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    Documentos mostram plano de ataque terrorista do Hamas

    Invasões do grupo radical islâmico a comunidades em Israel tiveram planejamento que incluía quantidade de seguranças e locais para manter reféns, conforme materiais obtidos pela CNN

    Casey Tolan, Matthew Chance, Florence Davey-Attlee, Scott Glover e Curt Devineda CNN

    Quando o grupo radical islâmico Hamas rompeu a cerca de Gaza para promover um ataque surpresa e sem precedentes a Israel, o kibutz de Mefalsim – a menos de três quilômetros da fronteira – estava na linha da frente. Carregando rifles AK-47 e lançadores de granadas, um grupo de extremistas se dirigiu aos portões da comunidade, enquanto outro se moveu para destruir seu gerador, de acordo com vídeos de segurança e moradores locais.

    Essa precisão, dizem os agentes de segurança israelitas locais, não foi acidental: os combatentes pareciam saber exatamente para onde ir.

    A CNN analisou documentos que as autoridades israelenses dizem ser planos de ataques terroristas, e eles sugerem que o Hamas levantou uma quantidade robusta de informações sobre seus alvos. Nenhum dos ataques, contudo, correu conforme o planeado, graças em parte a guardas voluntários que defenderam seus vizinhos em tiroteios dramáticos.

    Fotos do plano para atacar Mefalsim foram publicadas online por um grupo de socorristas israelense, que alega tê-lo recuperado do corpo de um extremista morto. Dois agentes de segurança locais disseram à CNN ter visto imagens do plano de forma independente e que ele correspondia perfeitamente às táticas empregadas durante o atentado.

    Codificado por cores, o documento inclui informações detalhadas sobre a equipe de segurança do kibutz. Orienta um grupo de extremistas a romper a cerca da comunidade, enquanto outros deveriam “capturar soldados e civis e manter reféns” para negociação.

    Yarden Reskin, membro da força de segurança voluntária de Mefalsim que passou horas trocando tiros com militantes – e ajudou a evitar mortes dentro da comunidade – se disse “chocado” com o nível de detalhamento.

    “Eles sabiam de tudo”

    Assim Reskin descreve as informações encontradas. “Eles sabiam onde estavam os portões, geradores e o arsenal. Sabiam basicamente quantos de nós havia na equipe de segurança. Eles tinham informações muito, muito boas”.

    Outro suposto documento do Hamas que apresenta planos para atacar o kibutz vizinho de Sa’ad, obtido pela CNN, foi ainda mais assustador. Ele listou o objetivo dos radicais como “atingir o máximo possível de baixas humanas”.

    Tal como em Mefalsim, os planos não se concretizaram: um grupo de socorristas e um residente local relataram à CNN que nenhum residente foi morto dentro de Sa’ad.

    A diferença entre os planos detalhados e o que ocorreu na prática é um sinal do caos que se espalhou durante o ataque, uma vez que os combatentes do Hamas encontraram muito menos resistência por parte dos militares israelenses do que esperavam. Apesar dos milhões de dólares investidos pelo governo de Israel na segurança da sua fronteira e no desenvolvimento de uma das operações de inteligência mais renomadas do mundo, sua inteligência foi apanhada de surpresa.

    A CNN traduziu os documentos, mas não verificou de forma independente a sua origem. Vários porta-vozes do grupo extremista não responderam substancialmente às mensagens que pediam comentários ou confirmação sobre os planos.

    Veja a seguir as imagens dos documentos:

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    Detalhes dos planos

    Conforme especialistas, os documentos sugerem que o Hamas coletou meticulosamente informações sobre as comunidades para preparar as invasões. Matthew Levitt, que dirige um programa sobre contraterrorismo e inteligência no Washington Institute for Near East Policy e analisou os documentos para a CNN, avaliou o nível de detalhes como impressionante.

    “Houve um esforço tremendo nisso”, disse. “Esta foi uma operação cuidadosamente planejada que envolveu o tipo de processamento e disseminação de inteligência que não creio que muitas pessoas pensassem que o Hamas tivesse”.

    Funcionários do Hamas alegaram que seus integrantes foram instruídos a não matar mulheres e crianças, que teriam sido executados por outras pessoas que também atravessaram a fronteira no período. Autoridades e especialistas israelenses argumentaram, porém, que o planeamento revela que promover baixas civis era uma parte central da missão do grupo.

    “A execução não foi apenas de algum ator desonesto”, disse Levitt. Os documentos, disse ele, sugerem que matar civis “era exatamente o que eles planejavam fazer”.

    Em menor número e desarmados

    Mefalsim, uma comunidade onde vivem cerca de 1.000 pessoas, é há muito tempo alvo dos foguetes do Hamas devido à proximidade com Gaza. Quando os moradores locais receberam alertas sobre lançamentos de foguetes, por volta das 6h30 de sábado, eles sabiam que deveriam ir para seus abrigos antiaéreos.

