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    Covid-19: Europa perdeu chance de parar nova onda e EUA podem repetir erro

    Após relaxarem restrições, diversas capitais do continente anunciaram regras mais rígidas de circulação para tentar conter a propagação do novo coronavírus

    Críticos dizem que novas restrições na Europa vieram tarde demais e que problemas podem estar ligados à ansiedade de políticos em relaxar medidas
    Críticos dizem que novas restrições na Europa vieram tarde demais e que problemas podem estar ligados à ansiedade de políticos em relaxar medidas Foto: CNN Brasil (1.nov.2020)

    Ivana Kottasová e Valentina Di Donato, da CNN

    A Europa perdeu a chance de impedir uma nova onda do novo coronavírus antes que a doença saísse do controle. Agora, está pagando um preço alto por isso, com novos lockdowns sendo impostos ao redor do continente.

    Conforme os casos aumentam, a França anunciou na noite de quinta-feira (18) novas restrições em 16 regiões, incluindo Paris e Nice, apesar de o presidente Emmanuel Macron ter se recusado a reimpor um lockdown nacional.

    Na segunda-feira (15), várias partes da Itália, incluindo as cidades de Roma e Milão, novamente entraram em um lockdown restrito, enquanto na Espanha, todas as regiões com exceção de Madri decidiram restringir viagens durante o feriado da Páscoa. A capital alemã Berlim também interrompeu os planos de aliviar o lockdown, justificando o aumento do número de casos de Covid-19.

    Críticos dizem que as novas restrições vieram tarde demais e que os problemas atuais da Europa podem estar ligados à ansiedade de políticos em iniciar o relaxamento das restrições.

    “A segunda onda não acabou e o lockdown foi interrompido cedo demais para permitir com que as pessoas fizessem as compras de natal”, afirmou a epidemiologista francesa Catherine Hill à CNN. Ela disse que os níveis de infecção continuaram altos. “I nternações em unidades de tratamento intensivo [tem aumentado] regularmente, e a situação agora é crítica em várias partes do país, incluindo a grande Paris”.

    Uma variante mais contagiosa do vírus, conhecida como B.1.1.7, parece ser a culpada pelo caos. Novos dados publicados pelo periódico British Medical Journal sugerem que a cepa, detectada no ano passado no Reino Unido, pode ser até mais mortífera.

    Alessandro Grimaldi, diretor de doenças infecciosas no hospital Salvatore, na cidade italiana de L’Aquila, contou à CNN que as novas e mais contagiosas variantes “mudaram o jogo”, e acrescentou que “inevitavelmente, as medidas tomadas para prevenir as infecções se tornaram mais drásticas”.

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um alerta sobre isso dois meses atrás, quando ficou claro que a variante britânica estava circulando na maior parte da Europa. “Quando ela se torna dominante, ela pode impactar na curva epidêmica e levar a uma implementação mais restritiva das medidas sociais e de saúde pública, para que os índices possam diminuir”, disse na época Catherine Smallwood, Autoridade Sênior de Emergência para a Europa da OMS.

    Isso aconteceu agora. O centro para controle de doenças da Alemanha anunciou no dia 10 de março que a variante britânica se tornou a cepa dominante no país. A nova variante também é responsável pela maioria dos novos casos na França e na Itália, de acordo com as autoridades de saúde. Na Espanha, a B.1.1.7 é agora a cepa dominante em 9 das 19 regiões do país.

    O agravamento da situação na Europa é uma advertência para os Estados Unidos. A variante que vem renovando a crise no continente também está se espalhando rapidamente nos EUA. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) do país projetaram que ela se tornará a cepa dominante lá até o final deste mês ou o começo de abril.

    Mas existe outra razão para os especialistas nos EUA se preocuparem com o que vem acontecendo com a Europa neste momento.

    A Alemanha, França, Itália e Espanha têm evitado grandes picos de infecções como a que paralisou o Reino Unido depois do feriado de Natal. Os níveis de infecção só ficaram estáveis ou deram sinais de queda apenas algumas semanas atrás. Com as campanhas de vacinação se iniciando, mesmo que lentamente, ao redor do continente, as pessoas começam a ver uma luz no fim do túnel.

