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    Deixar de pagar o cartão de crédito pode ser um sinal precoce de demência

    Pesquisadores apontam que pacientes portadores de Alzheimer e demência deixaram de pagar sua dívidas até seis anos antes de serem diagnosticados

    Christina Zdanowicz, da CNN

    Cartão de crédito
    Estudo mostra ainda que pacientes tinham sinais precoces das doenças que se refletiam em suas vidas financeiras.
    Foto: Unsplash

    Esquecer de pagar as contas de cartões de crédito e empréstimos pode ser um indicador precoce de demência anos antes do diagnóstico, de acordo com um novo estudo.

    Publicado na segunda-feira no periódico “JAMA”, a pesquisa avaliou pacientes do sistema médico de saúde dos Estados Unidos, o Medicare, de diversas partes do país e analisou seus dados de crédito e pagamentos ao longo do tempo.

    Os pesquisadores constataram que pacientes com Alzheimer e dêmencia correlata tiveram mais probabilidade de deixar de fazer pagamentos até seis anos antes de serem diagnosticados Essas falhas financeiras levaram a uma queda em suas pontuações de crédito dois anos e meio antes do diagnóstico, um achado não encontrado nos pacientes sem demência.


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    “Acho que ficamos um pouco surpresos com o fato de isso ser tão comum a ponto de ser constatado nos dados”, disse a autora principal, Lauren Hersch Nicholas, à CNN. “Os médicos comentam informalmente que devemos investigar a demência no talão de cheque, mas não acho que tenhamos noção de como esses efeitos poderiam estar acontecendo com anos de antecedência.”

    Nicholas é professora associada da Universidade Johns Hopkins. O estudo foi liderado por pesquisadores da Johns Hopkins e do conselho do Banco Central dos EUA, o Federal Reserve Board of Governors.

    A demência decorrente de Alzheimer afeta cerca de 5,8 milhões de norte-americanos com idade igual ou acima de 65 anos, de acordo com a Associação de Alzheimer. O número de norte-americanos portadores da doença deve chegar a 13,8 milhões até 2050, segundo a organização sem fins lucrativos.

    De acordo com o estudo publicado no “JAMA”, os pesquisadores analisaram os dados do relatório de crédito ao consumidor de mais de 81 mil beneficiários do Medicare referentes a um período de quase 20 anos, de 1999 a 2018.

    O amplo conjunto de dados revelou que os pacientes que acabaram sendo diagnosticados com demência tinham sinais precoces que se refletiam em suas vidas financeiros.

    “Infelizmente, isso é comum”, afirma Nicholas. “No ponto mais alto dos resultados, descobrimos que a demência é responsável por 5% a 20% dos pagamentos inadimplentes de pessoas que desenvolveram a doença. Vários outros fatores também fazem com que as pessoas deixem de realizar os pagamentos, mas acredito que a demência seja um dos mais importantes também nessa faixa etária.”

    Nicholas contou que entrou nessa área de estudo depois de ver sua avó lutar contra a demência. Quando sua mãe descobriu que a Receita Federal havia enviado uma notificação para sua avó, ela se ofereceu para cuidar das finanças dela, segundo Nicholas.

    A esperança que esse estudo traz é que os pacientes ou seus entes queridos comecem a perceber que há algo errado antes que seja tarde demais, comenta Nicholas. Isso poderia levar alguém a perder sua casa ou dar o dinheiro de sua aposentadoria para um golpista.

    “Esse é o provável efeito colateral realmente assustador da demência que não fomos capazes de quantificar anteriormente”, afirma Nicholas. “De uma perspectiva econômica, eu sabia que tínhamos os dados e métodos que nos permitiriam testar se alguns desses episódios também estavam presentes em conjuntos de dados maiores. A má notícia é que estão.”

    Pacientes com um nível de educação mais baixo que acabaram desenvolvendo demência começaram a deixar de fazer pagamentos até sete anos antes de seu diagnóstico. Pacientes com um maior nível educacional não apresentaram sintomas financeiros até dois anos e meio antes do diagnóstico.

    Embora a educação financeira esteja frequentemente ligada ao nível educacional, a razão para os pacientes com menor escolaridade desenvolverem a doença mais cedo não está clara.

    “Nesse caso, não sabemos se é porque eles não recebem cuidados de saúde com a mesma rapidez e, por isso, temos um período mais longo, ou se os sintomas só aparecem mais cedo para eles”, explica Nicholas.

    Alguns diriam que outras doenças ou enfermidades poderiam contribuir para uma menor capacidade de tomada de decisão financeira, mas o estudo constatou o contrário. O levantamento comparou as condições de comorbidade das pessoas com o fato de elas desenvolverem demência.

    “Na verdade, vemos padrões muito distintos na demência, sugerindo uma maior probabilidade de declínio cognitivo do que o fardo típico da doença que está causando isso”, detalhou a pesquisadora.

    Lis Nielsen, diretora do Departamento de Pesquisa Comportamental e Social do Instituto Nacional do Envelhecimento dos Estados Unidos, revisou de maneira independente esse estudo, que foi financiado principalmente pelo instituto.

    Segundo Nielsen, é difícil dizer por que o grupo de menor nível de escolaridade apresentou sintomas financeiros precoces.

    “Existe a possibilidade de que o diagnóstico de demência chegue mais tarde para alguns grupos menos favorecidos devido à falta de acesso a bons cuidados”, afirmou a diretora à CNN. “Sabemos por algumas minorias que o diagnóstico é frequentemente posterior nesses grupos, em comparação com indivíduos abastados, brancos e favorecidos do ponto de vista socioeconômico.”

    A ideia de sintomas financeiros serem um indicador precoce de demência não é novidade, acrescentou.

    “Déficits de tomada de decisão como esse não são uma parte necessariamente normal do envelhecimento”, disse Nielsen. “Já se sabe há muito tempo que a capacidade financeira, ou dificuldade em tomar decisões financeiras, é um marcador precoce e preditivo de um diagnóstico de demência posterior.”

    Para Nielsen, a pesquisa pode ajudar as pessoas a perceberem que podem estar apresentando sinais de demência.

    “Ter uma maneira de detectar isso precocemente pode ser muito útil para as pessoas, mesmo na ausência de uma cura para a demência. Dessa forma, elas poderão manter sua situação financeira em ordem e talvez ter alguma fonte de apoio ou intervenção antes de cometerem erros catastróficos”, afirma Nielsen.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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