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    Saiba as razões para o aumento das tensões entre Israel e a Palestina

    Em um dos conflitos mais longos das últimas décadas, Israel e Palestina entram em confronto mais intenso em 7 anos

    Um policial israelense aponta sua arma para o portão de Damasco
    Um policial israelense aponta sua arma para o portão de Damasco Foto: Ilia Yefimovich/picture alliance via Getty Images)

    Richard Allen Greene e Oren Liebermann, da CNN

    O conflito entre Israelenses e palestinos entrou em ebulição nos últimos dias, escalando rapidamente para um dos piores momentos de violência entre os dois lados nos últimos anos.

    A situação já tensa incitada por movimentos para expulsar famílias palestinas de suas casas perto da Cidade Velha de Jerusalém explodiu em um dos locais mais sagrados da cidade, conhecido pelos muçulmanos como o Nobre Santuário e pelos judeus como o Monte do Templo.

    A polícia israelense entrou na Mesquita de Al Aqsa e abriu um confronto com os palestinos dentro do local sagrado, disparando granadas de atordoamento enquanto os palestinos atiravam pedras.

    Os conflitos resultantes lá e em outras partes da Cidade Velha deixaram centenas de palestinos e alguns policiais israelenses feridos. Grupos militantes palestinos em Gaza entraram na luta disparando foguetes contra Israel, que por sua vez respondeu com ataques aéreos.

    No dia seguinte, um representante das Nações Unidas alertou que a situação estava “escalando para uma guerra em grande escala”.

    “Parem de atirar imediatamente. Estamos escalando para uma guerra em grande escala. Os líderes de todos os lados têm que assumir a responsabilidade de diminuir essa escalada”, declarou o coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Tor Wennesland.

    Mas colocar um ponto final na violência pode não ser fácil. Fatores políticos, religiosos e nacionalistas se somam nessa situação.

    Por que isso está acontecendo agora?

    Jerusalém esteve em estado de alerta por várias semanas, com palestinos irritados com o fechamento de uma praça popular no momento em que o Ramadã estava começando. Outro motivo de tensão é uma batalha legal que dura anos para remover sete famílias palestinas de suas casas em Jerusalém Oriental – e que parece prestes a terminar com despejo.

    As famílias vivem no bairro de Sheikh Jarrah, ao norte da Cidade Velha, desde 1956. À época, foi fechado um acordo intermediado pelas Nações Unidas para encontrar casas em Jerusalém Oriental controlada pela Jordânia para famílias que perderam suas propriedades no que se tornou o estado de Israel em 1948.

    Uma organização nacionalista israelense chamada Nahalat Shimon está usando uma lei de 1970 (aprovada depois que Israel ganhou o controle sobre Jerusalém Oriental) para argumentar que os proprietários das terras antes de 1948 eram famílias judias, o que significa que os atuais ocupantes palestinos deveriam ser despejados e suas propriedades dadas aos judeus israelenses.

    Os palestinos afirmam que as leis de restituição em Israel são injustas porque eles não têm meios legais para pedir de volta as propriedades que perderam para famílias judias no final dos anos 1940 no que se tornou o Estado de Israel.

    Foguetes são disparados pelo movimento islâmico palestino Hamas de Gaza a Israel
    Foguetes são disparados pelo movimento islâmico palestino Hamas de Gaza a Israel
    Foto: Mohammed Talatene/picture alliance via Getty Images

    A Suprema Corte de Israel deveria ouvir um recurso no caso Sheikh Jarrah em 10 de maio. Mas o procurador-geral de Israel pediu um adiamento.

    A batalha legal pelas casas em Sheikh Jarrah reacendeu um debate acalorado sobre quem reivindica a cidade, seus locais sagrados e sua história. Jerusalém sempre foi a parte mais sensível do conflito entre israelenses e palestinos. Pequenas mudanças em uma situação delicada podem gerar protestos massivos. E vozes extremistas costumam estar presentes e fazer barulho em momentos assim.

    Centenas de extremistas judeus marcharam por Jerusalém no final de abril gritando “morte aos árabes”, em uma noite em que houve uma série de incidentes relatados pelas comunidades judaica e árabe da cidade visando um ao outro para ataque.

