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    Em eleição, Austrália rejeita reconhecer povos originários na Constituição

    Mais de 60% dos australianos votaram “não” no referendo para reconhecer os aborígenes como os primeiros povos do país

    Praveen Menonda Reuters

    Líderes indígenas australianos pediram neste domingo (15) uma semana de silêncio e reflexão depois que um referendo para reconhecer os povos originários na Constituição do país foi rejeitado de forma categórica.

    Mais de 60% dos australianos votaram “não” no histórico referendo de sábado (14) que perguntou se a Constituição deveria ser alterada para reconhecer os povos aborígenes e das ilhas do Estreito de Torres com um órgão consultivo indígena, a “Voz ao Parlamento”, que teria aconselhado o parlamento sobre assuntos relativos à comunidade.

    O primeiro referendo da Austrália em quase 25 anos precisou de uma maioria nacional e de pelo menos quatro Estados para ser aprovado. Todos os seis Estados rejeitaram a proposta.

    “Esta é uma ironia cruel”, disseram os líderes indígenas em comunicado. “Que pessoas que estão neste continente há 235 anos se recusem a reconhecer aqueles que moram na terra há 60 mil anos ou mais é algo além da razão.”

    Eles disseram que baixariam a bandeira dos aborígenes e da Ilha do Estreito de Torres a meio-mastro ao longo da semana e convocaram outros a fazer o mesmo.

    O resultado é um grande revés para os esforços de reconciliação com a comunidade indígena do país e prejudica a imagem da Austrália no mundo no que diz respeito à forma como trata os povos originários.

    Ao contrário de outras nações com histórias semelhantes, como o Canadá e a Nova Zelândia, a Austrália não reconheceu formalmente nem chegou a um tratado com os povos originários do país.

    Os aborígenes e as pessoas das ilhas do Estreito de Torres representam 3,8% dos 26 milhões de habitantes da Austrália e habitam o país há cerca de 60 mil anos. Porém, eles não são mencionados na Constituição e são as pessoas mais desfavorecidas do país em medidas socioeconômicas.

    “Está muito claro que a reconciliação está morta”, disse Marcia Langton, arquiteta do Voice, à NITV (“National Indigenous Television”). “Acredito que serão necessárias pelo menos duas gerações até que os australianos sejam capazes de deixar para trás os seus ódios coloniais e reconhecer que existimos.”

    A Reconciliation Australia, uma fundação indígena, disse que a comunidade foi deixada para lidar com os “atos de racismo e desinformação” que eles disseram ser uma característica do debate.

    O líder indígena australiano e ex-jogador da união nacional de rúgbi Lloyd Walker disse que o caminho para a reconciliação parece difícil agora, mas que a comunidade precisa continuar lutando.

    “Podemos dizer que fomos derrotados na votação, mas ainda havia 40% das pessoas que o queriam. Anos e anos atrás não teríamos essa percentagem, com certeza”, disse Walker.

    Forte reflexão

    O primeiro-ministro Anthony Albanese apostou um capital político significativo no referendo, mas os críticos dizem que foi o maior erro dele desde que assumiu o poder em maio do ano passado.

    O líder da oposição, Peter Dutton, disse que foi um referendo “que a Austrália não precisava ter” e que só acabou dividindo a nação.

    Uma das maiores razões para a derrota foi a falta de apoio bipartidário, com os líderes dos principais partidos conservadores fazendo campanha pelo voto “não”.

    Nenhum referendo foi aprovado na Austrália sem apoio bipartidário.

    “Muito se perguntará sobre o papel do racismo e do preconceito contra os povos indígenas neste resultado”, disseram os líderes no comunicado. “A única coisa que pedimos é que cada australiano que votou nessa eleição reflita seriamente sobre essa questão.”

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