EUA têm nova noite de fúria, frustração e protestos por morte de George Floyd
Manifestantes repetem frase dita pelo homem negro antes de ser assassinado por policial branco: 'Eu não consigo respirar'
Incêndios ocorreram e bombas de gás lacrimogêneo voaram em Minneapolis enquanto objetos eram jogados contra os policiais. Em Seattle, a fumaça encheu o ar quando a polícia, em equipamentos anti-motim, cerrou fileiras em frente ao comércio. E na Filadélfia, bombeiros apagaram chamas e policiais perseguiram um grupo de manifestantes pelas ruas por violar o toque de recolher. As palavras “não consigo respirar” foram pichadas em um prédio não muito longe de onde a fumaça subia.
Saqueadores invadiram lojas na famosa Melrose Avenue, em Los Angeles, deixando as prateleiras vazias e incendiando alguns edifícios.
A Guarda Nacional foi mandada para Washington para ajudar a polícia a lidar com protestos em torno da Casa Branca, disseram autoridades.
Pelo menos 25 cidades impuseram toque de recolher e vários estados ativaram as forças da Guarda Nacional em antecipação a outra noite de protestos, provocada em parte pela morte de Floyd — que estava desarmado e algemado — enquanto estava sob custódia da polícia de Minneapolis.
O ex-policial visto em um vídeo ajoelhando no pescoço de Floyd foi preso e acusado. Os manifestantes estão exigindo a prisão de outros três policiais no local.
Resumo
• Toque de recolher: Um toque de recolher está em andamento em cidades como Atlanta, Filadélfia e Milwaukee até domingo (31) de manhã. Prefeitos em cidades como Denver, Cincinnati, Louisville e Salt Lake City impuseram toques de recolher noturnos que expirarão na segunda-feira (1º) de manhã.
• Policial ferido: um policial da Filadélfia que tentava impedir saqueadores foi atropelado por suspeitos enquanto fugia. Ele está no hospital com um braço quebrado e outros ferimentos. Pelo menos 12 outros policiais ficaram feridos.
• Guarda Nacional: Vários estados e o Distrito de Columbia ativaram ou solicitaram assistência da Guarda Nacional, incluindo Minnesota, Geórgia, Ohio, Colorado e Kentucky.
• Jovem de 21 anos morto: Um jovem foi morto na noite de sexta-feira (29) no centro de Detroit, onde protestos estavam ocorrendo. A polícia havia dito anteriormente que a vítima tinha 19 anos e que não podia confirmar se a vítima fazia parte dos protestos.
Leia também:
Estas são as imagens de George Floyd que você deveria ver
Morte de George Floyd: manifestantes nos EUA contam os motivos de sua revolta
Trump diz que manifestantes veriam ‘cães cruéis’ se invadissem a Casa Branca
Protestos em Minnesota
Autoridades estaduais e locais disseram que a violência em Minneapolis estava sendo alimentada por pessoas de fora.
“Nada que façamos para fazer justiça” para Floyd “importa para qualquer uma das pessoas que estão aqui atirando contra a Guarda Nacional, queimando” lojas e “perturbando a vida civilizada”, disse o governador do Minnesota, Tim Walz, a repórteres no sábado (30).
O governador disse que entende que “a incapacidade dos cidadãos de Minnesota de lidar com a desigualdade” e o racismo foram os catalisadores dos protestos — mas ele disse que estimativas aproximadas indicam que apenas 20% dos manifestantes são do estado.
O prefeito de St. Paul, Melvin Carter, disse que todos os presos em sua cidade na sexta-feira (29) à noite eram de fora do estado.
Uma análise da CNN dos dados do escritório do xerife do condado de Hennepin mostrou que mais de 80% dos presos por distúrbios e outras acusações potencialmente relacionadas a distúrbios nos últimos dois dias eram de Minnesota.
Das 51 pessoas que foram presas entre o meio-dia de quinta-feira (28) e o meio-dia de sábado (30) por distúrbios, assembléias ilegais, assaltos ou danos a propriedades, um total de 43 tinha um endereço listado em Minnesota, segundo os dados.
Os dados cobrem apenas pessoas na prisão, não necessariamente todas as detenções. O condado de Hennepin inclui Minneapolis, mas não St. Paul.
John Harrington, o comissário de segurança pública do estado, disse que afirmações sobre agitadores externos vêm em parte de dados de prisões, bem como informações de folhetos e publicações on-line.
As autoridades não forneceram mais detalhes sobre quem exatamente estava alimentando os distúrbios e de onde eles eram. Harrington disse que esperava divulgar mais informações ainda no sábado (30).
O procurador-geral dos EUA, William Barr, disse que as “vozes de protesto pacífico estão sendo sequestradas por elementos radicais violentos” que perseguem “sua própria agenda separada e violenta”.
Sem citar evidências, o procurador-geral disse que em muitos lugares “parece que a violência é planejada, organizada e conduzida por grupos extremistas de esquerda e anárquica, grupos extremistas de extrema esquerda usando táticas do tipo Antifa, muitos dos quais vieram de fora do estado para promover a violência”.
Uma porta-voz do Departamento de Justiça disse depois que as informações que sustentam a afirmação de Barr vieram da polícia estadual e local.
Vandalismo em Los Angeles e Chicago
Os protestos começaram no sábado em cidades como Chicago, Baltimore, Los Angeles e Washington, onde veículos do Serviço Secreto foram vandalizados com pichações do lado de fora da Casa Branca.
