Conheça o casal que vive há 29 anos na ilha que eles mesmos construíram
Catherine King e Wayne Adams fizeram a "Freedom Cove" (Enseada da Liberdade) na costa de Vancouver, no Canadá, só com materiais reciclados ou recuperados
As medidas de isolamento tomadas para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus obrigaram muitas pessoas a aprenderem a amar a solidão e a se familiarizar novamente com suas casas. Mas para um casal a vida permaneceu praticamente inalterada.
A 16 quilômetros de Tofino, na província canadense da Colúmbia Britânica, na costa oeste da ilha de Vancouver, Catherine King e Wayne Adams vivem em um complexo flutuante e sustentável.
Chamam o local de “Freedom Cove” (Enseada da Liberdade, em tradução livre), fruto de seu amor, feito à mão usando materiais reciclados e recuperados. A ilha tem sido a casa deles nos últimos 29 anos.
A Freedom Cove fica a 25 minutos de barco da cidade mais próxima, e não há como chegar até ela de carro. “A única opção para chegar aqui é pela água. Não há acessos rodoviários. A água é a nossa rodovia”, diz Adams.
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Ilha de meia tonelada
Toda a estrutura tem o tamanho de dois lotes urbanos e pesa cerca de meia tonelada, flutuando livremente no oceano. Embora existam cabos que amarrem o complexo à costa, ele não está ancorado no fundo do oceano.
Quando você chega, é imediatamente recebido por prédios magenta brilhantes com detalhes em turquesa escuro. Um arco de ossos de baleia te recebe. O complexo tem tudo o que você poderia imaginar e muito mais: uma pista de dança, uma galeria de arte, uma fábrica de velas, quatro estufas, seis painéis solares e acesso a uma pequena cachoeira que fornece água corrente constante.
O casal criou até seu próprio sistema de gerenciamento de resíduos. “É a pergunta mais comum que nos fazem”, diz Adams. Eles instalaram um tanque flutuante para, nas palavras de Adams, “lidar com a afluência”.
Se quiserem, King e Adams poderiam se autossustentar completamente na Freedom Cove sem precisar voltar à cidade.
Inspirada pela natureza
Como artistas, King e Adams sempre se inspiraram na natureza. Adams é um entalhador e usa elementos encontrados na natureza – como penas e ossos – para criar suas obras.
King é uma artista, dançarina e curandeira natural, tendo estudado homeopatia.
“Eu queria ser um artista rico e de sucesso, morar em Tofino e ter um estúdio no deserto, como todos os bons artistas ricos deveriam”, diz Adams. “Esperava ganhar muito mais dinheiro como artista. Nós nunca pudemos comprar um imóvel, então tivemos que fazer o nosso.”
Um chamado da natureza os levou a tornar seus sonhos realidade, mesmo sendo resultado de um acidente.
Depois de ficar na cabana de um amigo em Cypress Bay, uma grande ventania durante uma tempestade arremessou madeira na propriedade. Os dois juntaram a madeira e a usaram para construir a base do que se tornaria sua futura casa.
“Acho que recebemos um sinal de que era hora de começar”, lembra Adams. Enquanto continuava a construir sua casa, o casal decidiu usar apenas materiais reciclados e recuperados.
Muitas partes foram obtidas com madeireiros e pescadores da cidade. Adams trocava arte qualquer coisa que eles tinham em seus quintais, de aquários a bóias.
Um pedaço de acrílico retirado de uma pista de hóquei foi usado para fazer um piso de vidro transparente na sala de estar, que Adams pode levantar para pescar no conforto de seu sofá.
Tentativa de viver com menos
Antes de Freedom Cove, o casal morava em um apartamento em Tofino. Eles chamam sua mudança para a natureza de “processo de desaceleração”.
“Tínhamos todos os tipos de coisas, como processadores de alimentos e itens que exigiram muita eletricidade”, lembra King. “Nós os demos e nos desfizemos de muita coisa no processo de preparação.”
Eles não tiveram escolha. A primeira versão de sua casa flutuante não tinha água corrente nem energia. Hoje, o dia a dia é bem diferente do que era em Tofino.
“Ao viver na natureza você não pode obter nada instantaneamente”, diz King. “Não podemos simplesmente pedir uma pizza… Não podemos simplesmente ir à loja da esquina… Temos que trabalhar para conseguir o que quisermos.”
É mais do que apenas uma casa
Fazer esse trabalho é um processo contínuo de aprendizado, mudança e crescimento. King começa o dia varrendo e sacudindo os tapetes. “No deserto, sempre há muita sujeira e poeira”, diz ela.
Ela rega suas milhares de plantas e hortas – todas germinadas a partir de sementes – e rema em sua canoa para coletar algas marinhas como adubo.
Adams começa recolhendo lenha e acendendo o fogo para garantir que a casa esteja aquecida. Ambos trabalham na construção de novos componentes para sua casa.
“É um projeto”, diz King. “É um projeto de cultivo de alimentos para prover a família. É um projeto de arte… É um projeto de ter um espaço para se mover, dançar, tocar música, fazer coisas espontaneamente que você não poderia apenas fazer da mesma maneira se você estivesse na cidade.”
Os vizinhos são… incomuns
Embora eles não tenham vizinhos humanos por quilômetros, o casal ainda tem muita companhia. “Temos alguns corvos residentes aqui que fazem parte da família”, diz Adams. “Nós conhecemos todos os pássaros.”
“Nomeamos Harry a garça-real, Sylvie, a foca, Gertrude e Heathcliff as gaivotas”, acrescenta King.
“Morei na cidade, tive uma experiência, mas realmente precisava da paz do deserto”, diz King.
Vinte e nove anos depois, esse ainda é o maior atrativo da casa deles. “Entrar em uma cidade é chocante no quesito som”, diz ela. “Eu meio que chacoalhava por dentro… o barulho começa a chegar até mim, acho fácil perder meu centro.”
“Esculpimos um pedaço do mundo nós mesmos aqui”, diz King. “Podemos viver de um maneira única e diferente de qualquer outra pessoa no planeta.”
Mas e o enjoo do mar?
“Não fico enjoado”, diz Adams. “Quando vou à cidade, fico enjoado em terra.”
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês)