Protesto contra imposição de leis pela China em Hong Kong é dispersado com gás
Moradores da ilha temem perder sistema jurídico independente e direito de protestar, não permitido na China continental
Milhares de pessoas foram às ruas de Hong Kong neste domingo (24) para protestar contra o plano do governo chinês de impor novas leis de segurança na cidade. Havia forte presença policial à frente do escritório de representação da China no local. As autoridades utilizaram gás de pimenta e lacrimogêneo para dispersar os protestantes.
A manifestação surgiu em meio a esforços do governo local para acalmar a população e investidores internacionais. Os protestantes se reuniram no agitado distrito comercial de Causeway Bay, onde a polícia revistou transeuntes. Também alertaram que as pessoas não deveriam desrespeitar a determinação de não aglomeração imposta para barrar o avanço do coronavírus.
“É o começo do fim e o tempo está acabando em Hong Kong. Essa é a razão para nós, mesmo durante a pandemia da Covid-19, nos juntarmos para protestar”, afirmou o ativista pela democracia Joshua Wong.
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Ao pensar na nova legislação, que pode culminar na implementação de agências de inteligência do governo chinês no centro financeiro, Pequim planeja passar por cima do Conselho Legislativo de Hong Kong.
O plano despertou preocupações sobre o futuro da fórmula “um país, dois sistemas” que governa Hong Kong desde que a antiga colônia inglesa voltou para o domínio da China em 1997. O acordo garante liberdades para a cidade que não existem na China continental, incluindo imprensa livre e poder judiciário independente.
Autoridades de Pequim e Hong Kong afirmam que as leis propostas são necessárias e que não devem prejudicar a autonomia da cidade. “Estas reivindicações radicais e a violência ilegal são extremamente preocupantes”, disse o Secretário Chefe de Administração da ilha, Matthew Cheung, em relação à repercussão negativa que a proposta de lei teve na cidade e aos protestos antigoverno que se arrastaram por meses.
“Precisamos lidar com isso seriamente. Se a situação não for efetivamente contida, pode colocar a segurança nacional em risco.” O Secretário de Segurança da cidade, John Lee, afirmou que as leis ajudarão a manter a prosperidade de Hong Kong no longo prazo.
Um pequeno grupo de ativistas pela democracia protestou em frente ao Escritório de Ligação do Governo Popular Central na Região Administrativa Especial de Hong Kong entoando a frase “lei de segurança nacional está destruindo a política de dois sistemas”. Um caminhão com canhões d’água estava estacionado próximo ao edifício e dezenas de policiais da tropa de choque foram espalhados pela cidade.
Avery Ng, da Liga para Social Democratas, colou sinais de protesto em uma placa em frente ao Escritório de Ligação apesar de receber avisos por parte dos policiais. Ele descreveu as leis propostas como “malignas” e pediu que o povo de Hong Kong saísse às ruas para protestar contra. “É uma linha vermelha móvel. No futuro eles poderão prender quem eles quiserem em nome da segurança nacional. Temos que resistir”, disse Ng.
Comentaristas políticos locais descreveram a proposta como uma “opção nuclear” que é parte de uma jogada de poder do presidente chinês Xi Jinping. A repercussão negativa se intensificou no sábado (23), quando quase 200 figuras políticas do mundo todo disseram em um comunicado que as leis propostas são “um assalto à autonomia da cidade, ao Estado de Direito e às liberdades fundamentais”.
O governo chinês minimizou as reclamações, afirmando que outros países estavam se intrometendo numa questão local, e negou que as leis poderiam prejudicar investidores estrangeiros. Hong Kong tem, cada vez mais, assumido um papel importante na deterioração das relações entre China e Estados Unidos.
Os protestos antigoverno tomaram grandes proporções em junho do ano passado, fazendo com que a cidade enfrentasse sua maior crise política em décadas. Sofreram a economia e a popularidade do presidente Xi. Seu maior desafio desde que assumiu em 2012.
Nos últimos meses, com medidas de distanciamento para impedir o avanço do novo coronavírus, Hong Kong vivia relativa calmaria.