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    Apesar da pandemia, norte-americanos viajam ao México em busca de prostitutas

    Apesar da proibição das atividades por causa dos casos do novo coronavírus, bordéis, clubes de strip, bares e motéis em Tijuana atendem com portas fechadas

    Matt Rivers e Natalie Gallón, da CNN

    Fique em casa, em segurança, mas passe fome. Saia, ganhe dinheiro, mas arrisque sua vida. Para muitos no México, esta tem sido a escolha quase impossível da pandemia.

    Essa escolha bastante difícil se aplica tanto a lojista quanto a motorista de táxi. Mas ela está em outro nível para as prostitutas.

    “Tenho tanto medo pela minha saúde”, disse Alejandra, uma trabalhadora do sexo na cidade de Tijuana que informou apenas seu primeiro nome. “Não sei se a pessoa com quem estou tem a doença ou não.”

    Tijuana, o famoso “distrito da luz vermelha” do México, fica a poucos passos da fronteira com os EUA. A Calle Coahuila, a principal avenida da área, normalmente está repleta de uma ação frenética e de muitas luzes neon.

    Mulheres em vestidos curtos e com salto alto se posicionam nas calçadas na espera de homens para passarem algum tempo e gastar algum dinheiro com elas. Grandes clubes de striptease, alguns com hotéis anexos, funcionam como bordéis de facto.

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    Muitas atendem especificamente aos milhares de americanos que cruzam a fronteira da Califórnia a cada mês, em busca de um tipo de diversão que não pode ser encontrada legalmente nos Estados Unidos, exceto em alguns condados de Nevada onde a prostituição é permitida.

    Mas em Tijuana tudo é legal – ou, pelo menos, era até a chegada da pandemia de Covid-19.

    Suspensão de atividades

    O governo do México fechou sua economia no final de março. Negócios não essenciais foram forçados a parar suas atividades, inclusive no estado de Baja California, no qual Tijuana é a maior cidade.

    Isso significa que todos os clubes de strip, bares, motéis e até mesmo as prostitutas nas calçadas foram forçados a deixar de trabalhar – e essas restrições permanecem em vigor até hoje.

    A fronteira terrestre entre os EUA e o México também foi fechada para viagens não essenciais. Tudo foi feito com o intuito de retardar a propagação do vírus.

    Mas em uma recente viagem a Tijuana, ficou bastante claro que, embora a indústria do sexo não esteja tão vibrante quanto antes da pandemia, há muito dela ainda em funcionamento só que a portas fechadas.

    Roberto Torres, dono de clube de striptease em Tijuana, dispensou funcionárias
    Roberto Torres, dono de um clube de strip-tease em Tijuana, dispensou funcionárias e disse que não reabrirá enquanto não for seguro
    Foto: CNN

    Só alguns seguem as regras

    É, no mínimo, estranho estar em um clube de strip-tease vazio com as luzes acesas. Mas foi onde encontramos Roberto Torres, dono do Clube Masculino El Zorro, próximo à rua principal do bairro.

    “Eu não acho que estamos seguros para abrir ainda,” ele disse. “Portanto, não vou me colocar em risco, nem arriscar [a segurança dos] meus funcionários.”

    Ele teve que despedir todas as suas funcionárias. Ele diz que a maioria delas foi para casa, mas para aquelas que não foram, ele tem uma ideia de para onde poderiam ter ido parar.

    Reabrir seu negócio seria ilegal, mas em Tijuana, está claro que outros empresários não se importam. “As pessoas estão abrindo, certos lugares estão abertos, certos hotéis [de sexo] estão abertos”, disse ele.

    A nova forma de viver é arriscada

    Quase 8.000 pessoas estão registradas como prostitutas no governo de Tijuana, mas provavelmente há centenas, senão milhares, de outras que não estão registradas.

    Muitas saíram da cidade ou pararam de trabalhar, de acordo com a policial estadual com quem a CNN falou, mas há aquelas que ficaram porque estão atendendo à demanda que resta.

    Embora a fronteira esteja oficialmente fechada para viagens não essenciais, há exceções para cidadãos com dupla nacionalidade e poucos veículos são parados para fiscalização pelas autoridades mexicanas. 

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    Portanto, é relativamente fácil fazer uma viagem curta. E alguns americanos ainda vão para Tijuana para fazer sexo.

    Eles procuram pessoas como Alejandra, que estava trabalhando perto de um abrigo para imigrantes na cidade.

    Ela concordou cautelosamente em conversar com a reportagem em algum lugar privado. A produtora da CNN Natalie Gallón a emprestou algumas roupas do dia a dia, para que ela não chamasse a atenção dos funcionários do hotel.

    “As coisas estão realmente ruins para mim, agora”, disse essa veterana da indústria, apesar de ainda estar com seus vinte e poucos anos. “Estou constantemente preocupada, todos os dias.”

