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    Filhos mais velhos de Trump se dividem quanto ao futuro

    Filhos homens defendem argumentos para o presidente permanecer na luta, enquanto Ivanka emergiu como alguém que busca uma maneira de ele salvar a própria pele

    O presidente dos EUA, Donald Trump
    O presidente dos EUA, Donald Trump Foto: Al Drago / Reuters

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, há muito busca conselhos de diferentes fontes ao longo da carreira. Em um momento crucial na definição do legado como presidente, no entanto, ele está recebendo conselhos conflitantes de conselheiros mais próximos e confiáveis – seus filhos mais velhos – para planejar a próxima jogada após a derrota na eleição.

    Enquanto os filhos homens, Donald Trump Jr. e Eric Trump, mostram-se cheios de energia, defendendo firmemente os argumentos para o presidente permanecer na luta, a filha e conselheira da Casa Branca Ivanka Trump emergiu como alguém que procura uma maneira de Donald Trump salvar a própria pele, segundo fontes.

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    Abordagens diferentes surgiram entre os irmãos Trump: Donald Trump Jr. e Eric Trump dizem ao pai para lutar agressivamente até o fim, ecoando afirmações infundadas de que a eleição foi fraudada e o resultado deve mudar.

    Por outro lado, Ivanka Trump e o marido, Jared Kushner, fazem um cálculo político diferente. Eles prefeririam que o presidente cedesse a vitória ao democrata Joe Biden na próxima semana, após a conclusão da recontagem no estado da Geórgia, em 20 de novembro. Já Eric Trump e Donald Trump Jr. estariam optando por arrastar a crise até o amargo fim.

    Ivanka e Kushner não acreditam que batalhas jurídicas vão mudar o resultado da eleição, mas defendem uma abordagem mais comedida para permitir que a luta legal e as recontagens garantam a integridade das eleições futuras – e assim se mostram sensíveis ao presidente.

    Ivanka Trump transmitiu uma mensagem mais calibrada ao pai, perguntando a ele se valia a pena prejudicar o seu legado e potencialmente os negócios ao se recusar a aceitar a derrota. A filha e assessora é particularmente realista sobre a perda do presidente, disse uma fonte à CNN, mas também sabe que todo o futuro (agora mais do que nunca) está vinculado ao do pai e deve ser tratado com delicadeza.

    Um porta-voz da Casa Branca se recusou a comentar o assunto à CNN. Um porta-voz de Donald Trump Jr. também não quis comentar.

    ‘Último ato de perseguição’

    O presidente parece estar acatando ao conselho da filha. “Ele sabe que não vai ganhar, mas também sabe que tem todas as cartas agora porque ganhou 72 milhões de votos e fundou um movimento”, contou uma fonte familiarizada com o pensamento de Trump.

    Segundo essa pessoa, o republicano acredita que nunca foi considerado um candidato ou presidente legítimo. “Ele foi investigado, passou por um processo de impeachment e as pessoas tentaram destruir a ele e a família dele. Então, por que ele deveria se apressar em reconhecer qualquer coisa agora, quando a Geórgia e o Arizona ainda não deram resultados finais, e algumas pessoas estão dizendo a ele que têm algum recurso legal legítimo na Pensilvânia?”, questionou.

    Quando o presidente finalmente admitir a derrota, deverá caracterizar esta eleição como o “último ato de perseguição”, mas continuará com os apoiadores e seguidores nas redes sociais e deixará claro que não vai a lugar nenhum.

    Principais interlocutores do presidente durante a campanha de 2020 e eles próprios incendiários conservadores, os filhos mais velhos recorreram às redes sociais para divulgar a sua mensagem.

    Na última noite da campanha, Eric Trump dizia às pessoas a bordo do avião oficial da presidência, o Air Force One, no caminho de volta de um comício em Michigan, que estava convencido de que haveria uma vitória esmagadora de Trump.

    E na quinta-feira (12), a campanha enviou outro apelo de arrecadação de fundos de Eric Trump com o assunto “Lute de volta”. “As pessoas sabem exatamente o que está acontecendo neste país… É fraude!”, escreveu Eric Trump na mensagem.

