das tropas russas na Ucrânia continental.
“A frota russa está sendo destruída pelas nossas munições”, disse Zelensky à NBC, após uma série de ataques ucranianos bem-sucedidos a navios de guerra russos e portos da Crimeia durante o verão.
“Não podemos confiar em terroristas”
Mas convencer os seus aliados da possibilidade de vitória está se tornando cada vez mais difícil para Zelensky, à medida que a atenção do mundo se volta para a guerra no Oriente Médio e entre avisos do Congresso dos EUA de que o financiamento para a Ucrânia poderá se esgotar em breve.
A Casa Branca deixou claro que a quantidade de dinheiro que os EUA têm disponível para a ajuda militar à Ucrânia está se esgotando rapidamente, à medida que o novo presidente da Câmara, Mike Johnson, e o Senado continuam em desacordo sobre o pedido do governo federal para aprovar mais de US$ 1 bilhão em fundos para a segurança nacional.
O presidente Biden pediu ao Congresso para aprovar o projeto de lei suplementar, que inclui US$ 61,4 bilhões para a Ucrânia e US$ 14,3 bilhões para Israel, como um “acordo abrangente e bipartidário”.
Zelensky argumenta que a luta da Ucrânia contra a Rússia é do interesse da segurança nacional dos EUA. Ele disse à NBC que os soldados americanos poderiam eventualmente ser arrastados para um conflito europeu mais amplo com a Rússia se o apoio de Washington diminuísse.
“Se a Rússia matar todos nós, eles atacarão os países da Otan e vocês enviarão os seus filhos e filhas. E será – sinto muito, mas o preço será mais alto”, disse Zelensky.
“Você tem que entender, basta vir para a Ucrânia e ver. Somos as mesmas pessoas. Temos os mesmos valores”, disse ele quando questionado sobre por que os legisladores dos EUA deveriam aprovar mais ajuda militar à Ucrânia.
A relutância do Congresso em aprovar despesas adicionais para a Ucrânia surge no momento em que vários candidatos presidenciais republicanos argumentam que a Ucrânia deveria aceitar negociações de paz com a Rússia para pôr fim à guerra.
Zelensky, que há muito se opõe à ideia de negociações de paz, disse à NBC: “Não estou pronto para falar com os terroristas porque a palavra deles não é nada. Nada. Não podemos confiar em terroristas porque os terroristas sempre voltam, sempre voltam.”