Preço do petróleo pode disparar com agravamento da Guerra de Israel, dizem especialistas
Eventual escalada da guerra traria problemas não só para a produção de petróleo, mas também para a segurança do transporte
As especulações sobre uma possível escalada da Guerra de Israel têm acendido um alerta global em relação aos preços do petróleo. Apesar de Israel não ser um produtor do combustível — o que “abranda” o impacto na cotação — um possível envolvimento de países exportadores no conflito já tem refletido nos preços dos barris no mercado internacional.
Isso porque, explica o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Eberaldo Almeida, dos 20 maiores países exportadores de petróleo do mundo, 16 são autocracias. E a maioria delas apoia a Palestina.
“A Rússia e a Arábia Saudita têm se colocado como hostis com os Estados Unidos. É um contexto complicado que se materializa no conflito. Por conta disso e por essa região estar rodeada de países que apoiam a Palestina, você tem uma possibilidade de o conflito escalar”, analisa.
A região do Golfo é próxima da zona de conflito, e é composta por grandes produtores e exportadores de petróleo, que fazem parte, junto da Rússia, do grupo conhecido como Opep+.
As implicações estão na complexidade das relações geopolíticas dessa região, que compõe a rota necessária para a exportação do combustível via Estreito de Ormuz — única ligação entre o Golfo Pérsico e os oceanos.
Com isso, uma eventual escalada da guerra traria problemas não só para a produção de petróleo, mas também para a segurança do transporte, avalia Almeida.
“Como um navio vai passar nessa região? A seguradora vai ficar com certo receio. O custo de seguro dessa carga pode extrapolar, ou corre o risco da seguradora nem querer fazer esse serviço”.
Para o especialista, a maior preocupação estaria na possibilidade de ataques às embarcações. E é justamente esse um dos motivos que faria o preço disparar.
“Esse é um grande problema, dependendo do nível da escalada e dos níveis que os preços podem explodir. US$ 150, US$ 200 o barril… Para quanto vai? Depende do nível dessa escalada”, afirma.
No entanto, Almeida acredita que as manifestações políticas que ocorreram após o bombardeio contra o Hospital Baptista Al-Ahli, em Gaza, podem representar uma distensão do conflito.
O comentarista de energia da CNN Adriano Pires concorda que os ataques ameaçariam o preço da commodity, mas avalia que o grande evento que provocaria a disparada seria um possível fechamento do Estreito de Ormuz. “Aí sim você teria um problema, porque um terço do petróleo mundial passa por ali”.
Pires acrescenta que, se levados em conta os critérios econômicos atuais, o preço do petróleo deveria estar em US$ 80, mas a guerra fez o preço subir para cerca de US$ 90. “Se o Irã entrar no conflito, aí sim passamos de US$ 100 a até US$ 150 por barril”, afirma.
Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Jive Investments, avalia que, se o conflito ficar circunscrito ao eixo Israel-Palestina, não deve haver impacto significativo na economia brasileira.
Para o economista, os mercados, por enquanto, estão reagindo mais ao cenário doméstico. “Como nos Estados Unidos, que estão envolvidos na questão dos juros”.
Mas, se outros países se envolverem, haveria impacto não só no petróleo como em outras commodities.
“Como o Irã é muito importante na produção de óleo no mundo, faz diferença estar ou não envolvido no conflito. Aparentemente ele vai ficar de fora”, diz Figueiredo.
Fato é que o mercado se antecipa a riscos.
Segundo um levantamento realizado pela consultoria Stonex, o petróleo acumulava queda de 11,3% na primeira semana de outubro. Porém, a partir do dia 7, quando o grupo radical islâmico Hamas realizou o primeiro ato terrorista a Israel, os preços dispararam 8,1%.
“As últimas variações estão relacionadas à guerra. No início o preço subiu, mas deu uma ligeira queda quando pareceu que o conflito ia distensionar. Porém, quando começaram a ter manifestações em outros países, como Líbano e Jordânia, ele voltou a ter alta”, diz Almeida.
Isso se explica devido às negociações de petróleo se basearem em projeções. “Quando eu negocio petróleo hoje, é para entregar daqui a 2 ou 3 meses”, acrescenta.
No entanto, não é apenas a guerra que tem interferido nos preços. O petróleo vem oscilando desde o início do ano, e a guerra é somente um dos componentes que tem colaborado com essa volatilidade.
Essa também é a avaliação do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Segundo ele, a cotação do petróleo está alta, “mas não tem, necessariamente, a ver com esse conflito em si. Já tinha uma inflação estrutural acontecendo”.
“Falando de forma até um pouco insensível, claro que tem uma preocupação humanitária com o problema da guerra. Mas do ponto de vista do mercado de petróleo e gás, por enquanto, não há indício de que haverá alastramento disso para países como Irã, Egito, países produtores”, disse ele nesta semana, após reunião com o secretário-geral da Opep, Haitham al-Ghais, que fez uma visita de cortesia ao Brasil.
De acordo com a Stonex, entre janeiro e junho de 2023 o preço do petróleo teve queda de cerca de 12%; entre julho e setembro, subiu 27%.
Segundo a consultoria, isso se deve a diversos fatores, como juros altos nos Estados Unidos, as incertezas em relação ao PIB da China, os cortes na produção da Arábia Saudita e da Rússia e, por último, a Guerra de Israel.
“O que vai acontecer é muito difícil prever. Em havendo conversações, a tendência é ir baixando e ficar na faixa dos US$ 80”, conclui Almeida.
Petrobras
Prates afirmou nesta semana que, no momento, não há indícios de que a guerra entre Israel e o grupo Hamas interfira no preço dos combustíveis no Brasil.
Contudo, disse ele, se o conflito se alastrar, seria a “tempestade perfeita” no mercado de petróleo e gás. “O preço do petróleo já está afetado. Piorar mais a guerra é a tempestade perfeita”, comentou.
Prates disse ainda que pretende se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar sobre o assunto.
Procurada pela CNN, a Petrobras informou que tem observado com atenção os desdobramentos do mercado internacional de petróleo e seu impacto sobre o mercado brasileiro.
Segundo a estatal, a nova estratégia comercial para diesel e gasolina “passou a incorporar as nossas melhores condições de produção e logística para a definição dos nossos preços de venda às distribuidoras”.
“Isso nos permite praticar preços competitivos e em equilíbrio com os mercados internacional e nacional, ao mesmo tempo em que evitamos o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”, disse a empresa, em comunicado.
A Petrobras reconheceu que os eventos dos últimos dias contribuíram para o aumento da volatilidade, “em um cenário que já era de grande incerteza quanto à economia global e o balanço de oferta e demanda de petróleo”.
A estatal afirma que tem observado com atenção os desdobramentos dos fundamentos do mercado e os impactos no Brasil.
Além disso, destaca que eventuais reajustes, quando necessários, serão realizados suportados por análises técnicas e independentes, considerando a participação da empresa no mercado e a operação otimizada dos ativos de refino e logística.
Com informações de Thais Herédia, da CNN.