Filha de Alexei Navalny pede que o pai seja atendido por médicos
O opositor de Putin está em greve de fome desde 31 de março e seus rins podem parar; aliados convocaram protestos para a próxima quarta-feira (21)
A filha do crítico do Kremlin em greve de fome, Alexei Navalny, pediu às autoridades russas neste domingo (18) que permitam que um médico trate seu pai na prisão. O pedido aconteceu um dia depois que um grupo de profissionais médicos alertou que Navalny corre riscos de falência renal.
Oponente do presidente russo, Vladimir Putin, Navalny começou a recusar comida em 31 de março em protesto contra o que ele disse ser a recusa das autoridades prisionais em lhe fornecer cuidados médicos adequados para dores agudas nas costas e nas pernas.
As autoridades penitenciárias da Rússia dizem que ofereceram cuidados médicos adequados a Navalny, mas que o político recusou e insistiu em ser tratado por um médico de sua escolha e fora das dependências da prisão, o que foi recusado pelo governo russo.
“Deixem um médico ver meu pai”, escreveu Dasha Navalny, que é estudante da Universidade de Stanford, nas redes sociais.
Um sindicato médico ligado a Navalny disse neste sábado (17) que ele estava em estado crítico, citando exames médicos que mostraram que os rins de Navalny podem falhar em breve – o que pode levar a uma parada cardíaca.
Navalny disse que as autoridades prisionais estão ameaçando colocá-lo em uma camisa de força para alimentá-lo à força.
O opositor de Putin foi condenado em fevereiro por violações da liberdade condicional, que ele alega terem sido forjadas. Ele foi preso em janeiro quando voltou da Alemanha para a Rússia, onde estava se recuperando de um envenenamento por agente nervoso.
O Kremlin disse não ter visto nenhuma evidência de que ele foi envenenado e alega que Navalny é um subversivo apoiado pelos Estados Unidos em uma missão para desestabilizar a Rússia.
Apoiadores convocam protestos
Os aliados do crítico do Kremlin disseram que planejam o que esperam ser “os maiores protestos de rua da história moderna da Rússia” a partir da próxima quarta-feira (21) para chamar a atenção para o declínio da saúde de Navalny e a repressão praticada contra seus apoiadores.
“As coisas estão se desenvolvendo muito rápido e mal”, escreveram eles em um comunicado no site de Navalny, anunciando seus planos para protestos em todo o país. “Não podemos mais esperar e adiar. Uma situação extrema exige decisões extremas.”
Os protestos, que as autoridades consideram ilegais e foram desmantelados com força no passado, estão planejados para o mesmo dia em que Putin fará um discurso anual sobre o estado da nação para a elite política.
O embaixador da Rússia na Grã-Bretanha disse em uma entrevista à TV BBC transmitida neste domingo (18) que Navalny estava em busca de atenção, mas que Moscou garantiria que ele sobrevivesse.
“Não será permitida a sua morte na prisão, mas posso dizer é que o Sr. Navalny se comporta como um hooligan, com certeza”, disse o embaixador Andrei Kelin durante a entrevista. “Seu propósito para tudo isso é atrair atenção para ele.”
Se o movimento que busca chamar a atenção para o estado de saúde de Navalny ser declarado oficialmente ilegal e extremista, os ativistas podem ser condenados a longas penas de prisão.
Um grupo de atores, escritores, historiadores, jornalistas e diretores, incluindo Jude Law e J.K. Rowling, escreveu uma carta aberta ao presidente Vladimir Putin nesta sexta-feira (16) solicitando que ele garanta os devido cuidados médicos ao opositor.
Um grupo de legisladores regionais da oposição também pediu a Putin para garantir que Navalny seja devidamente tratado.
‘Sua vida está por um fio’
Alguns manifestantes ficaram descontentes com o fim das manifestações que aconteceram no auge do inverno russo e tiveram milhares de pessoas detidas, mas os organizadores disseram que fariam um grande protesto assim que 500 mil pessoas se cadastrassem online para participar.
Em vista da saúde precária de Navalny, os organizadores disseram que convocariam o protesto para a próxima quarta-feira (21) de qualquer maneira, apesar de haver cerca de 40.000 pessoas a menos do que a meta estimulada.
“Navalny está agora em um campo de prisioneiros e sua vida está por um fio. Não sabemos por quanto tempo mais ele pode aguentar”, disseram eles. “A vida de Alexei Navalny e o destino da Rússia dependem de quantos cidadãos irão às ruas nesta quarta-feira.”