    No início desta semana, a marcha anual do Dia de Jerusalém, que normalmente passa pelo bairro muçulmano da Cidade Velha, foi reencaminhada em uma tentativa de evitar uma nova escalada de tensão.

    O que é Jerusalém Oriental e por que a região é tão sensível?

    Por quase duas décadas após a fundação do Estado de Israel em 1948, a cidade de Jerusalém foi dividida. Jerusalém Oriental era controlada pelos jordanianos, enquanto Jerusalém Ocidental era controlada pelos israelenses, que a tornaram sua capital.

    A questão fundamental é que Cidade Velha de Jerusalém e seus locais sagrados ficavam em Jerusalém Oriental.

    Nela ficam a Igreja do Santo Sepulcro, onde os cristãos acreditam que Jesus Cristo foi sepultado.

    É também o lar da Mesquita de Al Aqsa, onde os muçulmanos acreditam ser o local no qual o Profeta Maomé fez sua Viagem Noturna, bem como onde eles acreditam que ele ascendeu ao céu.

    A região é também o lar do local mais sagrado do mundo para os judeus, a pedra que Abraão teria escolhido para sacrificar seu filho, Isaque, e onde ficavam o Primeiro e o Segundo Templos nos tempos antigos.

    Polícia israelense nas escadas da mesquita Al-Aqsa
    Polícia israelense dispersa vigília de muçulmanos palestinos ao redor da mesquita Al-Aqsa
    Foto: Eyad Tawil/Anadolu Agency via Getty Images

    Durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, Israel capturou Jerusalém Oriental, colocando toda a cidade sob controle israelense. Israel também capturou a Cisjordânia, as Colinas de Golan e a Península do Sinai. Esta última foi devolvida ao Egito sob o acordo de paz de 1979, enquanto Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã permaneceram sob total controle israelense. Os palestinos têm autonomia limitada na Faixa de Gaza e em partes da Cisjordânia, mas Israel mantém o controle de todas as fronteiras e a segurança.

    Qual é a realidade em Jerusalém hoje?

    Toda a cidade de Jerusalém está sob controle israelense. Israel diz que não há diferença entre os lados ocidental e oriental da cidade; ao contrário, descreve a cidade como sua capital unida. (Mesmo assim, a cidade é amplamente autossegregada. Jerusalém Oriental é em grande parte palestina, enquanto Jerusalém Ocidental é em grande parte israelense. Os motoristas de táxi israelenses muitas vezes se recusam a dirigir para locais em Jerusalém Oriental.)

    Mas a lei internacional considera Jerusalém Oriental, a Cisjordânia, as Colinas de Golan e a Faixa de Gaza como territórios ocupados segundo as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, embora essa caracterização seja contestada por Israel. A Resolução 2334 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 2016, disse que os assentamentos israelenses em território palestino ocupado “não têm validade legal” e constituem uma violação flagrante do direito internacional.

    As leis internacionais não fazem distinção entre assentamentos na Cisjordânia ou assentamentos em Jerusalém Oriental, considerando ambos como território ocupado.

    A Cidade Velha, e mais especificamente o complexo de Al Aqsa, é governada por seu próprio acordo conhecido como Status Quo.

    Israel está encarregada da segurança no local, e a Jordânia, por meio de uma organização islâmica chamada Waqf, administra os locais religiosos.

    Muçulmanos palestinos fazem oração do Eid Al-Fitr
    Muçulmanos palestinos fazem oração do Eid Al-Fitr, festa que celebra o fim do Ramadan, em meio aos escombros em Gaza
    Foto: Majdi Fathi/NurPhoto via Getty Images

    Em tempos normais, visitantes de todas as religiões têm permissão para visitar o complexo, mas apenas os muçulmanos podem orar lá.

    Os palestinos veem Jerusalém Oriental como a capital de um futuro estado palestino.

    O que Israel e as autoridades palestinas dizem sobre o caso Sheikh Jarrah?
    Os líderes palestinos dizem que o esforço para expulsar famílias de suas casas é nada menos do que uma “limpeza étnica” com o objetivo de “judaizar a cidade sagrada”, informou a agência de notícias oficial palestina Wafa.

