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    Postura da Argentina no Mercosul irrita governo brasileiro

    "Nós não negociaremos pela imprensa", diz o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, Secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Itamaraty

    André Spigariol e Diego Rezende, , Da CNN, em Brasília e de Buenos Aires

    A condução da Argentina com relação às negociações de acordos comerciais do Mercosul com outros países nas últimas semanas gerou desgaste com os demais sócios do bloco, inclusive o Brasil. Na avaliação de fontes ouvidas pela CNN em Brasília e Buenos Aires, o governo de Alberto Fernández usa o episódio para mandar recados ao bloco por meio de notas oficiais e vazamentos à imprensa, que por vezes não refletem a posição dos demais sócios do Mercosul.

    “Nós não negociaremos pela imprensa. Nós não consideramos produtivo discutir isso através da imprensa. E eu digo isso com todo o respeito à imprensa, porque queremos que essas posições sejam discutidas à mesa negociações”, disse à CNN o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, Secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Itamaraty. Ele representa o governo brasileiro nas reuniões do bloco. 

    Depois de terem anunciado que não participariam mais de tratativas de acordos de livre comércio com outros países, subordinados de Alberto Fernández voltaram atrás e apresentaram uma proposta nesta quinta-feira (7) para continuarem nas negociações em conjunto com Brasil, Paraguai e Uruguai, mas com velocidade menor e possibilidade de medidas protecionistas e outras flexibilizações. Após a reunião, realizada por videoconferência, integrantes do governo argentino chegaram a dizer que os quatro países conseguiram um acordo. 

    Em nota oficial, a chancelaria argentina disse ainda que Brasil, Paraguai e Uruguai “valorizaram” a proposta de Buenos Aires,  fizeram “alusão à claridade” do texto e realizaram apenas “consultas específicas”. Já o Paraguai, que ocupa a presidência do Mercosul, disse em nota que todos os sócios chegaram a um consenso para seguirem negociando em conjunto. No entanto, segundo Costa e Silva, “ainda não houve acordo entre os sócios, nem decisões conjuntas” e as notas divulgadas por Assunção e Buenos Aires dizem respeito apenas à posição destes países. 

    “Na reunião de ontem nós tivemos a oportunidade de tirar dúvidas sobre a proposta Argentina, que quer seguir nas negociações com algumas flexibilidades. O governo brasileiro ainda está avaliando essas informações e não tem uma posição definida quanto a isso. Estamos refletindo sobre essa proposta e por isso por enquanto nós nos reservamos de tornar pública a nossa posição”, diz o embaixador brasileiro. “Ficaremos felizes de negociar acordos em conjunto com a Argentina nos casos em que todos estivermos de acordo. Naqueles acordos em que os argentinos não pedirem flexibilizações, continuaremos trabalhando normalmente”, assegura. 

    A CNN apurou que a discussão trazida pela Argentina reacendeu um debate dentro do governo Bolsonaro sobre um desejo de integrantes da equipe econômica de obterem flexibilização das normas do Mercosul para permitir que o Brasil negocie tratados de livre comércio de forma bilateral, sem necessariamente contar com a participação de outros sócios do Bloco. Em reunião com o chanceler Ernesto Araújo, o ministro Paulo Guedes chegou a abordar o assunto.

    Segundo fontes diplomáticas consultadas pela CNN, é possível encontrar as flexibilidades solicitadas pela Argentina dentro dos tratados constitutivos do Mercosul. “O bloco sempre foi um acordo diplomático flexível. Atualmente há uma clara diferença de visão entre alguns países que demanda essa flexibilidade”, avalia um diplomata ouvido pela reportagem. 

    No entanto, o desejo de Brasília é que as flexibilizações demandadas pela Argentina valham para todos os sócios do bloco, inclusive o Brasil. “Se eles desejam flexibilização de tarifas, bilateralidades e outras condições, isso não pode valer apenas para eles”, disse um integrante do governo brasileiro. 

    Negociadores ouvidos pela reportagem também avaliam que as condições impostas pela Argentina ainda precisarão ser combinadas com os outros países com quem o Mercosul negocia. Atualmente, há negociações em aberto com Canadá, Cingapura, Coreia do Sul e Líbano.

    Fontes diplomáticas na Argentina relatam que a maior preocupação do país é com o capítulo de bens industrializados no acordo com a Coreia. Setores da indústria argentina estão preocupados com a concorrência que bens importados podem gerar ao ramo de eletrônicos e automóveis.

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