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    Beatles fazem mistério sobre novo lançamento que poderia ter sido feito com IA

    As redes sociais do revolucionário grupo inglês avisaram que algo será mostrado nesta quinta-feira, que pode ser a “última gravação dos Beatles”, que Paul McCartney mencionou em junho

    Alexandre Matiascolaboração para a CNN

    Na manhã desta terça-feira (25), as redes sociais dos Beatles publicaram a imagem de uma fita cassete com o link para seu site oficial. Ao seguir o link, a mesma imagem da ancestral fita cassete nos recepcionava pairando sobre um campo que pedia para que o visitante preenchesse com o seu endereço de e-mail. Ao prosseguir, a página seguinte avisa que um e-mail chegou à sua caixa postal e nele constava uma contagem regressiva de menos de 24 horas para as 10 horas da manhã desta quinta-feira. Parece que a tão aguardada espera pela última faixa gravada pelos Beatles já tem hora para acabar.

    Desde seu fim como banda, em 1970, público e o mercado da música ansiavam por um possível retorno da banda, sonho aniquilado quando John Lennon foi assassinado em frente à sua casa, em Nova York, nos EUA, em 1980. Mas mesmo antes disso, os Beatles sobreviviam em coletâneas e relançamentos, muitos deles inéditos e tornados públicos em discos pirata. Este movimento prosseguiu durante os anos 80, com o relançamento da discografia do grupo em CD e culminou na década seguinte, a partir do projeto de abertura do acervo de inéditas da banda chamado Anthology, que gerou três discos duplos, série e caixas de VHS e DVD.

    Desde então, o grupo vem relançando diferentes discos com material inédito em edições de luxo, incluindo novos filmes sobre a banda, como os documentários The First U.S. Visit (de 1991, dirigido por Kathy Dougherty, Albert Maysles, David Maysles e Susan Froemke) e Eight Days a Week (de 2016, dirigido por Ron Howard), além do relançamento de filmes que fizeram à época com o diretor Richard Lester, como A Hard Day’s Night (1964) e Help! (1965), o desenho animado Yellow Submarine e, claro, a série Get Back, lançada em 2021.

    Mas desde o meio do ano uma especulação antiga sobre uma última música inédita da banda ganhou forças de maneira inusitada. Há músicas dos Beatles documentadas por seu principal pesquisador e biógrafo, o inglês Mark Lewisohn, que nunca vieram à tona por meios oficiais, como “Black Dog Blues”, “A Case of the Blues”, “Circles”, “One and One is Two”, “Suicide”, “Watching Rainbows” e “Carnival of Light”, mas esta seria “a última gravação dos Beatles” e foi ventilada pelo próprio Sir Paul McCartney no programa Today, da emissora BBC Radio 4, em junho deste ano. “Nós a terminamos e será lançada este ano”, cravou um dos dois Beatles remanescentes. Além de John, o guitarrista George Harrison morreu em 2001.

    Inteligência artificial?

    A controvérsia desta notícia é que o próprio McCartney disse que a música foi completada com ajuda de inteligência artificial, o que fez os fãs ficarem de cabelos em pé. Os recursos de inteligência artificial para a criação artística atingiram níveis de excelência nunca vistos, mas há sempre uma sensação de artificialidade que faz muitos torcerem o nariz, como fios de cabelo e água feitos por computação gráfico ou atores envelhecidos ou rejuvenescidos artificialmente no cinema (quando não ressuscitados).

    Mas parte desta polêmica foi de alguma apaziguada quando o ator e mágico Penn Jillette, integrante da famosa dupla Penn & Teller, contou em julho deste ano que, em uma visita ao estúdio Abbey Road, onde os Beatles gravaram quase todas suas músicas, o produtor que encabeça os relançamentos da banda, Gilles Martin, filho do produtor musical do grupo, George Martin, mostrou a nova música para o ator. O depoimento foi dado no próprio podcast de Jillette, Penn Sunday School (https://pennsundayschool.com/) e ninguém ligado aos Beatles o desmentiu. Mesmo porque acalmou os fãs que temiam por uma colagem mal feita com a voz de John Lennon.

