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    Com segunda onda de casos de Covid-19, Europa pode repetir o pico de mortes?

    Especialistas comentam fatores que podem influenciar positiva ou negativamente o quadro, como temporada de gripe, maior cuidado com idosos e novos tratamentos

    Emma Reynolds, , da CNN

    À primeira vista, as perspectivas para a Europa não parecem muito sombrias. Embora os casos relatados de novo coronavírus estejam atingindo níveis recordes enquanto o continente enfrenta uma segunda onda, as mortes ainda estão bem abaixo do pico em abril.

    Mas especialistas alertam que os sinais apontam para uma piora no quadro neste inverno do Hemistério Norte (quando chegar o verão no Hemisfério Sul, a partir de dezembro).

    Os hospitais europeus agora estão mais bem equipados para tratar a Covid-19. Medidas como distanciamento social e uso de máscaras se tornaram a norma e a última disseminação da infecção ocorreu principalmente entre os jovens, que têm menos probabilidade de morrer se contraírem o vírus.

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    No entanto, o tempo mais frio está começando a aparecer e a temporada de gripe se aproxima. A infecção está se espalhando para populações mais velhas e há sinais de que as pessoas estão exautas de seguir as restrições.

    “Obviamente, não temos realmente nenhuma maneira de evitar que a Covid-19 se propague, exceto os bloqueios – também chamados de lockdowns – ou medidas de distanciamento social e assim por diante; ainda não temos uma vacina”, disse Michael Head, pesquisador sênior em saúde global no University of Southampton do Reino Unido, à CNN.

    Embora não espere que as mortes atinjam os níveis da primeira onda de casos, Head acrescentou: “veremos muita propagação de casos, veremos muitas hospitalizações e muita sobrecarga no nosso serviço de saúde”.

    “Também haverá um grande número de mortos”, acrescentou.

    De jovem a velho

    Os casos do novo coronavírus relatados em toda a Europa atingiram um recorde de 52.418 em uma média de sete dias na terça-feira, de acordo com a análise da CNN de dados da Universidade Johns Hopkins. Mas houve apenas 556 novas mortes relatadas, em comparação com uma altura de 4.134 mortes diárias (de 31.852 casos) da média de sete dias em 10 de abril.

    Isso se compara a uma média de sete dias de 44.547 casos e 722 mortes na terça-feira na América do Norte, que tem uma população de 366 milhões em comparação com os 750 milhões de europeus.
    Os hospitais agora são mais capazes de diagnosticar e tratar o vírus, o que significa que as taxas de mortalidade para pacientes de UTI em alguns países europeus caíram de cerca de 50% durante a primavera para cerca de 20%, estima o pesquisador.

    Mas países como Bulgária, Croácia, Malta, Romênia e Espanha têm registrado aumentos sustentados nas taxas de mortalidade.

    Na primeira semana de setembro, a maior proporção de novos casos ainda estava entre os 25 a 49 anos, de acordo com o diretor da Organização Mundial da Saúde para a Europa, Hans Kluge. Mas também houve um aumento nos casos em grupos mais velhos, com idades entre 50 e 79 anos.

    Head alertou que o aumento nos casos “em algum momento se traduzirá em infecções em populações mais velhas, que apresentam taxas de mortalidade mais altas”.

    “Estamos vendo as taxas de casos em populações mais velhas e vulneráveis ??aumentando novamente em todos os países europeus”, disse ele. “Portanto, é um padrão muito previsível, na verdade, que em todo o Reino Unido e França ou Espanha vimos populações mais jovens sendo afetadas e, cerca de quatro a seis semanas depois. Estamos começando a ver pessoas idosas sendo infectadas.”

    Head acrescentou que mais casos na comunidade significam mais oportunidades para o vírus entrar em instituições como asilos, com “um grande aumento de surtos em lares de idosos aqui no Reino Unido, no último mês ou assim”.

