Entenda por que Azerbaijão e Armênia estão em conflito em Nagorno-Karabakh
Confrontos são os piores registrados entre os dois países desde os anos 1990
O confronto entre a Armênia e o Azerbaijão escalou intensamente nos últimos dias, dentro e ao redor do território montanhoso de Nagorno-Karabakh.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, disse nesta terça-feira (29) que ao menos 10 civis do seu país morreram desde domingo (27), quando os conflitos com as forças armênias começaram, de acordo com a agência de notícias Interfax, mas a informação ainda não confirmada oficialmente.
Já o ministro das Relações Exteriores da Armênia, Zohrab Mnatsakanyan, disse que um civil morreu na cidade fronteiriça de Vardenis, após ser atingida pela artilharia azeri (do Azerbaijão) e alvo de um ataque de drones. Foi a primeira morte no lado armênio desde o início dos confrontos.
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O Azerbaijão, majoritariamente muçulmano, e a Armênia, de maioria cristã, se acusam mutuamente de disparar contra o outro de posições na fronteira e em acampamentos civis na região de Nagorno-Karabakh, em um dos piores conflitos entre os dois países desde os anos 1990.
Por que o conflito ocorre em Nagorno-Karabakh?
O local é uma região montanhosa dentro do território do Azerbaijão e reconhecido pelas leis internacionais como parte do país. Mas os armênios étnicos, que constituem a maioria da população de Nagorno-Karabakh (estimada em 150 mil habitantes), rejeitam o domínio azeri.
Eles administram os próprios assuntos com o apoio da Armênia, desde que as tropas do Azerbaijão foram expulsas do território em uma guerra na década de 1990. Ambos os lados assinaram um acordo de cessar-fogo em 1994. Contudo, ao menos 200 pessoas foram mortas em uma violenta explosão em 2016.
A região de Nagorno-Karabakh depende quase que totalmente dos recursos enviados pela Armênia e doações da diáspora armênia em todo o mundo.
Por que os dois países voltaram a entrar em conflito?
As tensões entre os dois lados têm aumentado significativamente nos últimos meses, e culminou nos confrontos de domingo. O momento é importante porque as potências que atuaram como mediadoras no passado – como Rússia, França e Estados Unidos – estão focadas em lidar com a pandemia de Covid-19, em meio a eleições presidenciais (como no caso norte-americano) e uma lista de crises no mundo, do Líbano a Belarus.
Conflitos menores registrados em julho levaram a uma resposta internacional silenciosa. A Turquia – que apoia os turcomanos étnicos do Azerbaijão aos quais os turcos são aparentados – realizou grandes exercícios militares com os azeris em julho e agosto.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse nessa segunda (28) que Ancara ficaria do lado do Azerbaijão “com todos os seus recursos e o coração”. Ele não indicou diretamente se seu país está fornecendo especialistas militares, drones e aviões de guerra ao lado azeri, como alega a Armênia. O Azerbaijão nega.
Quais os riscos de uma escalada nos conflitos?
Confrontos passados entre os dois países já mataram cerca de 30 mil pessoas desde 1988. Para Olesya Vartanyan, analista da ONG Crisis Group, a utilização de armamento pesado, como foguetes e artilharia, eleva ainda mais o risco de mortes de civis, o que dificultaria o fim das hostilidades.
Com isso, outros países, como Turquia e Rússia, poderiam entrar na disputa e desestabilizar a região do Cáucaso Sul, importante passagem para oleodutos que transportam petróleo e gás para mercados de todo o mundo.
O que pode frear os combates?
Diversos países, incluindo Rússia e China, pedem o fim das hostilidades, mas até agora essa pressão não teve impacto em nenhum dos lados. A Rússia pode ter a principal arma para acabar com os conflitos, já que tem um pacto mútuo de defesa com a Armênia, além de uma base militar no país. Mas também conta com um bom relacionamento com o Azerbaijão e não tem interesse em acirrar ainda mais os conflitos.
Se a diplomacia vencer, Moscou pode levar os créditos por encerrar o conflito em um momento em que vem sendo muito criticado em outros departamentos, como pelo apoio ao presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, após uma polêmica eleição, e o envenenamento do líder opositor russo Alexei Navalny, em agosto.
No domingo, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversou com o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, por telefone, mas ainda não está claro se ele tentou fazer o mesmo com o presidente do Azerbaijão.