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    Análise: Demora da Câmara dos EUA em aprovar ajuda a Israel expõe país dividido

    Parlamentares avaliam pacote de US$ 14 bi para o país parceiro, o que não deveria ser controverso, mas está revelando rixas entre e dentro dos partidos sobre a nova guerra no Oriente Médio

    Stephen Collinsonda CNN

    A batalha da Câmara dos Estados Unidos para enviar US$ 14 bilhões em ajuda de emergência a Israel está expondo disputas políticas que fazem com que os EUA pareça uma superpotência dividida, incapaz sequer de apressar a ajuda a um amigo que acredita estar travando uma guerra existencial.

    A votação do pacote era esperada para esta quinta-feira (2), embora esse cronograma pareça agora estar em risco, já que os rachas políticos do país e um consenso fragmentado em política externa ameaçam mais uma vez paralisar o governo.

    Esta não deveria ser uma decisão difícil.

    Uma votação sobre a ajuda a Israel deveria ser uma das medidas menos controversas a surgir na Câmara em anos.

    Mas os atrasos na aprovação da medida, o frágil equilíbrio de poder em Washington e as rixas entre e dentro de ambos os partidos sobre a nova guerra no Oriente Médio mostram que já não há votação fácil.

    A comoção em torno da questão centra-se em grande parte na decisão do recém-eleito presidente da Câmara, Mike Johnson, de pagar os US$ 14,3 bilhões em ajuda a Israel com cortes do mesmo valor no orçamento do Internal Revenue Service, o serviço da Receita Federal dos EUA responsável pelo imposto de renda.

    Isto é popular entre os conservadores, mas significa que muitos democratas votarão contra o que consideram um golpe político.

    O pacote de Israel também está sendo arrastado porque o presidente Joe Biden optou por incluí-lo num projeto muito mais amplo, que inclui o próximo lote de armas e munições para a Ucrânia.

    A conferência de Johnson se opõe a alguns aspectos do pedido de financiamento, que passa dos US$ 100 bilhões.

    E, enquanto o presidente da Câmara tenta propor um projeto de lei próprio sobre Israel, o Senado pode inserir a ajuda à Ucrânia e enviá-lo de volta à Câmara, atrasando ainda mais o envio da assistência dos EUA a Israel no meio da sua guerra com o Hamas.

    Johnson enfrenta as mesmas escolhas desagradáveis que McCarthy

    O debate está revelando múltiplas subtramas na política nacional, um ano antes das próximas eleições.

    E está pintando exatamente o tipo de imagem da disfunção americana que adversários como a China e a Rússia exploram em suas tentativas de enfraquecer o poder dos EUA.

    — A estratégia de Johnson mostra como uma conferência de extrema direita do Partido Republicano está disposta a adotar uma política linha-dura, mesmo em questões com um impacto global crítico. Sua decisão de incluir compensações do IRS também deixa claro que, assim como seu predecessor destituído, Kevin McCarthy, o republicano da Louisiana não pode garantir uma maioria funcional do partido sem fazer concessões aos membros mais linha-dura. No entanto, essas ações provavelmente nunca serão aceitas pela Casa Branca liderada pelos democratas ou pelo Senado, tornando-as, em última instância, fúteis. Por exemplo, Biden já prometeu vetar o atual projeto de lei da Câmara no caso improvável de ele chegar até ele. Mas Johnson está avançando – levantando a possibilidade de que ele está sendo liderado por elementos extremos de seu partido, em vez de liderá-los.

    — O presidente da Câmara pode sair fortalecido se conseguir fazer o projeto de lei ser promulgado sem mais atrasos. No entanto, ele também corre o risco de se colocar em uma posição que comprometa sua autoridade antes de construir uma base política eficaz. Embora sua jogada com o IRS possa conquistar votos republicanos suficientes para aprovar o projeto, isso não mudará a realidade do poder compartilhado em Washington. Mais cedo ou mais tarde, ele terá que apresentar uma medida que possa obter apoio na Casa Branca e no Senado, controlados pelos democratas. Isso pode exigir que ele conte com alguns votos democratas para a aprovação final, exatamente o cenário que revoltou os membros extremistas de direita do Partido Republicano e levou à queda de McCarthy, causando três semanas de vácuos de poder ridículos na Câmara. E, se o cronograma de votação em relação a Israel atrasar, Johnson perderá ainda mais tempo, apenas duas semanas antes de uma possível paralisação do governo que só pode ser evitada por meio de um projeto de financiamento que será ainda mais difícil de ser aprovado do que uma medida relacionada a Israel.