    Principalmente porque o ator explica que, quando Paul se referia à inteligência artificial, ele não estava falando de criar nada novo do zero, mas de um processo que os próprios Beatles usaram em seu sucesso mais recente, a série Get Back, lançada em 2021 em parceria com o serviço de streaming Disney+. As gravações que foram usadas no documentário dirigido por Peter Jackson foram registradas em um filme de 16 mm e em gravações em mono, uma qualidade risível se comparada às tecnologias de som e imagem atuais.

    Contudo, as imagens do seriado parece que foram gravadas ontem e a sutileza de detalhes no som parecia ter microfones espalhados por toda a sala. Isso deve-se ao trabalho do estúdio de Jackson na Nova Zelândia, o Weta, responsável por sucessos como Senhor dos Anéis e Avatar, que usou, justamente, de inteligência artificial para melhorar tudo. O software desenvolvido pelo estúdio aprendia as características de cada voz, de cada instrumento, de cada célula de imagem e conseguiu melhorá-los no detalhe.

    “Now and Then?”

    Essa tecnologia foi acionada quando Paul McCartney percebeu que poderia usá-la para resolver um problema: uma gravação inédita de John Lennon tocando uma música não poderia ser usada por conta de som ambiente. Este processo já havia sido feito no Anthology, quando os dois primeiros volumes da coletânea de inéditas trouxeram, cada uma delas, uma música com os três Beatles vivos tocando junto com uma gravação caseira de John: “Free as a Bird” e “Real Love”. Havia uma expectativa que Anthology 3 trouxesse mais uma inédita, entre elas “Grow Old with Me” (que já havia sido lançada num disco póstumo de John) e “Now and Then”, abortada justamente devido às condições da gravação original. Teller não diz, no entanto, que a canção que ele ouviu seria “Now and Then”.

    O que ele conta é que a gravação que foi entregue à Weta trazia John Lennon tocando piano com uma TV ligada ao fundo e, quando a recebeu de volta, tinha tanto a voz quanto o piano – e até a TV! – divididas em canais separados, como se tivessem microfones dedicadas apenas a cada um deles. Teller conta que George havia gravado guitarras para esta música quando ainda estava vivo (o que reforça a possibilidade de ser “Now and Then”) e que ele mesmo gravou o baixo em 2023. Para não ter problemas com o timbre de voz mais velho, usou um sample de “Because”, do disco Abbey Road, para simular os backing vocals da música, que ainda teria cordas e metais.

    A parte mais engraçada do podcast é quando Teller conta que Ringo Starr, baterista original da banda e, ao lado de Paul, único Beatle remanescente, não quis tocar na música e Martin o convenceu dizendo que “você é o baterista dos Beatles, essa é a última vez que vão pedir pra você, baterista dos Beatles, para gravar uma música dos Beatles”, argumento convincente o suficiente para que Ringo gravasse a bateria em seu estúdio em casa.

    Novos relançamentos

    Martin também comentou com Jillette que isso seria o gancho para relançar versões atualizadas das clássicas coletâneas 1962-1966 (vermelha) e 1967-1970 (azul), consideradas as melhores da banda, que nunca foram relançadas desde que voltaram a ser vendidas em CD para dar ênfase à coletânea 1, lançada em 2000.

    Com esta nova tecnologia, discos que foram gravados em apenas dois canais poderiam ter todos seus instrumentos, vocais e ruídos de estúdio cristalinos. O que abriria espaço para versões de luxo para os discos da primeira fase da banda, já que estas foram dedicadas apenas aos discos Revolver (1966), Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), o Álbum Branco (1968), Abbey Road (1969) e Let it Be (1970). Até mesmo estes discos poderiam ter outras edições de luxo devido à precisão desta nova tecnologia.

    Seja “Now and Then” ou outro anúncio, é bem provável que a banda que revolucionou a história da música, da cultura e, por que não a história, há mais de meio século, siga abrindo novas possibilidades e mudando mais uma vez as regras do jogo da música.

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