    A irmã deles fez uma declaração de apoio moderada que ignorou as afirmações infundadas e incendiárias do pai sobre a fraude eleitoral generalizada. “Todos os votos legalmente depositados devem ser contados. Todo voto ilegal não deve. Isso não deve ser controverso”, disse Ivanka Trump no Twitter. “Esta não é uma declaração partidária – eleições livres e justas são a base da nossa democracia.”

    Kushner está jogando em ambos os lados. No fim de semana, a CNN informou que ele discutiu se Trump deveria reconhecer a derrota, enquanto também exortava o presidente a realizar comícios pressionando por recontagens de votos.

    Negócios de família

    Ao longo de quase quatro anos, Ivanka, que havia trabalhado nos negócios imobiliários do pai, elaborou um portfólio perfeitamente adaptado com foco na capacitação econômica das mulheres e no desenvolvimento da força de trabalho feminina. Mesmo assim, sua influência com o presidente em uma miríade de outros tópicos não pode ser subestimada.

    Embora seja claro que o presidente valoriza as opiniões dos três filhos mais velhos, apenas um deles, Ivanka, conseguiu um cargo na Casa Branca. Eric e Donald Jr. partiram para dirigir os negócios da família em Nova York.

    Ivanka escreveu em seu livro de 2009 que o divórcio dos pais a aproximou do pai, enquanto seu irmão mais velho, Don Jr., teve um relacionamento mais complicado com Donald Trump na época. Ela contou à New York Magazine que ele não falou com o pai por um ano após o divórcio.

    Já ela usou esse tempo para desenvolver um relacionamento melhor com o pai. “Ele [meu pai] não se mudou para muito longe, apenas alguns andares abaixo de nós. Eu passei a descer para vê-lo todas as manhãs antes das aulas e também comecei a passar em seu escritório no caminho para casa à tarde”, escreveu no livro The Trump Card (A carta Trump, em tradução livre).

    Futuro e legado

    Há uma força fundamental puxando os cálculos políticos de Ivanka Trump: um olho no futuro e o legado do marido.

    Segundo uma fonte, no tempo em Washington, Ivanka foi “Full MAGA” (ou seja, manifestou apoio total ao presidente e à política “Make America Great Again” – Tornar os EUA grandes de novo), adotando um ponto de vista mais conservador em sincronia com a marca Trump e tendo seu sucesso intimamente ligado ao do pai. “Eu sou pró-vida, assumidamente”, disse ela em uma entrevista ao site RealClearPolitics em outubro.

    A campanha de Trump posicionou Ivanka estrategicamente em eventos direcionados às eleitoras republicanas suburbanas em uma série de paradas de campanha nas semanas antes da eleição.

    Para outra fonte, Kushner está inclinado a suavizar a mensagem para se preparar para uma saída mais elegante. O genro de Trump terá que voltar ao trabalho quando o governo terminar, e há preocupação de que uma saída ruim possa levar à reversão de decretos presidenciais por Biden, o que poderia acabar com o que ele considera suas melhores realizações. Mas não importa se Trump vai sair de forma elegante do cargo, ainda não está claro se um governo Biden protegeria qualquer uma dessas conquistas.

    Ivanka afirmou isso sobre o marido em tempos de crise: “Ele acha improdutivo focar no problema [em vez de na solução] ou reagir emocionalmente. Ele é meu maior professor nesse sentido, a voz calma da razão que me orienta a focar no que mais importa, mesmo em momentos de crise ou caos, quando naturalmente tendo a ir um pouco mais para o emocional”, escreveu ela em no livro de 2017 Women who work (Mulheres que trabalham, em tradução livre).

    Agora, Trump e Kushner aguardam os resultados das recontagens e das contestações judiciais. “Eles querem que todas as vias legais sejam exauridas e aconteça o que acontecer…”, contou um alto funcionário do governo, recusando-se a terminar a frase.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês.)