    — O debate sobre a ajuda também está expondo a grande divisão dentro do Partido Republicano em relação à política externa, entre os isolacionistas do “Faça a América Grande Novamente” e a ala mais antiga, que ainda advoga por um forte liderança global por meio de alianças que ajudaram a garantir a paz global desde a Segunda Guerra Mundial. A manobra de Johnson, ao sobrecarregar o projeto de lei de Israel com prioridades políticas e separá-lo do financiamento da Ucrânia, criou uma divisão com o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, um conservador ferrenho, mas que está mais alinhado com Biden do que com seu próprio partido na Câmara sobre o assunto. “Repetidas vezes, a história nos ensinou que os custos de se desengajar do mundo são muito mais altos do que os custos de se envolver”, disse McConnell na quarta-feira, antes de Johnson atravessar o Capitólio e almoçar com os senadores republicanos. “Embora seja tolo negar a clara ligação entre os adversários dos Estados Unidos e as ameaças que enfrentamos, é igualmente perigoso fingir que, como uma superpotência global, nossa nação não poderia ou não deveria enfrentá-los.”

    — Como McConnell sugeriu, o confronto relacionado à ajuda à Ucrânia também está expondo a divisão dentro dos republicanos e destacando a questão mais ampla de saber se os Estados Unidos e seu povo estão preparados para continuar sendo um baluarte da democracia global. Essa é uma questão fundamental e que está no centro de um possível confronto nas próximas eleições gerais entre Biden, um internacionalista cuja visão de mundo foi moldada na Guerra Fria, e o ex-presidente Donald Trump, um líder transacional que vê as alianças mais como esquemas de proteção do que multiplicadores do poder global americano. Afinal, a questão fundamental em jogo na Ucrânia é se os EUA continuarão a apoiar a independência de um país cujo direito de existir está ameaçado por uma invasão implacável planejada no Kremlin. Um grande número de republicanos na Câmara e um número crescente no Senado não veem a Ucrânia como um interesse vital da política externa dos EUA — fazendo com que alguns pareçam preferir o presidente russo Vladimir Putin à democracia em Kiev.

    — Os apoiadores da Ucrânia no Congresso viram alguma razão para esperança, no entanto, depois que Johnson participou do almoço semanal de política do Senado na quarta-feira. O parlamentar da Louisiana há muito tempo expressou ceticismo em relação à ajuda à Ucrânia, mas pareceu indicar que ele percebeu que tinha deveres mais amplos como presidente, além de suas próprias preferências políticas. Johnson disse à Fox News na semana passada que os EUA não deveriam abandonar a Ucrânia para Putin. O senador de Oklahoma, Markwayne Mullin, disse aos repórteres que o presidente novato indicou abertura para aprovar o financiamento da Ucrânia se tivesse o apoio dos republicanos da Câmara. E o senador da Carolina do Sul, Lindsey Graham, defensor do auxílio ao país devastado pela guerra, disse que ficou “impressionado” com o conhecimento em política externa do presidente. Mas as últimas semanas mostraram que há uma grande diferença entre o que um presidente vindo dos republicanos deseja fazer e o que ele pode fazer. É improvável que haja apoio suficiente para aprovar o financiamento da Ucrânia apenas com a maioria republicana. Portanto, ele precisará da ajuda dos democratas, o que pode prejudicar gravemente sua presidência.

    — Embora as cisões republicanas na política externa estejam ocupando a maior parte das manchetes, os reflexos da guerra de Israel com o Hamas na política doméstica estão se tornando um problema crescente para Biden. Alguns progressistas proeminentes estão cada vez mais críticos aos avanços de Israel em Gaza, onde centenas de civis foram mortos no que Israel diz serem ataques direcionados a líderes do grupo militante islâmico. O debate na Câmara sobre o pacote de ajuda ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu irá trazer à tona as tensões democráticas.

    O presidente Joe Biden se deparou com essa raiva durante uma viagem a Minnesota na quarta-feira, quando uma manifestante que se identificou como rabina Jessica Rosenberg começou a gritar “cessar-fogo já”.

    Biden explicou que era a favor de uma pausa humanitária nas operações israelenses, para dar tempo à libertação de reféns em Gaza, e disse que entendia a “emoção”.

    No entanto, se recusa a pedir publicamente a Israel que concorde com um cessar-fogo com o Hamas, alegando que o país tem o direito de se defender após os ataques terroristas de 7 de outubro que mataram 1.400 pessoas em Israel, a maioria delas civis.

    O presidente se encontra em uma posição política perigosa a um ano das eleições e não pode se dar ao luxo de ter poucos apoiadores entre eleitores progressistas e muçulmanos que apoiam os palestinos em estados indecisos como Michigan.

    Em um aparente sinal de que a Casa Branca compreende os possíveis riscos políticos, Biden revelou planos para uma nova estratégia de combate à islamofobia nos Estados Unidos na quarta-feira.

    A iniciativa poderia expor o presidente democrata a ataques dos republicanos em um momento em que o país está sendo abalado pelo crescente antissemitismo.

    No entanto, o conflito no Oriente Médio está deixando o presidente com um novo conjunto de desafios políticos complicados para navegar em casa.

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