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    Sobrecarga em hospitais

    A chegada da temporada de gripe também é uma “grande preocupação” por causa da carga potencial sobre os serviços de saúde, disse Head. A França, que registrou seu maior aumento diário no número de casos de 13.498 no sábado passado, viu o número de pessoas em UTIs aumentar 25% na semana passada.

    As mortes não são o único problema. A pressão sobre os hospitais também aumenta com o número de pessoas que sofrem os efeitos adversos do coronavírus mais de um mês depois de adoecerem. “Mesmo em pessoas mais jovens e mais saudáveis, ainda vemos cerca de 10 a 20% com consequências de longo prazo, além da infecção inicial”, disse Head.

    Ele disse que isso significaria “mais tensões sobre os serviços de saúde nos próximos meses e, na verdade, nos próximos anos”.

    Peter Drobac, médico de saúde global e diretor do Centro Skoll para Empreendedorismo Social da Universidade de Oxford, disse à CNN que seria “irresponsável” se a Europa permitisse que a taxa de mortalidade voltasse aos níveis de abril.

    Ele disse que, embora “não tenhamos detectado nenhum tipo de padrão sazonal com este vírus em particular”, o risco real é que o tempo frio force as pessoas a voltarem para casa, onde a transmissão é mais provável.

    Embora a maioria dos países agora tenha maior capacidade de teste, Drobac disse que “o aumento dos testes não explica o aumento de casos que estamos vendo na maioria das configurações”, uma vez que também estamos vendo uma porcentagem maior de testes dando positivo.

    “É claro que estamos perdendo o controle disso”, disse ele.

    “Sabemos o suficiente sobre como o vírus se comporta – como é transmitido, como controlá-lo, como tratá-lo quando as pessoas são infectadas – que devemos ser capazes de garantir que a segunda onda de infecções não seja devastadoramente grande, porque é isso que vai levar a um número maior de mortes, quando os sistemas de saúde começam a ficar sobrecarregados”.

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    ‘A tempestade perfeita’

    A abordagem da segunda onda de infecções varia na Europa. Os líderes estão tentando equilibrar a proteção da saúde pública com a prevenção de danos econômicos catastróficos de bloqueios nacionais.

    A Espanha registrou um recorde de 14.389 casos diários na última sexta-feira. Em Madri, que responde por um terço dos casos, os moradores de 37 áreas só podem sair de casa para ir ao trabalho, à escola ou por motivos médicos, e os parques e playgrounds foram fechados a partir de segunda-feira.

    O Reino Unido, que registrou o maior número de casos desde abril na quarta-feira, restringiu as reuniões a seis pessoas e fechará bares e restaurantes às 22h. A República Tcheca, que relatou um número recorde de infecções por coronavírus na sexta-feira, reintroduziu os requisitos de máscara interna no início deste mês.

    “O resultado final é que a segunda onda já acontece em muitos países da Europa”, disse Drobac. “Nossas ações nas próximas semanas, e durante todo o inverno, serão críticas para conter a propagação, mas se não controlarmos isso logo, especialmente em lugares como Reino Unido, Espanha e França no momento, certamente veremos um aumento nas mortes. “

    Drobac disse que a Europa mais uma vez precisa “achatar a curva” por meio de distanciamento social e medidas de higiene, bem como testes robustos e rastreamento de contato.

    Ele acredita que é “improvável” que os países retornem aos bloqueios nacionais completos que eram uma abordagem comum na primavera, em parte por causa da resistência pública ou do cansaço das restrições.

    “Acho que vai ser difícil conseguir apoio político e público para isso. Acho que vai ser difícil fazer cumprir e as pessoas estão cansadas”, disse ele.

    “Em muitos aspectos, achamos que o inverno poderia ser uma tempestade perfeita. É por isso que eu gostaria de ter usado nosso verão muito melhor, para realmente destruir o vírus e ter certeza de que estaríamos em uma posição melhor para ele.”

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