Uma manifestação em Los Angeles levou a confrontos entre a polícia e os manifestantes. Veículos da polícia foram vandalizados em Los Angeles por alguns manifestantes que chutaram as janelas ou pulverizaram os carros com pichações. A polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes, que entoaram “Black Lives Matter” (“Vidas negras importam”) e “George Floyd”.
Imagens aéreas da afiliada da CNN WLS mostraram manifestantes em Chicago vandalizando veículos da polícia. Alguns jogaram garrafas de água contra policiais em equipamento anti-motim, enquanto outros foram vistos levantando barricadas e jogando-as em carros da polícia.
Na Filadélfia, a polícia disse que os protestos na prefeitura e no Museu de Arte começaram pacificamente antes de um grupo começar a “cometer atos criminosos, incluindo vandalismo”.
Em Atlanta, a polícia se preparou para mais protestos e prisões em potencial no sábado à noite. Membros da Guarda Nacional se reuniram no Lenox Square Mall depois que o departamento de polícia disse que seria assistido por cerca de 20 outras agências para monitorar as atividades e “proteger os distritos comerciais vulneráveis ??e os centros de varejo”.
Mortes
Um país que ficou preso por semanas sob restrições do novo coronavírus e sofrendo com a perda de empregos resultante viu multidões se manifestando nas ruas de mais de 30 cidades na sexta-feira (29).
Os manifestantes inicialmente se reuniram pacificamente em alguns lugares, mas a raiva estourou com o passar das horas.
Em um protesto em Detroit, uma pessoa foi morta a tiros.
Em Oakland, Califórnia, um oficial do Serviço de Proteção Federal foi morto e outro ferido na sexta-feira em um tiroteio em um prédio federal durante protestos na cidade, informou a polícia. Detalhes sobre o que levou ao tiroteio não estavam disponíveis imediatamente.
“Está na hora dessa brutalidade policial ter que parar. Não concordo em invadir todos os comércios, mas posso entender a indignação após incidentes repetidos”, disse Mackenzie Slagle sobre os protestos em Oakland. “Sou uma mulher branca, e precisava estar aqui para todos os meus irmãos e irmãs.”
Em Atlanta, os protestos se tornaram violentos quando uma multidão incendiou um carro da polícia e quebrou janelas no CNN Center.
“O que vejo acontecendo nas ruas de Atlanta não é Atlanta. Isso não é um protesto. Isso não está no espírito de Martin Luther King Jr. Isso é um caos”, disse a prefeita de Atlanta, Keisha Lance Bottoms.
A palavra “Killer” (“assassino”) foi pichada em um carro da polícia em Los Angeles, onde os manifestantes bloquearam o trânsito. Pelo menos dois policiais ficaram feridos durante a noite, disse a polícia de Los Angeles.
Mas outras cidades viram um contraste entre manifestantes.
Em Minneapolis, o epicentro das manifestações, alguns manifestantes se ajoelharam sob uma ponte e rezaram enquanto outros atiravam pedras contra policiais que disparavam balas de borracha como resposta.
Minneapolis e St. Paul estavam sob toque de recolher após saques e incêndios criminosos durante os dias de protestos. Mas centenas foram às ruas enquanto a polícia disparava gás lacrimogêneo e manifestantes se escondiam atrás de carros.
Em Springfield, Massachusetts, centenas se reuniram pacificamente.
“Se você pode me dizer algo melhor para eu fazer — se você pode me dizer uma maneira de mudarmos o mundo sem tentar fazer barulho assim, então eu vou sair das ruas”, disse Max Bailey, 22 anos, nos protestos em Denver.
George Floyd
Derek Chauvin, o ex-policial acusado da morte de Floyd, está preso na cadeia do condado de Ramsey, em Saint Paul, disse à CNN um porta-voz do departamento de apreensão criminal do estado.
Ele está enfrentando acusações de homicídio em terceiro grau e homicídio em segundo grau. Sua fiança foi fixada em US$ 500.000 (cerca de R$ 2,6 milhões).
Chauvin, que é branco, e três outros policiais prenderam Floyd, que era negro, e o algemaram na segunda-feira (25) depois que ele supostamente usou uma nota falsificada em uma loja de conveniência. A indignação cresceu depois que um vídeo mostrou Chauvin ajoelhado no pescoço de Floyd.
Chauvin ficou com o joelho no pescoço de Floyd por um total de 8 minutos e 46 segundos, de acordo com uma denúncia criminal apresentada na sexta-feira.
Todos os quatro policiais foram demitidos nesta semana após a morte de Floyd.
Um novo vídeo publicado nas mídias sociais parece mostrar três policiais de Minneapolis – não apenas Chauvin – ajoelhados sobre Floyd durante sua prisão. A CNN não conseguiu localizar a pessoa que gravou a filmagem. O novo vídeo mostra o outro lado do veículo policial de Minneapolis – o lado oposto mostrado no primeiro vídeo.
Uma autópsia preliminar disse que os efeitos combinados de Floyd sendo contido, possíveis intoxicantes em seu sistema e problemas de saúde subjacentes, incluindo doenças cardíacas, contribuíram para sua morte.
Até agora, há conclusões que embasam o estrangulamento como causa da morte, disse o médico legista, mas o correspondente médico da CNN, Dr. Sanjay Gupta, alertou que isso não significa necessariamente que Floyd não morreu de asfixia.
A CNN entrou em contato com o advogado do ex-policial e o sindicato da polícia de Minneapolis para comentar o ocorrido.