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    Pintor de NY compra US$ 65 mil em obras de artistas que lutam na pandemia

    Guy Philoche já foi procurado por artistas de lugares como Los Angeles, Londres e Nova Zelândia; ele diz que não pretende parar de apoiar colegas tão cedo

    Por Alaa Elassar, da CNN

    O pintor Guy Stanley Philoche, um nova-iorquino conhecido por suas obras de arte abstratas com textura colorida, gastou mais de US$ 65 mil comprando trabalhos de artistas em dificuldades por causa da pandemia do coronavírus.

    Philoche, 43 anos, tem se dedicado a buscar artistas de todo o mundo que não conseguem sobreviver e até agora comprou mais de 150 obras de arte por até US$ 500 cada. Suas próprias peças são vendidas por até US$ 120 mil, de acordo com a Cavalier Galleries.

    “O mundo da arte é minha comunidade e eu precisava ajudá-la”, disse Philoche à CNN. “As pessoas dizem que Nova York está morta, mas a cidade está longe disso. Há um artista em algum canto escrevendo o próximo grande álbum. Há um jovem agora em seu estúdio pintando a próxima Mona Lisa. Provavelmente há um dançarino agora coreografando o próximo balé épico. As pessoas se esqueceram dos artistas desses setores”.

    Quando a pandemia começou a afetar famílias em todo o país, muitas pessoas viram-se incapazes de pagar aluguel, o wifi para o ensino à distância de seus filhos ou mesmo colocar comida na mesa.

    Conforme a capacidade de pagar as necessidades básicas diminuiu lentamente, a arte se tornou um luxo com o qual muitos não podiam gastar. Por sua vez, centenas de milhares de artistas e criadores independentes ficaram sem fluxo de renda em meio ao caos.

    Um desses artistas era amigo do próprio Philoche, que acabara de ter um filho e perdera o emprego por causa da pandemia.

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    “Eu falei pra ele: ‘Não se preocupe, somos nova-iorquinos. Já passamos pelo 11 de setembro, pelo apagão, pela quebra da bolsa, tudo isso aconteceu’”, disse Philoche. “Mas ele estava com medo, então comprei um quadro dele para ajudá-lo a passar por isso. Foi um grande negócio para ele naquele momento, e foi quando eu percebi que, se ele estava em pânico assim, outros artistas também estão”. 

    Em Nova York, como em outras cidades do país, galerias foram fechadas, mostras de arte foram canceladas e colecionadores começaram a limitar seus investimentos. Então, Philoche resolveu o problema com as próprias mãos.

    Em 20 de março, ele postou no Instagram um vídeo pedindo aos artistas que estavam sentindo os efeitos da pandemia que enviassem uma mensagem direta a ele sobre seu trabalho. Sempre que via uma peça pela qual se apaixonava, Philoche comprava e pagava para que fosse enviada para seu estúdio no East Harlem.

    Em poucos meses, artistas de Los Angeles e Chicago a Londres e Nova Zelândia (e até mesmo artistas que estavam na prisão) o procuraram com suas histórias e criações.

    “Tantas pessoas me procuraram, dizendo que a peça que comprei foi a primeira arte que venderam”, disse Philoche. “Significou muito para mim. Quero ajudar o maior número de artistas possível para garantir que eles consigam comprar alimentos, pagar o aluguel ou as fraldas e a comida de seus filhos”.

    Guy Stanley Philoche comprou obras de arte para apoiar colegas de profissão.
    Guy Stanley Philoche comprou obras de arte para apoiar colegas de profissão.
    Foto: Cortesia de Guy Stanley Philoche

    Quando tudo parou

    Para Tara Blackwell, uma artista de Stamford, Connecticut, a arte é sua única fonte de renda. E a única maneira para sobreviver dela é exibindo seu trabalho para colecionadores em exposições, galerias e visitas a estúdios, tudo interrompido por causa da pandemia.

    “Estava tudo indo muito bem para mim e eu tinha coisas interessantes acontecendo. E então tudo parou”, disse Blackwell, 43, à CNN. “A luta para ganhar a vida como artista é algo que conheço desde muito cedo. Estou acostumada com os altos e baixos, mas agora foi diferente. Havia muitas incógnitas”.

    Quando a situação começou a ficar difícil, Blackwell disse que uma das únicas formas de apoio que recebeu foi de Philoche.

    Por US$ 500, Philoche comprou “Free Speech”, da série “Corner Store”, de Blackwell, na qual ela usa imagens da cultura pop de sua infância com influências do grafite e a incorporação de comentários sócio-políticos sutis.

    “O apoio dele foi tudo para mim em uma época em que as coisas pareciam realmente desoladoras. O apoio e endosso de Guy ao meu trabalho geraram mais interesse de outros patrocinadores das artes”, contou Blackwell.

    “Acho que o que é realmente legal sobre a ação de Guy é que ele fez com que outros colecionadores notassem e se juntassem a esses esforços para apoiar as artes durante este período desafiador. Espero que sua positividade continue sendo contagiosa”,

    Arte “salvou sua vida”

    Quando Philoche tinha 3 anos de idade, sua família emigrou do Haiti para os EUA sem levar nada.

    “Sair de um país para vir para outro foi difícil. Eu não falava o idioma, era tudo estranho e esquisito e eu tentei me encontrar em um novo país”, disse Philoche. “Aprendi a língua assistindo a desenhos animados e lendo quadrinhos e encontrei minha voz desenhando personagens da Disney. Foi assim que tudo começou”.

    Há duas décadas, o artista se mudou de Connecticut para Nova York, onde decidiu se dedicar à sua arte. Philoche começou deslizando cartões de visita por baixo das portas dos apartamentos e pulando de galeria de arte em galeria de arte na esperança de encontrar colecionadores interessados.

    “Avance vinte anos nesse história e hoje estou na área”, disse. “Mas, ao longo desses anos, não tive ninguém que abrisse uma porta para mim. Fui entrando pelas portas dos fundos, pelas janelas, até encontrar um caminho para o salão sozinho. Agora que tenho um assento à mesa e realmente tenho uma voz, prometi a mim mesmo abrir essa porta para outros artistas”.

    Depois de lutar por anos para fazer seu nome, o artista agora tem uma filosofia: “Venda uma pintura, compre uma pintura”. Cada vez que ele celebra uma mostra de arte de sucesso ou vende outra de suas peças, Philoche procura um colega artista e compra uma peça para sua coleção pessoal.

    De vez em quando, Philoche coloca uma de suas pinturas (no valor de cerca de US$ 100 mil) em alguma esquina de Nova York para um sortudo encontrar. Ele chama este projeto “Art for the People” (“Arte para o Povo”), um esforço para compartilhar sua arte com todos, mesmo aqueles que não podem pagar.

    “A arte salvou minha vida. Tenho uma dívida que jamais poderei pagar, mas a única maneira de realmente pagá-la é comprando outra arte de alguém que ainda não teve uma grande chance. E é isso que vou continuar fazendo”, afirmou.

    Como os artistas continuam a passar seus dias em busca de inspiração e fazendo suas próprias criações, ele diz que não planeja parar de apoiar artistas em dificuldades tão cedo.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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