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    Comissão da Câmara quer convocar ex-número 3 da Abin

    Paulo Fortunato foi alvo de operação que mirou suspeitos de espionar adversários de Bolsonaro; agentes encontraram mais de US$ 170 mil em sua casa

    Taísa Medeirosda CNN , Brasília

    Na esteira das apurações sobre um esquema ilegal de espionagem promovido por servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara deve votar nesta terça-feira (31) um requerimento para convocar Paulo Maurício Fortunato Pinto, ex-secretário de Planejamento e Gestão da Abin.

    Número 3 da agência até ser afastado da função por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Fortunato ocupou o cargo de diretor de operações de inteligência da agência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

    Foi por meio do departamento dele que a Abin contratou, em dezembro de 2018, o software israelense usado ilegalmente para monitorar políticos, jornalistas e ministros do STF.

    O caso foi revelado após a Polícia Federal (PF) identificar que o programa foi utilizado mais de 33 mil vezes para monitorar cerca 1,8 mil contatos. Dois servidores foram presos e outros três afastados. Entre estes, Paulo Fortunato.

    A PF apura a origem de US$ 170 mil (cerca de R$ 850 mil) encontrados na casa dele.

    “A utilização da Abin como instrumento de perseguição a inimigos políticos é mais uma face dos absurdos que foram colocados em prática pelo governo passado. Passar a limpo tudo o que aconteceu, para que quem fez isso seja responsabilizado e não continue infiltrado na máquina pública é uma necessidade”, defendeu o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), um dos autores do requerimento.

    Poucos dias depois do caso vir à tona, o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, compareceu à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI).

    Apesar de só ter assumido o comando da agência no governo Lula, Corrêa foi chamado para explicar o que a Abin, como instituição, sabe sobre o uso do programa espião.

    Os parlamentares questionaram, por exemplo, os motivos que levaram a agência a contratar o software, como era o uso interno da ferramenta, quais o critério de seleção dos monitorados e quem acompanhava esses monitoramentos.

    Corrêa, no entanto, afirmou que não teve acesso à sindicância interna aberta no órgão para apurar o uso do software espião.

    Com a ausência de informações, os membros do colegiado solicitaram a cópia do conteúdo da sindicância a quatro órgãos: Polícia Federal, Abin, Supremo Tribunal Federal (STF) e Controladoria-Geral da União (CGU).

    Alvo de críticas e CPI

    Em 2008, durante o segundo mandato do governo Lula, Fortunato foi diretor de contrainteligência da Abin. Ele acabou afastado da agência após a denúncia de que o órgão teria também realizado escutas ilegais contra políticos e ministros do STF.

    Na época, ele foi ouvido pela CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas. Disse que a Abin estava sendo “achincalhada na imprensa” e “pagando um pato” que não era dela.

    Na atual gestão, o nome de Fortunato é alvo da crítica desde sua nomeação, em abril deste ano. Durante sabatina no Senado, membros do parlamento chegaram a questionar Corrêa os motivos de um diretor de operações do governo Bolsonaro ser mantido no primeiro escalão da Abin.

    A CNN não conseguiu contato com a defesa de Fortunato para comentar as acusações.

    Veja também: EUA temem envolvimento do Irã na guerra entre Israel e Hamas