    Os residentes do kibutz logo perceberam, porém, que esse ataque era diferente dos anteriores. Reskin, que viveu em Mefalsim durante toda a sua vida, estava aconchegado com sua família no abrigo de sua casa quando ouviu uma saraivada de tiros vindos das proximidades. “Beijei minha esposa, beijei minhas duas filhas e saí pela porta para ver o que podia fazer”, disse.

    Ele relata ter se chocado ao ver combatentes vestidos de preto segurando AK-47 do lado de fora dos portões do kibutz. Ele e outros guardas travaram uma batalha árdua com os extremistas. Muitas vezes, enfrentando números e poder de fogo maiores.

    Vídeos de câmeras de segurança de Mefalsim publicados por um grupo de socorristas israelenses mostram radicais se aproximando do portão principal do kibutz e atirando em um homem que corre em direção a ele, antes da troca de tiros com os guardas. A certa altura, havia apenas três seguranças “lutando contra uma força de cerca de 15 ou 16 terroristas”, disse outro guarda voluntário, Eli Levi, à CNN. Detalhes da batalha foram relatados anteriormente pelo “Wall Street Journal”.

    Veja também: Hamas treinou para guerra ao lado de fronteira com Israel

    Mais tarde, as forças militares israelenses derrotaram outros extremistas que se aproximavam da comunidade, disseram Reskin e Levi. Embora os agressores tenham matado ao menos um civil e potencialmente outros fora dos portões do kibutz, e alguns residentes tenham ficado feridos, ninguém foi morto no local.

    Reskin conta que, nos registros do documento de planejamento do Hamas, havia estimativas de quanto tempo os militares levariam para chegar.

    O documento tem a data de 2022 na capa, sugerindo potencialmente que o ataque era discutido há um ano ou mais – embora outra página liste a data de 15 de junho de 2023.

    Levi, que também viu uma cópia do plano, disse que a estratégia parecia ter sido seguida pelo Hamas. Alguns combatentes atacaram um gerador de energia, cuja localização estava marcada num mapa, disse ele, e outros tentaram assumir o controle do portão principal. “A maioria das coisas realmente aconteceu conforme foram escritas”, disse Levi.

    Colin P. Clarke, pesquisador sênior do The Soufan Center (organização sem fins lucrativos de segurança) que analisou os documentos para a CNN, disse que as informações coletadas pelo grupo levantam a possibilidade de que o grupo terrorista tivesse infiltrados em Israel.

    Para ele, a extensão do planeamento “apenas mostra uma reflexão sobre o jogo a longo prazo, de uma forma para a qual a maioria dos grupos terroristas não tem organização”.

    Clarke disse que o fato de o grupo ter conseguido reunir este nível de informação mostra não só que “o Hamas melhorou enormemente as suas capacidades operacionais, mas que Israel estava ‘dormindo ao volante’”.

    “Pensamos estar seguros”

    Outro registro obtido pela CNN detalha planos para atacar Sa’ad, uma comunidade de cerca de 850 pessoas poucos quilômetros ao sul de Mefalsim.

    Divulgado pela primeira vez pela NBC News, o documento diz que a missão dos combatentes do Hamas era “controlar o kibutz, causar o máximo possível de baixas humanas e manter reféns”. A CNN não verificou de forma independente sua autenticidade.

    Semelhante ao plano de Mefalsim, o plano contém informações sobre o kibutz e sua segurança, incluindo dados como o número de guardas que protegiam o local.

    Um grupo de extremistas foi instruído a romper a cerca do kibutz e destruir a sala da guarda antes de “reunir os reféns na sala de jantar”. Um segundo grupo foi instruído a “reunir reféns e entregá-los ao primeiro grupo”.

    Veja também: DNA confirma morte de filha de brasileira pelo Hamas

    O documento diz ainda que os grupos deveriam “controlar” e “inspecionar” duas escolas, e fazer buscas em uma “área de movimentação juvenil”. Há mapas detalhados de imagens de satélite do kibutz e arredores.

    Assim como em Mefalsim, contudo, o Hamas não teve o sucesso esperado no ataque a Sa’ad com sucesso – ninguém morreu, de acordo com o grupo de primeiros socorros. Por outro lado, várias comunidades próximas sofreram invasões terroristas com mortes de civis, segundo autoridades de Israel.

    Sarah Pollack, uma residente de Sa’ad que passou o sábado escondida no abrigo antiaéreo de sua família, disse que a área foi atingida por um foguete vindo de Gaza e alguns residentes que estavam fora da comunidade durante o ataque foram mortos.

    “Não sabemos como explicar isso. É um milagre”, disse Sarah durante entrevista em um hotel perto de Arad, em Israel, para onde ela e sua família foram evacuados.

    Embora Sa’ad tenha escapado com menos destruição do que os kibutzim vizinhos, Pollack disse que o ataque abalou profundamente a sensação de segurança dos residentes do que ela descreveu como uma “adorável, exuberante e bela área verde com jardins e árvores de que sempre tivemos orgulho”.

    “Achávamos que havia uma barreira física entre a Faixa de Gaza e Israel para nos proteger, pensávamos que estávamos seguros”, disse ela. “Estávamos muito errados”.

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