    Mas apesar das tendências parecerem promissoras, o número de casos ainda é muito alto. E isso se tornou o maior problema quando a nova onda começou – fazendo novos lockdowns serem necessários, disse Grimaldi.

    “Não é fácil fazer lockdowns, porque traz desespero econômico (…) traz a mudança no estilo de vida”, ele diz. “Mas eles são indispensáveis para tentar parar o vírus.”

    Ele disse que dados de um estudo recente da Universidade de Bolonha mostram que medidas mais rigorosas, conhecidas como “zonas vermelhas” na Itália, funcionam – levando a uma queda de até 91% no número de mortes relacionadas à Covid-19.

    Um atraso na decisão de impor lockdowns pode ser mortal. A organização britânica Resolution Foundation disse na quinta-feira (18) que 27 mil pessoas morreram de Covid-19 por causa do atraso do início do último lockdown até janeiro, apesar da evidência do rápido aumento de casos em dezembro.

    Autoridades americanas de saúde pública estão preocupadas que os Estados Unidos estejam seguindo para a mesma direção – com alguns estados começando a aliviar as medidas de segurança, mesmo ainda com um alto número de casos.

    “Quando você vê um platô em um nível de até 60 mil casos por dia, esse é um momento muito vulnerável para se ter um surto, para voltar a subir. Isso é exatamente o que aconteceu na Europa”, disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA.

    Segundo ele, depois de declínios promissores nos números da Covid-19, alguns países europeus “recuaram nas medidas de saúde pública”, o que levou a novos picos.

    Mike Tildesley, especialista em doenças infecciosas da Universidade Warwick e consultor científico do governo do Reino Unido, disse que a distribuição mais lenta de vacinas em muitos países europeus significa que eles enfrentam um risco maior de ver grandes ondas de novos casos. “Infelizmente, até que as nações cheguem perto da imunidade de rebanho, é provável que vejamos ondas de infecção ocorrendo à medida que os países alternam entre as fases de lockdown”, disse ele.

    Grimaldi disse que, embora a vacinação desempenhe um papel importante no combate à pandemia, ela deve vir acompanhada de medidas de segurança, porque quanto mais vírus circula na população, maior é a probabilidade de ele sofrer mais mutações. “O vírus tentará sobreviver apesar da vacina, então lockdowns são realmente a única maneira de impedir a circulação do vírus”, disse.

    A Organização Mundial da Saúde alertou na quinta-feira (18) que as campanhas de vacinação na Europa ainda não estão retardando a transmissão do coronavírus. O continente registrou mais de 1,2 milhão de novas infecções na semana passada e mais de 20 mil pessoas estão morrendo por semana de Covid-19.  

    “O número de pessoas que morrem de Covid-19 na Europa está mais alto agora do que no ano passado, refletindo como o vírus mantém a propagação”, disse o Hans Kluge, diretor regional da OMS na Europa.

    Kluge acrescentou que a pandemia está “avançando para o leste”, com as taxas de infecção e mortes na Europa central, nos Bálcãs e nos países bálticos entre as mais altas do mundo.

    Um novo artigo publicado no jornal The Lancet, na quinta-feira (18), mostrou que as vacinações por si só podem não ser suficientes para conter a epidemia, enfatizando a necessidade de uma flexibilização gradual das restrições, em vez de uma reabertura total imediata.

    Hill, a epidemiologista francesa, acrescentou que os testes também devem permanecer como parte fundamental da estratégia. “Para controlar a epidemia é preciso fazer testes massivos na população para encontrar e isolar os portadores do vírus”, disse ela, apontando para a estimativa de 50% das infecções causadas por indivíduos que não sabem que estão com Covid-19.

    A nova onda de números de casos mais altos não se limita à Europa. O número de casos aumento 10% globalmente na semana passada, para mais de 3 milhões de novos casos notificados, de acordo com o último relatório da OMS.

    O número de novos casos atingiu o pico no início de janeiro, mas depois diminuiu por quatro semanas consecutivas antes de aumentar nas últimas três semanas. O número de pessoas morrendo ainda está diminuindo e, na semana passada, caiu para menos de 60 mil por semana, a primeira vez que isso acontece desde o início de novembro.

    Eliza Mackintosh contribuiu para esta reportagem.

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)