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    China procura dosar resposta à ofensiva americana

    Chengdu tem um valor estratégico e simbólico equivalente a Houston, onde chineses tiveram que fechar consulado nessa sexta, por ordem do governo americano

    Lourival Sant'Annada CNN

    Com a ordem de fechamento do consulado americano em Chengdu, o regime chinês demonstrou a intenção de calibrar cuidadosamente sua resposta à ofensiva do governo de Donald Trump: nem mais nem menos, ou seja, nem escalada nem recuo.

    Chengdu tem um valor estratégico e simbólico equivalente a Houston, onde os chineses tiveram que fechar seu consulado nessa sexta-feira, por ordem do governo americano. Ambas as cidades ficam em regiões ricas e estrategicamente situadas de seus respectivos países.

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    Chengdu é o único consulado americano no oeste da China, onde grandes empresas americanas operam. Além disso, a província de Sichuan, da qual Chengdu é a capital, faz fronteira com a Região Autônoma do Tibete, ocupada militarmente pela China desde a Revolução Comunista de 1949. As sanções americanas recém-adotadas contra autoridades chinesas acusadas de violar direitos humanos incluem abusos cometidos no Tibete.

    Estive em Chengdu em 2008, depois do terremoto que matou 87 mil pessoas ao norte da cidade. Fui com minha intérprete chinesa para a rua principal do bairro tibetano, ouvir as pessoas sobre como se sentiam em relação ao domínio chinês. 

    Enquanto assistiam na TV a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim exibir a grandiosidade da China, eles me respondiam com frases telegráficas e silêncios repletos de significado. A luz azul do giroflex da viatura policial se refletia nas telas das TVs.  Lá fora, um policial parou a viatura, atrapalhando o trânsito, para me vigiar sem disfarçar. Eu andava, o carro acompanhava. Eu parava, ele parava também. A rua estava fechada dos dois lados por policiais armados de metralhadoras.

    A escalada americana criou um dilema para o presidente Xi Jinping, que não se pronuncia diretamente sobre os ataques cotidianos de Trump. No poder desde 2013, ele tem incentivado o orgulho nacionalista chinês. Por outro lado, a China não tem interesse nessa escalada. 

    Com sua população de 1,4 bilhão e recursos naturais exauridos, a China depende de “celeiros do mundo” como Brasil, Argentina, Estados Unidos e Austrália. No auge da retórica inflamada de Trump contra o “vírus chinês”, os Estados Unidos têm exportado para a China grande quantidade de carne suína, sorgo e milho — no caso desse cereal, houve uma venda recorde há duas semanas.

    As relações com a Austrália não estão boas. A China representa uma ameaça crescente para os países da região, com suas incursões no Mar do Sul da China. O governo australiano pediu uma investigação internacional da origem do coronavírus na China, que por sua vez retirou licenças de fornecedores de carne e cevada da Austrália. A desorganização econômica da Argentina afeta sua capacidade de exportação.

    Pequim observa com apreensão o crescente alinhamento do Brasil com os Estados Unidos. Na terça-feira, os dois países assinaram uma carta criticando as práticas comerciais da China, sem citá-la nominalmente, e a entregaram ao Conselho Geral da Organização Mundial de Comércio (OMC).

    Os produtos do Brasil, epicentro da pandemia, também causam preocupações sanitárias. O governo chinês retirou a licença de vários frigoríficos do Brasil, mesmo não havendo evidências de que a carne possa transmitir coronavírus.

    A China está perdendo terreno na Europa. O Reino Unido decidiu banir a Huawei, fornecedora chinesa de equipamento de telefonia, de sua frequência 5G. A França avisou operadoras que não usam equipamentos da Huawei a não comprá-los. Segundo a Reuters, as operadoras que usam Huawei foram alertadas de que as licenças de seus equipamentos, que expiram dentro de 3 a 8 anos, não serão renovadas. 

    Japão, Austrália e Nova Zelândia, assim como a TIM italiana, baniram a Huawei. O governo brasileiro também parece ir nessa direção.

    A crise com os Estados Unidos se tornou mais séria esta semana, não só por causa da ordem de fechamento do consulado de Houston (o primeiro aberto depois do reatamento das relações diplomáticas entre os dois países em 1979), que poderá ser seguido também pelo de San Francisco.

    Essa medida veio acompanhada na quinta-feira de um discurso do secretário de Estado, Mike Pompeo, que pareceu elevar ações impulsivas de Trump em sua corrida para a reeleição à condição de uma política de governo ou talvez até de estado. Pompeo escolheu a Biblioteca Richard Nixon, em Yorba Linda, Califórnia, para essencialmente declarar o fracasso da política de aproximação protagonizada pelo então presidente republicano a partir de sua surpreendente visita à China em 1972.

    Pompeo argumentou que a estratégia americana de retirar a China de seu isolamento e levar prosperidade ao país, na esperança de ela vir acompanhada de democracia e sujeição às regras internacionais, simplesmente não funcionou. Ao contrário, disse ele, a China se tornou mais agressiva, no seu intento de impor a “tirania” ao “mundo livre”. 

    O secretário de Estado concluiu que a China “cuspiu no prato que comeu”. E terminou exortando a ONU, a Otan (aliança militar liderada pelos EUA), o G-20 e o G-7 a mobilizarem seu “poder econômico, militar e diplomático” para conter o país: “Se o mundo livre não mudar a China comunista, a China comunista nos mudará.”

    Não é um recado tranquilizador para o regime em Pequim.

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