    Israel diz que o conflito é simplesmente uma “disputa imobiliária”. O Ministério das Relações Exteriores de Israel acusou a Autoridade Palestina e grupos militantes de “apresentar uma disputa imobiliária entre partes privadas, como uma causa nacionalista, a fim de incitar a violência em Jerusalém”.

    Mais de 700 mil palestinos foram deslocados durante a criação do Estado de Israel, de acordo com a agência das Nações Unidas de apoio aos refugiados palestinos.

    Funeral de soldado israelense morto do conflito
    Funeral de soldado israelense morto do conflito em 13/05/2021
    Foto: Amir Levy/Getty Images

    Qual é a posição da comunidade internacional?

    O esforço para expulsar famílias palestinas do bairro Sheik Jarrah tem sido duramente criticado.

    O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, disse no início de maio que seu país está “profundamente preocupado com o possível despejo de famílias palestinas em Sheikh Jarrah e bairros Silwan de Jerusalém, muitos dos quais moram em suas casas há gerações. Como dissemos de forma consistente, é fundamental evitar medidas que exacerbem as tensões ou nos afastem ainda mais da paz. Isso inclui despejos em Jerusalém Oriental, atividades de assentamento, demolições de casas e atos de terrorismo”.

    Funeral de 13 militantes do Hamas mortos em conflito
    Funeral de 13 militantes do Hamas mortos em conflito
    Foto: Majdi Fathi/NurPhoto via Getty Images

    A Comissão Europeia também condenou a violência e expressou preocupação com os possíveis despejos. “São ações ilegais segundo o Direito Internacional Humanitário e só servem para alimentar tensões no local”, declarou Peter Stano, porta-voz da Comissão Europeia para Relações Exteriores e Política de Segurança, em um comunicado.

    O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos disse em 7 de maio que a lei é “aplicada de maneira inerentemente discriminatória”, acrescentando que a transferência de civis israelenses para terras ocupadas pode ser “proibida pelo Direito Internacional Humanitário e pode constituir um crime de guerra”.

    Por que mais as tensões aumentaram recentemente?

    O caso do Sheikh Jarrah é o ponto crítico das tensões, mas elas se espalharam rapidamente pela cidade e muito além dos confins de Jerusalém.

    A situação em Jerusalém pode piorar rapidamente por conta própria. No entanto, uma combinação de fatores religiosos e nacionalistas ajudou a agravar as sensibilidades da cidade.

    Dois feriados caíram no mesmo fim de semana deste ano: a Noite do Poder Muçulmano (Leylet el-Qadr) em 8 de maio, considerada a noite mais sagrada do ano; e o feriado israelense do Dia de Jerusalém (Yom Yerushalayim) de 9 a 10 de maio, comemorando o dia em que os militares israelenses assumiram o controle da Cidade Velha em 1967.

    Cada feriado por si só pode inspirar fervor religioso e nacionalista e, juntos, eles são ainda mais suscetíveis de desencadear um quadro já tenso.

    Torre destruída em ataques aéreos de Israel
    Homem palestino em frente à torre destruída em ataques aéreos de Israel
    Foto: Ahmed Zakot/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

    A situação política não ajudou. Israel teve quatro eleições inconclusivas consecutivas, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu corteja alguns políticos abertamente racistas e extremistas enquanto luta para construir uma coalizão e permanecer no poder. Isso encorajou certos grupos judaicos de extrema direita.

    Os políticos israelenses de direita Itamar Ben-Gvir e Arieh King foram ao Sheikh Jarrah para enviar uma mensagem de que toda a cidade pertence a Israel. Sua presença atiçou as chamas.

    A situação política palestina é pouco mais clara do que a israelense. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, adiou em abril as primeiras eleições parlamentares em 15 anos, estendendo uma rivalidade de longa data na qual seu movimento Fatah governa a Cisjordânia, enquanto a Faixa de Gaza é governada pelo militante Hamas, com a Jihad Islâmica também ativa lá.

    Esse é o poder de Jerusalém. Os protestos em Jerusalém podem desencadear outros em Israel e na Cisjordânia, bem como levar grupos militantes em Gaza a disparar foguetes e as Forças de Defesa de Israel a lançar ataques aéreos. Mais uma vez, Uma situação que começou em um bairro de Jerusalém agora se espalhou pela área e chamou a atenção internacional para Israel e os territórios palestinos.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês.)