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    Joe Biden nega acusações de abuso sexual: ‘Isso nunca aconteceu’

    Ex-funcionária diz que candidato teria a constrangido e abusado 27 anos atrás, enquanto Biden era senador

    O candidato democrata à Presidência, Joe Biden, em Michigan
    O candidato democrata à Presidência, Joe Biden, em Michigan Foto: Mandel Ngan/AFP/Getty (9.mar.2020)

    Eric Bradner e MJ Lee, da CNN

    Joe Biden publicou uma nota nesta sexta-feira (1º) em que nega a acusação feita por Tara Reade, uma ex-assistente, de que ele teria a abusado sexualmente há 27 anos. “Isso nunca aconteceu”, disse. O comunicado é a primeira resposta detalhada do candidato democrata à presidência dos EUA sobre as alegações, após um aumento na pressão para que ele se posicionasse.

    “Enquanto os detalhes dessas alegações de assédio e abuso sexual são complicadas, duas coisas não são. Uma é que as mulheres merecem ser tratadas com dignidade e respeito, e quando elas se manifestam, devem ser ouvidas, não silenciadas. A segunda é que suas histórias devem ser apuradas e investigadas apropriadamente”, escreveu o ex-vice-presidente.

    Ele continuou: “Veículos de mídia responsáveis deveriam examinar e avaliar as inconsistências da história [de Reade], que mudou repetidamente de formas grandes e pequenas”.

    “Mas isso deve ser enfatizado”, disse. “Ela falou que levou essas questões a seu supervisor e a funcionários do alto escalão do meu escritório naquela época. Eles —dois homens e uma mulher— declararam que ela nunca falou sobre o assunto. Veículos de mídia falaram com dúzias de ex-funcionários e não encontraram um único que corroborasse a denúncia dela de alguma forma. Na verdade, muitos deles falaram de uma cultura profissional que não toleraria esse tipo de comportamento de nenhuma forma —como eu, de fato, não faria”.

    Em uma entrevista ao canal de notícias americano MSNBC, Biden disse que ele está “dizendo inequivocamente que nunca, nunca aconteceu”. “Quando ela me acusou pela primeira vez, deixamos claro que isso nunca aconteceu, e é simples assim”, declarou o candidato.

    A alegação de Reade

    Reade, que foi uma funcionária júnior do gabinete de Biden em 1993, acusou publicamente o atual candidato de assédio e constrangimento. A ex-funcionária fez as denúncias a vários veículos de comunicação, incluindo a CNN.

    Ela disse à CNN que, à época, ela recebeu um pedido para levar uma bolsa para o então senador. Num corredor de algum lugar no Capitólio, Reade disse que Biden “a empurrou contra a parede e usou o joelho para abrir minhas pernas” e “colocar seus dedos dentro de mim”.

    Uma amiga de Reade, que pediu à CNN para manter o anonimato, disse que soube do caso em detalhes e recebeu uma ligação poucos dias depois do acontecido.

    Um ex-vizinho de Reade disse que ela o contou sobre o assédio, e um vídeo recente de 1993 parece mostrar a mãe da ex-funcionária ligando para um programa de auditório, o Larry King Live, para pedir conselhos sobre como lidar com problemas que a filha estava tendo enquanto trabalhava com um proeminente senador americano. Reade disse que está certa de que a voz que aparece na gravação é de sua mãe, Jeanette Altimus, que morreu há alguns anos.

    O jornal Washington Post entrevistou o irmão de Reade, Collin Moulton, que disse que, em 1993, a irmã havia lhe contado sobre o candidato tocar seus ombros e seu pescoço, mas não sobre o abuso. Alguns dias depois, Moulton enviou uma mensagem ao jornal dizendo que se lembrava que Reade disse que “Biden colocou a mão sob suas roupas”.

    Moulton confirmou as acusações em uma mensagem à CNN.

    Reade disse que reclamou para múltiplos colegas de trabalho sobre as interações com Biden que a constrangiam, mas não sobre o abuso. Reade disse que também fez uma reclamação ao departamento de pessoal do Capitólio da época, mas ela não tem uma cópia do documento. Não fica claro qual era a reclamação e em qual escritório ela pode ter feito a denúncia.

