Trump vincula vacina a chance eleitoral
Órgãos do governo americano já estão encomendando equipamentos, reservando espaços para a fabricação das vacinas e até comprando algumas matérias-primas
Antes de entrar no tema central de seu discurso na terça-feira (14) no jardim da Casa Branca — os danos causados aos EUA pela China e a suposta responsabilidade de seu adversário, Joe Biden, nisso —, o presidente Donald Trump celebrou: “Grande dia no mercado de ações. As coisas estão melhorando. As pessoas estão se sentindo bem sobre terapias e vacinas”.
Nesse comentário, o presidente juntou suas duas grandes preocupações nessa corrida presidencial: a pandemia e a economia. Elas são inseparáveis. Como Trump rejeita as restrições recomendadas pelos epidemiologistas para conter a pandemia, exatamente por causa do seu impacto negativo sobre a economia, sua grande aposta está nos tratamentos e vacinas.
Leia também:
Fauci diz acreditar que EUA desenvolverão vacina contra Covid-19 até fim do ano
Vacina para Covid-19 da Moderna tem resultados ‘promissores’ em estudo da fase 1
Fauci teme que movimento antivacina impeça imunização contra a Covid-19 nos EUA
A Bolsa de Nova York teve nesta quarta-feira o seu quarto dia consecutivo de altas, por várias razões, mas a principal continua sendo o otimismo em relação ao desenvolvimento de vacinas, que abrem a possibilidade de reabertura da economia e de contenção da pandemia. As Ações da Moderna chegaram a subir 13,1% pela manhã. Depois caíram e fecharam em alta de 6,9%.
Na terça-feira, o The New England Journal of Medicine publicou artigo segundo o qual todos os 45 participantes de um teste de vacina contra Covid-19 do laboratório americano Moderna desenvolveram anticorpos. O artigo foi revisado por cientistas não-ligados ao experimento, o que não tem ocorrido em muitos casos, e lhe confere mais credibilidade.
A Moderna anunciou ainda na terça que começará a fase 3, sobre a eficácia da vacina, no dia 27, com 30 mil participantes. O projeto tem o envolvimento do Instituto Nacional de Saúde.
O governo Trump está envolvido em três outros programas de ponta. A Johnson & Johnson’s também pretende começar a fase 3 no fim deste mês. A Pfizer, também americana, em parceria com a alemã BioNTech, recebeu autorização rápida da FDA, agência reguladora de alimentos e drogas dos EUA. E a companhia sueco-britânica AstraZeneca, junto com a Universidade de Oxford, entrou na terceira fase de testes no Brasil e em outros países.
Órgãos do governo americano já estão encomendando equipamentos, reservando espaços para a fabricação das vacinas e até comprando algumas matérias-primas, mesmo sem saber se e quais delas vão funcionar. A ideia é começar a fabricação assim que for concluída a terceira e última fase de cada projeto.
No caso do AstraZeneca, o governo americano investe US$ 1,2 bilhão, e encomendou 300 milhões de vacinas. A previsão do Moderna é produzir 500 milhões de doses até o início do ano.
A população americana é 328 milhões, mas ninguém sabe qual dos projetos terá êxito, e qual será concluído primeiro. Além disso, é possível que seja necessária uma dose de reforço.
Todo esse esforço foi batizado pelo presidente Trump de Operação Velocidade Warp, que seria mais rápida que a da luz, segundo os filmes de ficção científica. Mas a pressa de Trump é bem real. As eleições são no dia 3 de novembro, e as pesquisas indicam a vitória de Biden.