    Ela disse que a pandemia a atingiu de duas maneiras: com o declínio de sua base de clientes e, ao mesmo tempo, aumentando exponencialmente o risco de um emprego já perigoso.

    “Simplesmente não tenho ideia do que vai acontecer, se vou ficar infectada”, disse ela, movendo-se nervosamente de um lado para o outro na cadeira enquanto conversávamos.

    Ela tentou aplicar medidas sanitárias adicionais. Seus clientes agora têm que tomar banho e lavar as mãos antes do atendimento. Ela implementou uma regra de proibição de beijos e usa gel desinfetante para as mãos durante todo o processo.

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    Foto: Miltiadis Fragkidis/Unsplash

    Mas ainda se trata de sexo. O contato físico é inevitável. Alejandra sabe disso, mas diz que não tem escolha. A única maneira de sustentar sua filha de 6 anos é trabalhando.

    “Se eu não trabalhar, não comemos”, disse ela. “O que farei amanhã se ficar doente? Então, ainda tenho que sair, embora não queira.”

    Outra prostituta com quem conversamos e que usa o nome de Adanna, disse poder ficar em casa durante a pandemia porque dois norte-americanos que são seus clientes regulares lhe enviam dinheiro todos os meses.

    “Sem eles, não sei o que faria”, afirma. Ela diz que, mesmo com os pagamentos, mal consegue comprar comida para a filha de 5 anos.

    Se o governo disser que é seguro o suficiente para as empresas reabrirem, Adanna disse que voltaria imediatamente ao trabalho.

    Jaqueline Aguilar, de 34 anos, uma prostituta transgênero em Ensenada, cerca de duas horas ao sul de Tijuana, disse à CNN por telefone que voltou a trabalhar porque tinha que pagar suas contas.

    Ela trabalha com sexo desde os 13 anos e seus medos do dia a dia mudaram desde que a pandemia atingiu o México.

    “Antes, meu medo era a violência, que algum cliente me matasse ou me machucasse. Agora, meu medo é a pandemia, sair às ruas e, Deus que me livre, ser infectada e não poder trabalhar. Como eu compraria comida?”

    Prostitutas transexuais aguardam por clientes no México
    Prostitutas transexuais aguardam por clientes no México
    Foto: Jorge Dan – 21.jan.2010/ Reuters

    O governo mexicano acompanha trabalhadores de diferentes áreas que tiveram Covid-19, como os da área da saúde. Mas não há qualquer dado do tipo em relação às prostitutas.

    Aguilar, que também é fundadora de uma organização de apoio a mulheres transgênero e mulheres na indústria do sexo, diz que conhece pelo menos três colegas que tiveram sintomas de Covid-19, mas nunca fizeram o teste. Em vez disso, disse ela, elas se isolaram em casa.

    ‘Me sinto completamente seguro’

    Conversamos com donos de negócios e profissionais do sexo durante o dia em Tijuana, mas a única maneira de ter uma noção real da situação no distrito da luz vermelha é sair à noite.

    Este não é um lugar onde jornalistas são bem-vindos, por isso andamos pelas ruas com a Polícia Estadual de Baja California.

    À primeira vista, muitas empresas parecem fechadas. As portas da frente de alguns dos maiores e mais famosos clubes de strip estão trancadas. Lugares menores têm portões de metal sobre as vitrines.

    Mas um olhar mais atento levanta questões. Por que, se os maiores clubes de strip estão fechados, muitos pelos quais passamos ainda têm seguranças na frente? Por que, se os motéis estão fechados, muitos têm mulheres na frente convidando as pessoas a entrarem?

    “O comércio ainda está acontecendo”, disse o comandante da polícia dirigindo o veículo em que estávamos. “Só que está acontecendo a portas fechadas.”

    Esse fato foi rapidamente confirmado pelos americanos que vimos e ouvimos nas ruas e por um americano que conhecemos, parado do lado de fora de um motel onde ficou por alguns dias, contratando diferentes mulheres.

    “Muitos americanos estão aqui”, disse o homem que parecia ter quase 50 anos e pediu para não revelar seu nome. “Eles atravessam a fronteira, vêm aqui e fazem suas coisas.”

    Ele disse que está se protegendo, limpando seu quarto com lenços antibacterianos e não se alimenta dentro do local. São medidas seguras, exceto pela parte em que ele faz sexo com uma estranha, o que ele – assim como outros americanos – diz não ter problemas.

    “Acredito que sou muito bem informado sobre tudo isso”, disse. Contestado com o fato de especialistas em epidemiologia viral discordarem dele, o homem disse apenas que se sente “completamente seguro”.

    Sua ignorância sobre os riscos, no entanto, é o que coloca em perigo a vida das mulheres que ele contrata. Mas ele também as está ajudando a colocar comida na mesa. Estes são os dois lados de uma moeda muito perigosa.

    (Clique aqui e leia o texto original em inglês)

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