    Os documentos de Biden no Senado

    O ex-vice-presidente tem sido pressionado para divulgar os documentos de seu tempo como senador, o que alguns dizem que poderiam esclarecer a acusação. Esses documentos estão na Universidade do estado de Delaware e não serão publicados até dois anos depois de Biden deixar a vida pública.

    A universidade dissse nesta semana que ainda está organizando a coleção de documentos, um processo que deve durar até agosto de 2021. Sendo assim, a instituição não pode identificar o que pode ser encontrado nesses arquivos, disse um porta-voz.

    “Eu estou pedindo à Secretaria do Senado para que requeira ao arquivo qualquer registro de denúncia que ela tenha feito e divulgue tal documento. Se houve qualquer denúncia, o registro estará lá”, disse.

    Biden também disse em entrevista à MSNBC que seus documentos da Universidade de Delaware continuariam em segredo pois poderiam se transformar em arma política enquanto ele se candidata à Presidência.

    “A ideia de que os arquivos seriam divulgados enquanto estou concorrendo ao cargo pode ser tirada fora de contexto”, disse, adicionando que os papéis cobrem tópicos como reuniões com outros chefes de estado.

    Questionado sobre se divulgaria todas as denúncias contra ele, Biden disse que está preparado para fazer isso e que, até onde sabe, não há qualquer denúncia de assédio sexual de sua parte.

    A CNN entrevistou seis ex-funcionários de Biden que trabalhavam com ele no Senado no começo dos anos 1990. Todos disseram que não sabiam de nada do tipo.

    “Em todos os meus anos trabalhando com o senador Biden, eu nunca presenciei, ouvi ou recebi qualquer denúncia de comportamento inapropriado. Não da srta. Reade, nem de ninguém. Não tenho conhecimento nem memória do que a srta. Reade conta, que com certeza teriam deixado uma marca profunda em mim como mulher e como gestora”, disse Marianne Baker, que foi assistente-executiva de Biden entre os anos 1980 e 1990. “Essas acusações, claramente falsas, estão em completa contradição com o funcionamento do Senado e com o homem que conheço e trabalhei com proximidade por quase duas décadas”.

    Dennis Toner, que era chefe do gabinete de Biden à época e uma das pessoas que Reade disse ter discutido suas reclamações, disse à CNN em uma entrevista nesta quinta (30) que não se lembrava de Reade ou de qualquer conversa ligada à acusações de assédio. “Claramente eu me lembraria se Tara e eu tivéssemos qualquer conversa sobre acusações de assédio sexual, ainda mais se envolvesse o senador Biden. Isso ficaria gravado profundamente na minha cabeça. Não entendo”, disse.

    Equilíbrio

    O pré-candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden
    O pré-candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden
    Foto: Brendan McDermid/Reuters (10.mar.2020)

    A única resposta de Biden por semanas foi uma nota da funcionária de sua campanha Kate Bedinfield, em que destaca o papel do ex-vice na criação do Ato Contra Violência Doméstica e dizendo que o que Reade alegou “absolutamente não havia acontecido”. Outros empregados de Biden também disseram que Reade nunca falou nada sobre o candidato à época.

    A denúncia de Reade acontece enquanto Biden se prepara para enfrentar o atual presidente Donald Trump na eleição geral neste novembro. Trump também já foi acusado por mais de uma dúzia de mulheres por condutas que vão de avanços indesejados até assédio e abuso sexual. O presidente nega qualquer culpa.

    Para alguns dos apoiadores de Biden, a história da ex-funcionária levantou um desafio de equilibrar o apoio à campanha sem desmerecer a denúncia. Os democratas abraçaram a movimento #MeToo vocalmente nos últimos anos, dizeendo que todas as vítimas deveriam ser ouvidas e reconhecidas. E a questão de gênero deve continuar sob os holofotes da campanha, já que Biden procura uma vice mulher.

    Algumas das favoritas à nomeação, incluindo a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, e a senadora do Minnesota, Amy Klobuchar, foram questionadas sobre as acusações ao candidato.

    Na entrevista à MSNBC, Biden disse que não sabia por quê Reade estava fazendo essas acusações neste momento. “Não vou questionar seus motivos”, disse, “mas não entendo por quê ela está dizendo isso. Não sei por que depois de 27 anos, isso aparece. Ela tem direito de dizer o que quiser, mas eu tenho direito de dizer que as pessoas se atentem aos fatos”.