Proud Boys: o que é grupo de ultradireita que ajudou na invasão do Capitólio
Membros do grupo de extrema direita Proud Boys ficaram mais conhecidos durante a campanha para as eleições de 2020
A revolta no Capitólio na quarta-feira (6) foi alimentada por grupos conspiratórios, extremistas e movimentos marginais ligados à QAnon e aos Proud Boys, duas facções de extrema direita que o presidente Donald Trump repetidamente se recusou a condenar durante sua campanha eleitoral no ano passado.
Membros do grupo de extrema direita Proud Boys ficaram mais conhecidos durante a campanha para as eleições de 2020. Membros do grupo celebraram os comentários do presidente Donald Trump durante o debate presidencial de outubro. Naquela época, ele foi convidado a condenar os supremacistas brancos e se recusou a fazê-lo.
Em vez disso, o presidente usou seu tempo de resposta para culpar o que chamou de “antifa e a esquerda” pela violência. E dizer aos Proud Boys para “retroceder e aguardar”.
Nesta quarta-feira (6), os dois grupos voltaram ao noticiário. O manifestante Jake Angeli, conhecido pelos fãs como QAnon Shaman (o Shaman de QAnon), rapidamente se tornou um símbolo estranho e aterrorizante por causa das fotos dele caminhando pelos corredores do Capitólio segurando uma bandeira dos EUA colada a uma lança em uma das mãos e um megafone na outra, sem camisa e com chifres de búfalo, na bancada do Senado.
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“Retrocedam e aguardem”
A frase “retrocedam e aguardem” começou a ser usada nos logotipos do grupo depois que Trump a mencionou no debate. Outros trataram a escolha do presidente da palavra “aguardar” como uma espécie de grito de guerra, e a têm promovido desde então. Depois disso, eles passaram a lucrar com a venda de mercadorias com o comentário.
Após o debate presidencial de outubro, Elle Reeve, da CNN, conversou com Enrique Tarrio, o líder do grupo, que disse que, embora estivesse feliz com os comentários do presidente, não os via como endosso.
Tarrio disse que interpretou “retroceder e aguardar” como significando que eles deveriam continuar fazendo o que estão fazendo.
Embora afirme ter membros de grupos diversos – Tarrio diz que é cubano-americano –, o grupo Proud Boys enumera a crença nas “fronteiras fechadas” entre seus princípios básicos. Outro objetivo é “restaurar o espírito do chauvinismo ocidental”. Tarrio foi preso nos primeiros dias de 2021, e posteriormente liberado, por supostamente queimar uma bandeira do Black Lives Matter durante um protesto.
Em declarações online, os Proud Boys alegaram que só usaram violência em legítima defesa. Mas os membros são frequentemente vistos carregando armas de fogo, tacos de beisebol e usando equipamentos de proteção. Alguns foram condenados por crimes contra manifestantes antifascistas.
A ideologia do grupo foi rotulada de “misógina, islamofóbica, transfóbica e antiimigração” pela Liga Anti-Difamação.
Seus apoiadores foram vistos em protestos recentes nos Estados Unidos, incluindo em Portland, no estado do Oregon.
O debate presidencial também forneceu outro exemplo de como Trump evitou e desviou a oportunidade de condenar grupos de supremacia branca dentro dos Estados Unidos.
No dia seguinte ao debate, Trump afirmou que não tinha ideia de quem eram os Proud Boys. Além disso, mais uma vez, ele se recusou a condenar explicitamente os supremacistas brancos antes de repetir seu apelo a seu rival democrata Joe Biden para denunciar a antifa.
O momento também alimentou as afirmações de Biden de que o presidente encorajou grupos de extrema direita. A ideia vem desde a marcha “Unite the Right” realizada em 2017 em Charlottesville, Virginia. Naquele dia, um neonazista dirigiu seu carro contra uma multidão de contramanifestantes e matou uma mulher.
Em resposta à violência do protesto, o presidente Trump disse na época que havia “gente muito boa de ambos os lados” dos protestos, que incluía supremacistas brancos.
Joe Biden frequentemente cita a resposta de Trump a isso como o que o motivou a concorrer à presidência.
Quem são os Proud Boys?
O grupo foi criado por Gavin McInnes, cofundador da revista “Vice”, em 2016, de acordo com o site dos Proud Boys.
Antes de deixar o grupo no final de 2018, McInnes disse em um discurso que os Proud Boys não estavam procurando briga. “Mas se eles buscarem uma luta conosco, vamos acabar com eles”.
“A violência não é boa”, disse ele no mesmo discurso. “A violência justificada é ótima e a luta resolve tudo”.
Citando as redes sociais de McInnes, a Liga Anti-Difamação diz que ele havia postado vídeos de si mesmo fazendo a saudação nazista. Além disso, ele se gravou dizendo “Heil Hitler”, defendendo os negadores do Holocausto e repetidamente usando expressões raciais e calúnias antissemitas. Apesar dos vídeos, McInnes refutou as afirmações de que é antissemita e racista.
A CNN entrou em contato com o advogado de McInnes sobre os vídeos, mas ainda não recebeu uma resposta.
“Somos um clube para beber com um problema patriótico”, disse Tarrio, o atual líder do grupo, à CNN. “Como Proud Boys, acho que nosso principal objetivo é defender o Ocidente. Se a nossa mera presença faz as pessoas quererem cometer atos de violência, não temos medo de nos defender”, disse Tarrio.
Em um de seus sites, o grupo se autodenomina “homens que se recusam a pedir desculpas por criar o mundo moderno”.
Em 2019, dois membros dos Proud Boys foram condenados por agressão por atacar manifestantes antifascistas.
Alguns membros do grupo parecem ter ligações com o velho amigo e conselheiro político do presidente Roger Stone. A informação surgiu após o depoimento de Stone em seu caso criminal de 2019, relacionado à investigação na Rússia. Durante o julgamento, Stone testemunhou que alguns membros dos Proud Boys ajudaram a gerenciar suas contas de mídia social.
Pouco depois, o Facebook removeu o Instagram de Stone e uma rede de páginas vinculadas a ele em suas plataformas porque estavam vinculadas aos Proud Boys. Eles foram banidos da plataforma de mídia social de acordo com suas políticas de ódio.
Membros do grupo também compareceram às audiências de Stone.
(Colaboraram Elle Reeve, Sara Sidner, Marshall Cohen, Julia Vargas Jones e Samantha Guff, da CNN)
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).